Centrão humilha o governo e prepara novas investidas antipopulares no Congresso. Campo lulista reage e anuncia que convocará as ruas. Três textos sobre uma peleja em que ainda falta o mais importante: um novo projeto de país

Nos bastidores, a disputa por 2026 fermentava há muito. Na última quarta-feira (25/6), um Centrão fortalecido colocou-a a nu. O presidente da Câmara, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), ignorou as negociações com o governo, que estavam em curso, e humilhou o Palácio do Planalto. Um decreto legislativo, instrumento político usado raríssimas vezes desde a redemocratização, anulou a elevação de algumas das alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), determinada pelo Executivo dias antes, e desde então execrada pela Faria Lima.
Do ponto de vista material, a consequência é pouca, como se verá adiante. Muito pior foi o impacto simbólico: o Centrão de Motta quis mostrar quem manda em quem. Não bastasse o insólito do decreto legislativo para tal tipo de questão (sua própria constitucionalidade está em disputa), o governo amargou a sensação do abandono. Nos partidos agraciados com ministérios, dois de cada três deputados (63%) votaram contra o Executivo. Fizeram-no por calcular que o governo não terá forças para punir a traição. A debandada, aliás, repetiu um episódio anterior — a derrubada dos vetos do Executivo a medidas que encarecerão as contas de luz —, em que até os parlamentares do PT votaram em massa contra os interesses de Lula. O presidente rolava ladeira abaixo, comemorou a mídia.
Mas desta vez, veio uma resposta — tímida e contraditória, mas ainda assim inédita. Pela primeira vez desde que começou Lula 3, a institucionalidade conservadora que amarra a gestão foi questionada. Dois vídeos (1 2), que circularam velozmente pelas redes, denunciam a ação do Congresso. São assinados pelo PT (o Planalto não se pronunciou sobre eles), mas produzidos com profissionalismo de publicitários. Sua temática vai muito além do IOF: avança pelo terreno conflituoso da disputa fiscal. Lula 3 é apresentado como empenhado em aliviar a carga de impostos brasileira — que se concentra nas costas da maioria e poupa os mais ricos. As elites e o Parlamento resistem a esta correção. A luta de classes é o subtexto claro.