sábado, 1 de novembro de 2025

A ILUSÃO DAS MEGAOPERAÇÕES: “TIRO, PORRADA E BOMBA” NÃO RESOLVE O GRAVÍSSIMO PROBLEMA DO CRIME ORGANIZADO

Sábado 1º de novembro de 2025



A ILUSÃO DAS MEGAOPERAÇÕES: “TIRO, PORRADA E BOMBA” NÃO RESOLVE O GRAVÍSSIMO PROBLEMA DO CRIME ORGANIZADO

Aldemario Araujo Castro
Advogado
Mestre em Direito
Procurador da Fazenda Nacional
Brasília, 1º de novembro de 2025
http://www.aldemario.adv.br

A "megaoperação contra o Comando Vermelho" (Operação Contenção), realizada no dia 28 de outubro de 2025, no Rio de Janeiro, foi o principal assunto da semana na imprensa tradicional e nas redes sociais. O evento ganhou projeção internacional pela quantidade de policiais mobilizados (cerca de 2.500) e pelo número de mortos (a última atualização menciona 121).  

O debate em torno do gravíssimo e urgente problema da segurança pública tomou conta da sociedade brasileira. Esse, como qualquer outro tema relevante, foi capturado pela inusitada e redutora polarização em curso entre "a esquerda" e "a direita". É crucial lembrar que a realidade político-social não é, de modo algum, dicotômica.

Não sou especialista em segurança pública. Exatamente por conta dessa condição busquei ler e ouvir os estudiosos do assunto. O bom e velho método científico ensina que resolver um problema requer identificar, com pesquisa e lógica, as suas causas determinantes. Afinal, só atuando nas causas de um problema é viável encaminhar seu equacionamento duradouro. Até a sabedoria popular aponta que para eliminar a erva daninha é preciso arrancar a raiz.

Segundo inúmeros especialistas, o combate ao crime organizado depende de um conjunto de medidas planejadas e executadas de forma consistente. As principais providências mencionadas são:

Dependente e ocupado ideologicamente, o Brasil resiste

 Sábado 1º de novembro de 2025

  • Dependente e ocupado ideologicamente, o Brasil resiste
     
  • Roberto Amaral*

            “Onde o poder público descuidou da integridade física dos mais pobres, o regime democrático não passa de uma fachada de papelão esburacada por tiros, chamuscada por pólvora queimada e borrifada de sangue.”
    — Eugênio Bucci, O Estado de SP, 30/10/2025
     
     
  • Nascemos como mera feitoria, ponto de apoio para naus sedentas de água, remanso de piratas e aventureiros. Na Colônia, sem povo, nosso destino foi traçado como economia primário-exportadora fundada na escravidão de negros e indígenas, a serviço das demandas do consumo europeu, via Lisboa — a metrópole decadente, salvando-se como entreposto de nosso comércio: pau-brasil, açúcar, minérios, algodão, carne, café... — que exportávamos, e de entrada do que necessitávamos, que era quase tudo.

  • Essa economia e esse comércio estabeleciam as bases da aliança do latifúndio e da incipiente burguesia comercial (que incluía os comerciantes, os traficantes de gente e os contrabandistas, de um modo geral) com a Coroa portuguesa e seus primeiros agentes — exatores do fisco, militares e o clero. Eram as raízes de uma estranha nação sem povo e, assim, sem projeto.

  • No Império, exportávamos mão de obra escrava (sob a forma de açúcar, minérios etc.) e tudo importávamos, como reclamava Joaquim Nabuco ainda no Segundo Reinado:
    “[...] o Brasil é uma nação que importa tudo: a carne-seca e o milho do Rio da Prata, o arroz da Índia, o bacalhau da Noruega, o azeite de Portugal, o trigo de Baltimore, a manteiga da França, as velas da Alemanha, os tecidos de Manchester, e tudo o mais, exceto exclusivamente os gêneros de imediata deterioração. A importação representa assim as necessidades materiais da população toda, ao passo que a exportação representa, como já vimos, o trabalho apenas de uma classe.” (Discurso no Senado, 1884)
    Esqueceu-se de dizer que importávamos também ideologia.