Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

domingo, 31 de março de 2019

Caos também no HRG. Mãe tem bebê, leva 24 horas para poder tomar banho, mas frio. E falta álcool 70 por cento para colocar no umbigo da criança

Domingo, 31 de março de 2019
Linda imagem: mãe e bebê recém-nascido

A imagem é linda, sim. Horrorosa é a situação de caos reinante no HRG, Hospital Regional do Gama. Na imagem, Joseane da Silva. Ela deu a luz a essa linda criança, como linda é toda criança. O parto, cesariana. Até aí tudo parecia ir bem. Mas só até aí.

O bebê nasceu ontem, sábado. A mãe ficou sem tomar banho por 24 horas, e assim mesmo o banho  que tomou hoje, domingo, foi com água fria. Imaginou essa situação para quem acabara de submeter-se a um parto cesariana?

E o bebê? Que sequer conseguiu ser medicado com álcool no umbigo, como é o exigido, para evitar infecção. Álcool 70 por cento não existe para protegê-lo. Que zorra os gestores do DF, da Secretaria de Saúde, e o escambau a quatro estão fazendo? Como pode faltar álcool para aplicação no umbigo de recém-nascido? É o caos, sim. Se é um caos por incompetência ou por projeto, aí eis uma questão. 

Mas o absurdo não é apenas o banho gelado e a falta do álcool 70 por cento.

A mãe Joseane e seu bebê permanecem no Centro Obstétrico do HRG. Sabe por quê, caro leitor? Por não ter leito disponível na Enfermaria, que possa recebê-la e ao seu bebê. E não tem leito em razão da falta de pediatras que possam dar alta a bebês e mães que já se encontram há alguns dias na Enfermaria. Além de penalizar as mães e suas crianças recém-nascidas, que ficam impossibilitadas de serem transferidas do Centro Obstétrico para a Enfermaria, a falta de médicos pediatras impõe um castigo às mãe e filhinhos que não recebem alta,  e que poderiam estar no aconchego de casa, mas está num ambiente de hospital. E mais, quanto custa ao contribuinte-eleitor-sofredor um dia de financiamento de internação desnecessária de uma mãe e filhinho? 

Resumo: Enfermaria cheia de mães e bebês em razão de falta de pediatras para dar alta médica, provoca um Centro Obstétrico superlotado, pois as mães e os recém-nascidos não podem subir para a enfermaria. Centro Obstétrico lotado, provoca superlotação de mães em vias de parir no Pronto Socorro. Essa superlotação do Pronto Socorro força que o HRG despache muitas mães na quase hora de parir. E o pior, elas não são informadas sobre quais hospitais da rede pública tem vaga para elas. E muito menos são transportadas por ambulância. Ficam, então, zanzando de hospital em hospital até encontrar alguma vaga. Ou perdem seus bebês, e suas vidas, nessa via crússis.  

É o caos, doutor governador. E cabe a você resolver este tipo de problemas. E com urgência.

HRSM: Antes era o caos. Hoje, continua

Domingo, 31 de março de 2019
Parafraseando um dos maiores educadores do Brasil, Darcy Ribeiro, "A crise da saúde em Brasília não é uma crise; é um projeto"



O vídeo acima é integrado por vídeos que estão rolando no WhatsApp desde a noite de ontem. Todos eles registrados por pacientes e parentes de pacientes no Hospital Regional de Santa Maria (HRSM), a mais nova invenção de 'Instituto'. Imagens de 30 de março de 2019.

No vídeo, o confusão no HRSM, mais especificamente no Pronto Socorro Infantil, confusão pela demora no atendimento das crianças. Fruto, principalmente, da incompetência ou má fé dos governantes. Responsabilidade em grande parte do ato escandaloso do fechamento e, mais tarde, a desmontagem (em maio de 2018) do Pronto Atendimento Infantil (PAI) e da Pediatria do HRG, Hospital Regional do Gama, sobrecarregando o HRSM. E responsabilidade também, sim, do atual governo que sabendo do caos que impera no PS e Pediatria do HRSM, até o momento nada ou quase nada fez para eliminá-lo.

Ah! Mas o atual governo só tem três meses de exercício.

Ora, em três meses esse tipo de problema tem que ser resolvido, pelo menos, em grande parte. Prometeram reabrir o Pronto Atendimento Infantil e a Pediatria do Hospital do Gama, e nada até agora. Nada de providências neste sentido.

Antes era o caos. Hoje, continua

O Caos
No dia das filmagens registradas pelos pacientes e seus parentes, o plantão no Pronto Socorro Infantil do HRSM vivia o contínuo caos de sempre, ou de quase sempre, principalmente em finais de semana, quando os Centros de Saúde se encontram fechados.

Ao final do plantão de 30 de março, 20 pacientes estavam na observação, quando a estrutura do PS Infantil só suporta até 12. Em razão desse caos que, repita-se, decorre em muito do fechamento do Pronto Atendimento Infantil (PAI) do Hospital Regional do Gama —o que força que pais que levavam suas crianças ao HRG sejam desde o início de 2018 forçadas a levá-las ao HRSM —dois dos consultórios médicos serviram de local de internação dos meninos.

Por falta de vagas na UTI havia, no momento, duas crianças em quadro crítico de saúde internadas no box, enquanto que parentes e servidores torciam para que abrissem essas duas vagas na UTI.

O caos acabava aí? Não! Na sala de medicação mais cinco crianças internadas (sala de medicação, doutores governadores, doutores secretários, não é local de internação). E sabem como esses meninos estavam internados na salda de medicação? Dois dividiam a mesma maca improvisada como leito. Os outros três garotos, internados no colo dos pais.

Isso é o caos ou não é? Claro que é o caos. É o caos, ‘doutô’!

Infelizmente o caos nos hospitais na maioria das vezes é jogado como responsabilidade dos servidores da saúde, o que é uma bruta injustiça ou tremenda sacanagem. Não raro os gestores para encobrirem o fracasso de suas gestões, insinuam, e até dizem, que é o servidor que atrapalha o bom funcionamento do hospital. Já houve até governador e deputado que declarou isso por aí. Ora, ao delegar a um apadrinhado, sim, muitos gestores de hospitais são apadrinhados dos governadores que, muitas vezes também apadrinham apadrinhados de parlamentares etc. etc. etc. É aquele troca-troca, sabe como é, né!

Essa postura de governadores e gestores acaba induzindo muitas vezes o usuário da rede pública de saúde achar que o seu não atendimento se deve ao servidor que está ali na sua frente, mas não ao governador e secretários que estão há quilômetros de distância. O contato pessoal se dá entre usuário e servidor e nunca, ou quase nunca, entre usuário e governador ou entre usuário e secretário de saúde. Esses só aparecem em hospitais normalmente em dia de festa ou de anunciar uma novidade. Novidade que quase sempre não passa de mais um fake News. Ou  aparecem em vésperas de eleições.

Resumindo essa história do caos na rede pública de saúde do DF, e mais especificamente do Pronto Socorro Infantil do HRSM, objeto dos vídeos e do martírio de nossas crianças:

  1. Sem reabrir o Pronto Atendimento Infantil (PAI) do HRG, o caos continuará no HRSM; 
  2. Sem reabrir aquela que foi a melhor e maior pediatria da rede, a do HRG, permanecerá o caos no PS Infantil e na Pediatria do HRSM;
  3. Sem investir em equipamentos, estrutura, eficiência na compra e suprimento de medicamentos, no aumento do quadro de pessoal das UBS, Unidades Básicas de Saúde —chamadas anteriormente de Postos de Saúde —e dos hospitais, os hospitais regionais do Gama e de Santa Maria continuarão enfrentando o caos. O caos que maltrata crianças, e que hoje também as mata, e também o caos que mata mulheres e homens jovens e adultos.
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Leia também:

sexta-feira, 29 de março de 2019

Membros do Ministério Público Federal visitam o Conjunto de Favelas da Maré, no Rio de Janeiro

Sexta, 29 de março de 2019
Do MPF
Atividade da Câmara de Controle Externo da Atividade Policial e Sistema Prisional colheu relatos de moradores e fiscalizou violações de direitos
Foto mostra um grupo de pessoas posando em frente a um muro com arte grafite
Fotos: Adriana Medeiros
Coordenador da 7ª Câmara, o subprocurador-geral da República Domingos Silveira destacou que o objetivo do MPF era ouvir e conhecer a realidade da comunidade. “Fomos conhecer a Maré para entender melhor a dor que a comunidade sente, pisar no mesmo chão. E, a partir disso, atuar de maneira mais incisiva no acompanhamento de investigações de violações de direitos. Nosso papel principal é jogar luz sobre as violações de direitos humanos”, explicou aos moradores. O Conjunto de Favelas da Maré é considerado o maior do Rio Janeiro e abriga mais de 132 mil moradores espalhados em 17 favelas, segundo dados do Censo Maré 2000.Representantes do Ministério Público Federal (MPF) visitaram na quarta-feira (27) o Conjunto de Favelas da Maré. O objetivo da ação – a primeira realizada pelo órgão no Rio de Janeiro – foi conhecer de perto a realidade local, colher relatos dos moradores e fiscalizar violações de direitos humanos pelas quais passam as populações das favelas. A visita foi promovida pela Câmara de Controle Externo da Atividade Policial e Sistema Prisional (7CCR) do MPF. Também integrou a comissão do MPF a Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão no Rio de Janeiro.

Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC) aponta ilegalidades e inconstitucionalidades na atual política nacional de saúde mental

Sexta, 29 de março de 2019
Do MPF
Nota técnica destaca descumprimento da Lei 10.216/2001 e de outros compromissos assumidos pelo Estado brasileiro. Documento foi encaminhado aos ministros da Saúde, da Justiça e da Segurança e Cidadania
Arte retangular, fundo cinza e preto, e a expressão "Direito à saúde mental" escrita em letras amarelas
Imagem: PFDC
Como parte dos esforços para assegurar o direito à saúde mental na perspectiva da dignidade humana, a Procuradoria encaminhou hoje aos ministérios da Saúde, da Justiça e da Segurança Pública e Cidadania Nota Técnica na qual busca explicitar premissas fáticas e jurídicas que apontam para a ilegalidade e a inconstitucionalidade da atual política de saúde mental no Brasil.A Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC), do Ministério Público Federal, se soma à mobilização que movimentos, coletivos e organizações de defesa da saúde promovem nesta sexta-feira (29), com o “Abraço à Luta Antimanicomial”.
Segundo o órgão do Ministério Público Federal, alterações promovidas nessa política nacional violam preceitos e garantias estabelecidos pela Lei da Reforma Psiquiátrica (10.216/2001), pela Lei Brasileira de Inclusão (13.146/2015) e pela Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência – ratificada pelo Brasil em 2008, com status de emenda constitucional.

MPF: denuncia Michel Temer, Moreira Franco e outros investigados de desvio na Eletronuclear. Ex-presidente é denunciado por crimes de corrupção passiva, peculato e lavagem de dinheiro

Sexta, 29 de março de 2019
Antonio Cruz/Agência Brasil

Do MPF
O Ministério Público Federal (MPF) ofereceu nesta sexta-feira (29), duas denúncias contra o ex-presidente da República Michel Temer e o ex-ministro de Minas e Energia Moreira Franco, além de outras sete pessoas pelos crimes de corrupção ativa e passiva, peculato e lavagem de dinheiro, em razão de desvio de recursos de, pelo menos, R$ 18 milhões. Foram denunciados também o Almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, ex-presidente da Eletronuclear, e suas filhas Ana Cristina da Silva Toniolo e Ana Luiza Barbosa da Silva Bolognani, por evasão de divisas e lavagem de dinheiro, em razão da manutenção em contas no exterior de valores que chegam a 15 milhões de francos suíços, o equivalente a quase R$ 60 milhões, advindos de atividades ilícitas. Essas denúncias são decorrência da operação Descontaminação, que levou à prisão do ex-presidente e de outras nove pessoas, no dia 22 de março.

O único assunto que não sai dos holofotes: a Previdência, e os personagens que giram em torno dela

Sexta, 29 de março de 2019
Por
Helio Fernandes*

Paulo Guedes, depois de fugir da Câmara e ser amplamente repudiado pelos senadores: "Não sou de abandonar a luta na primeira derrota. Continuarei a lutar "Primeira derrota?". Posso contar de 1 a 8 sem o menor esforço.

Do presidente Bolsonaro, cada vez mais surpreendente e despreparado: "O destino e o futuro da reforma da Previdência, estão cada vez mais com o Congresso". Ele fala muito nos compromissos de campanha. Mas só começou a dizer, "governarei com o Congresso", a partir de 28 de outubro, quando venceu o segundo turno.

Militar brasileira recebe prêmio da ONU por defender igualdade de gênero

Sexta, 29 de março de 2019
Da
ONU no Brasil
A capitão de corveta brasileira Marcia Andrade Braga, membro da MINUSCA, receberá prêmio de Defensora Militar da Igualdade de Gênero da ONU. Foto: UNIC Rio/Pedro Andrade
A capitão de corveta brasileira Marcia Andrade Braga, membro da Missão de Paz das Nações Unidas na República Centro-Africana (MINUSCA), receberá o prêmio de Defensora Militar da Igualdade de Gênero da ONU na sexta-feira (29), em Nova Iorque.
O prêmio será entregue pelo secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, durante a Conferência Ministerial de Forças de Paz.

Aqui existiu uma selva

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quinta-feira, 28 de março de 2019

Temer vira réu. Justiça Federal aceitou nesta quinta (28/3) denúncia apresentada pelo MPF, e o ex-presidente responderá por corrupção passiva no caso da mala com R$500 mil

Quinta, 28 de março de 2019
(Do excelente jornalista Vítor Hugo, editor do Blog Bahia em Pauta, em artigo de 3/6/2018)

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Do MPF
Denúncia foi aceita nesta quinta-feira (28). O ex-presidente responderá por corrupção passiva no caso da mala com R$500 mil
Arte retangular com imagem ao fundo de um homem observando um documento com uma lupa nas mãos, e a palavra Denúncia escrita em letras amarelas.
Arte: Secom/PGR
A acusação penal aponta o crime de corrupção passiva (art. 317 do Código Penal), pelo recebimento de vantagem indevida, ofertada por Joesley Batista e entregue pelo executivo da J&F Ricardo Saud. Segundo a denúncia ratificada pelo procurador da República Carlos Henrique Martins Lima, os pagamentos poderiam chegar ao patamar de R$ 38 milhões ao longo de 9 meses. A ratificação não incluiu nenhum novo pedido à peça que já havia sido apresentada; não há pedido de prisão, nem outra cautelar qualquer. A Justiça Federal aceitou, nesta quinta-feira (28), a denúncia apresentada pelo Ministério Público Federal contra Michel Temer. A ação relata o caso da mala transportada pelo ex-deputado federal Rodrigo Rocha Loures, contendo o montante de R$ 500 mil negociados com a JBS. Apresentada inicialmente pela Procuradoria-Geral da República em 2017, quando o acusado era presidente da República, a denúncia foi ratificada e enviada à Justiça na última terça-feira (26). A decisão pelo recebimento da peça foi assinada pelo juiz Rodrigo Bentemuller,da 15ª Vara Federal. 

A hora do programa da esquerda

Quinta, 28 de março de 2019
Por
O governo que aí está é um permanente magistério do atraso e da intolerância. Velho de três meses, segue cumprindo o papel de força avançada do novo regime, cuja cabeça, cujo corpo e cujas pernas estão na herança do pior do pior legado de 1964.

Da ditadura e dos ditadores resguarda seus costumes degenerados, como o descaso com os valores da democracia, que compreendem o diálogo e o convívio com a diferença, o respeito aos direitos humanos e o pluralismo ideológico. Não podendo retomar as prisões, as torturas e os assassinatos, embora anunciadamente o desejasse, defende sua prática e canoniza as mais abjetas expressões de seu ofício, cujas imagens certamente ocupam espaço privilegiado no oratório da nova família imperial (mais uma vez tomo de empréstimo expressão grafada por FHC). De outro lado, igualmente perverso, os novos dirigentes surpreendem pelo desapreço às questões nacionais mais iminentes, como a soberania nacional, questões as quais, reconheça-se, eram zeladas pelos paredros dos militares de hoje, que também cuidaram do patrimônio nacional, hoje descuidado.

Embora ainda reclame o monopólio do amor à Pátria, a corporação militar que hegemoniza a nova ordem faz vista grossa e ouvidos de mercador para a incontinente ação de lesa-pátria do governo, ação essa que se consolida a cada dia na medida em que o governo renuncia a qualquer sorte de soberania nacional, de desenvolvimento autônomo e de independência. É, ao fim, o abandono do projeto de uma civilização fundada na produção e distribuição de riqueza, negando ao mundo exemplo de bom êxito do multiculturalismo, para o que temos todas as condições objetivas, como povo e país, nação e Estado.

Esse sonho, que até há pouco parecia próximo de nossos dias, foi descartado para, em seu lugar, uma extrema-direita irresponsável (não obstante poderosíssima, ninguém se iluda) entronizar a velharia de um anticomunismo de indústria, braços dados com um criacionismo comercial e a tentativa de teocratização medieval do moderno Estado laico. Tudo confeitado com abominável subserviência aos poderosos do dia e aos seus interesses, tão bem posta a nu na visita do capitão à Casa Branca. Ali, o simplório portou-se como pateta deslumbrado na Disneylândia. Afinal, era o primeiro encontro com Trump-Mickey, o ídolo de sua infância e de sua maturidade adiada.

Enquanto a corporação militar dá as costas ao país real e mais se unifica num antiesquerdismo e num anticomunismo anistórico, o mercado se enleva com as promessas do grão-mestre da economia, falando em Washington para pretensos investidores: “Temos um presidente que adora a América. Eu também adoro Coca-Cola e Disneylândia. É uma grande oportunidade para investir no Brasil. (…) Vocês podem ir lá ajudar a financiar nossas rodovias, ir atrás de concessões de petróleo e gás. Daqui a três, quatro meses, vamos vender o pré-sal. Todos vão estar lá: chineses, americanos, noruegueses.”

A vergonha que faz ruborizar é saber que nosso Chicago-boy simplesmente repete com palavras atualizadas o acesso de vira-latice do general Juracy Magalhães, ao assumir, no governo do general Castello Branco (o primeiro do mandarinato militar), a embaixada brasileira em Washington:  “O que é bom para os EUA, é bom para o Brasil”.

Quem herda não rouba.

É este o convite à rapina de um butim que compreende as últimas empresas estatais decisivas para nosso desenvolvimento, como a Eletrobrás (prestes a ser privatizada na bacia das almas, como foi a Vale do Rio Doce) e a Petrobras (cujos ativos são jogados ao mar com suas refinarias, terminais, dutos e a lucrativa rede de postos de abastecimento), e a desestruturação do BNDES, de que  dependem  a economia nacional como um todo e as pequenas e médias empresas de forma especial, doutra forma entregues à fome insaciável do sistema bancário privado que aufere os maiores lucros em todo o mundo, enquanto o PIB brasileiro não cresce, a economia rumina em recessão, o desemprego grassa inclemente e o governo fustiga nossos principais parceiros econômicos.

Com nada disso o chamado Mercado se preocupa, pois ele não se preocupa com o país; sua alma é internacional como o capitalismo é apátrida, passeando pelas bolsas de Nova York, Londres e São Paulo, mais ou menos nessa ordem.

O ultra-liberalismo apresenta-se como o abre-te Sésamo do Olimpo dos investidores, nossa passagem para o céu da economia internacional; a reforma da Previdência é o cavalo de batalha do “mercado”, que, diz, sem ela, isto é, sem diminuir a proteção dos desempregados e da população mais velha, será “o fim”, o caos, o inferno sem purgatório. Essa proposta de um neoliberalismo exacerbado que se resume em um privatismo selvagem, é o ponto de união da extrema direita brasileira no poder – a saber, aquele ajuntamento de parecidos que compreende, desde a famiglia e suas adjacências à média da corporação militar – e o Mercado todo poderoso, com suas ramificações e suas dependências ao capital internacional. A extrema-direita, nesses três meses, já disse a que veio, e o que virá não será surpresa para quem quer que seja.

Trata-se de uma direita tosca e brucutu, descomprometida com qualquer valor humanista. E em nosso caso, além de antissocial e antipovo, é antinacional, anti-independência e antiprogresso. Como todas, porém, é maniqueísta, violenta e amante do ódio, deformações de caráter que diária e permanentemente destila por todos os meios, como as redes sociais e os púlpitos e palcos eletrônicos de uma evangelização fundamentalista e reacionária.

Essa direita fez-se conhecer, na teoria e na prática.

A oposição liberal já se faz valer, e a aplaudimos. Está na frente da defesa da ordem constitucional seguidamente agredida pelos novos catões da República, que, a partir de suas casamatas – seja em Curitiba, seja em São Paulo, seja em Brasília ou no Rio de Janeiro – desrespeitam o direito e agridem as garantias individuais em nome do combate à corrupção, cuja necessária repressão, que tem o apoio de todos (quem é contra?), não justifica o emprego da ilegalidade e do abuso de poder, porque o crime não é instrumento de combate ao crime.

E quando identificaremos o discurso diferenciado da esquerda?

Ainda estamos à espera de uma oposição firmemente ideológica, isto é, pela esquerda, e, ainda mais precisamente, de caráter socialista, em condições de opor à atual realidade o ideal de justiça social, e, assim, didaticamente, oferecer ao país elementos de avaliação dos dois projetos, para o que precisa pôr nas ruas sua visão de país e, dela consequente, seu programa de governo alternativo ao que aí está, sem perder de vista, evidentemente, a necessidade – que resulta de seu presente papel histórico – de contribuir para a unidade das forças democráticas e progressistas.

Em resumo: quando os socialistas retomarão a defesa de seus fundamentos, abandonados por enganos táticos desde 2002?

A dignidade saiu de férias O astrólogo da Virgínia qualifica de idiota o general vice-presidente; no dia seguinte, o capitão presidente homenageia o boquirroto e deselegante guru da família, e tudo fica como dantes no quartel de Abranches. O capitão, em Brasília, em meio a café da manhã com jornalistas, anuncia a remoção, dentre outros, do embaixador brasileiro nos EUA, acusado de incompetência, por não haver sabido construir como boa a justamente péssima imagem do presidente prestes a viajar; o embaixador, além de não deixar o posto, de imediato, cede sua residência oficial para que um outro diplomata, esse conhecido como o embaixador dos Bolsonaro nos EUA, organize um convescote oferecido ao capitão e aos expoentes da direita americana. No encontro oficial com Trump, o capitão leva a tiracolo o filho deputado e deixa de fora seu ministro das Relações Exteriores, suposto condutor da nossa diplomacia.

E a pergunta que não pode calar: afinal, quem mandou matar Marielle?

Roberto Amaral
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Roberto Amaral é escritor e ex-ministro de Ciência e Tecnologia

Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) divulga Nota de Repúdio ao PL 1.321/19

Quinta, 28 de março de 2019
MCCE: Nota de Repúdio ao PL 1.321/19
03 - Nota Repúdio 28MAR2019_.jpg
Lamentavelmente a Câmara dos Deputados aprovou o  PL 1.321/19 de autoria do Dep. Elmar Nascimento (Dem/BA) que foi apresentado no dia 12/03/2019. Tramitação muito rápida com substitutivo do relator Dep. Paulinho da Força (SD/SP). Este projeto prevê a autonomia dos partidos em manter as famosas Comissões Provisórias dos Partidos, dando liberdade para que Presidentes de diretórios nacionais e estaduais possam trocar estes dirigentes municipais ou estaduais a seu bel prazer, permitindo um ambiente de pouca ou nenhuma democracia, além de estender este prazo para até 8 anos.

Movimento Resistência convoca para comemoração dos 25 anos do CEM 10 da Ceilândia. Há quatro anos a escola está desativada

Quinta, 28 de março de 2019

Movimento Resistência, integrado por alunos e ex-alunos do CEM 10 da Ceilândia, juntamente com a comunidade, professores, alunos e ex-alunos vão comemorar no próximo sábado (30/3) os 25 anos da escola. Haverá uma mobilização de limpeza ao redor da unidade escolar. Durante a tarde, atrações. 

A convocação é para todos juntos lutarem pela reforma e reabertura do combativo e importantíssimo Centro de Ensino Médio, que há quatro anos está desativado. 

"Vamos comemorar os 25 anos da nossa escola"!!!

Escola de luta e muita resistência!

Se o CEM 10 faz história? Olha só as postagens dos links abaixo:


Ocupação da Regional de Ensino de Ceilândia. Alunos se reunem hoje (10/11) com o vice-governador e o secretário de Educação

E a luta continua, camarada! Os russos do CCCP enfrentam o Desportivo Gaminha pela Taça Cidade 2019 neste sábado (30/3)

Quinta, 28 de março de 2019
O Campo do Alvorada fica no Parque Ecológico do Gama, lado da Quadra 1 do Setor Norte.

Polícia prende fazendeiro suspeito de ser mandante do assassinato de ativista no Pará

Quinta, 28 de março de 2019
Da


Fernando Silva teria encomendado morte de Dilma Ferreira da Silva, coordenadora do Movimento dos Atingidos por Barragens, por interesse nas terras dela. Mais cinco suspeitos de serem autores do crime são procurados

Casa de Dilma, com presença da polícia e de membros do MAB | Foto: Pedrosa Neto/Amazônia Real

A Polícia Civil do Pará prendeu, na tarde desta terça-feira (26), o fazendeiro Fernando Ferreira Rosa Filho, 43 anos, apontado como suspeito de ser mandante do assassinato da coordenadora do MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens), Dilma Ferreira da Silva, 45 anos, do marido dela, Claudionor Costa da Silva, 42, e do vizinho do casal, Milton Lopes, 38. Segundo as investigações, o fazendeiro teria encomendado também as mortes de três funcionários. A motivação para o assassinato da ativista seria o interesse do fazendeiro pelas terras do assentamento Salvador Allende, onde Dilma morava desde 2012, depois que recebeu um lote regularizado pelo governo federal.

O comovente tributo de Apollo Natali à "Angélica da Praça de Março"

Quinta, 28 de março de 2019
Do Blogue Náufrago da Utopia

"Quem é essa mulher
que canta sempre este estribilho:
Só queria embalar meu filho
que mora na escuridão do mar?"
 (Chico Buarque)

Mais um março chegou e todo o março que chega reaviva o de 1964, de opressivas lembranças.

Até Chico Buarque lançar a canção “Angélica”, poucos conheciam a história que a memória deste março traz à tona, da mãe brasileira que teve seu filho torturado e morto pela ditadura de 64 e seu corpo jogado no mar.

Polícia combate exploração sexual contra crianças na internet. Operação é feita em Brasília e em 26 estados

Quinta, 28 de março de 2019
Por Paula Laboissière-Fernanda Cruz - Repórteres da Agência Brasil
Polícias civis de 26 estados e do Distrito Federal deflagraram hoje (28) a Operação Luz na Infância 4. Segundo o Ministério da Justiça e Segurança Pública, a meta é identificar autores de crimes de abuso e exploração sexual contra crianças e adolescentes praticados na internet.

CLDF debate os 55 anos do golpe militar de 1964 e os reflexos negativos na democracia brasileira e na sociedade do DF até os dias atuais

Quinta, 28 de março de 2019



Governador exonera diretor do Hospital Regional de Santa Maria; servidores comemoram

Quinta, 28 de março de 2019
Não é de hoje que servidores do HRSM, Hospital Regional de Santa Maria, estão descontentes com Igor Silveira Dourado, que teve nesta quinta (28/3) publicada no Diário Oficial do DF sua exoneração do cargo. A coisa piorou, alguns alegam, quando da mudança de governador.

Igor, cabo eleitoral  muito atuante na campanha de Rollemberg, deixou muito servidor com a pulga atrás da orelha depois que Ibaneis assumiu o GDF. Alegam, os servidores, que até mesmo gerentes de serviços daquele hospital ficaram sem condições de melhor atuarem. E os serviços teriam piorado.

A torcida dos servidores agora é que seja nomeado alguém que possa realmente dirigir bem o HRSM. Se errar na pontaria, Ibaneis estará colocando mais uma atadura em seu governo. Se errar demais, engessando.

Veja a seguir imagem de parte da página 10 do DODF desta quinta (28/3) em que foi publicada a exoneração do diretor do HRSM.


Publicado na PÁGINA 10 Diário Oficial do Distrito Federal Nº 59, quinta-feira, 28 de março de 2019





Clique na imagem para melhor visualizá-la


Imagem do dia 20 de julho de 2017, dia da gracinha sem graça de Humberto Fonseca, na época secretário de Saúde do DF. E também da sua declaração de que os moradores do Gama e os membros do Conselho Regional de Saúde do Gama eram paneleiros, pois tinham no dia anterior (19/7/2017) participado de um "panelaço geral". O 'panelaço', segundo o fracassado secretário de saúde, teria sido a reunião em que comunidade e conselheiros de saúde do Gama decidiram que o Centro Obstétrico do Hospital Regional do Gama não poderia ser fechado. Fechamento que, por mais estranho e suspeito fosse, era objetivo do secretário da Saúde e do governo Rollemberg. Até hoje não foi fechado, mas que precisa de ser mil vezes melhorada, precisa. E piorou muito na 'administração Fonseca'. Para mais detalhes sobre a gracinha sem graça e a acusação de panelaço do secretário de saúde do governo anterior, leia: 

De panelaços, paneleiros, fechamento do Centro Obstétrico do HRG, e da gracinha sem graça do secretário de saúde na Região de Santa Maria e Gama

Depois de ser considerado o anfitrião da República recebendo os chefes dos 3 poderes, como poderoso coordenador da Previdência, agora perdeu tudo

Quinta, 28 de março de 2019
Por
Helio Fernandes*

Deu um almoço na bela mansão, presentes apenas deputados, alguns queriam somente  conhecer a mansão. Rodrigo Maia falou, não devia ter falado. além do mais precisa ser interpretado. A fala, textual: “Vou BLINDAR a reforma da Previdência". BLINDAR pode ser contra ou a favor. Bolsonaro, apesar de despreparado, incompetente e impopular, AINDA detém o Poder.

É inconstitucional norma decorrente de reedição de medida provisória, decide STF

Quarta, 27 de março de 2019
Decisão unânime acata pedido da PGR e de outros três autores que questionam Medida Provisória editada pelo ex-presidente Michel Temer

Do MPF
Por unanimidade, o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) declarou, nesta quarta-feira (27), a inconstitucionalidade das normas decorrentes de reedição de Medida Provisória (MP). Ao analisar a MP 782/2017, editada pelo ex-presidente Michel Temer sobre a organização dos órgãos da Presidência da República e dos ministérios, e convertida na Lei 15.302/2017, os ministros da Corte consideraram que o ato ofendeu a Constituição Federal, por repetir em grande parte o conteúdo de uma MP publicada na mesma sessão legislativa. A decisão foi proferida em julgamento conjunto, atendendo aos pedidos feitos na Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 5.717, proposta pela Procuradoria-Geral da República (PGR); e nas ADIs 5.709, da Rede Sustentabilidade; ADI 5.727, do Partido dos Trabalhadores; e ADI 5.716, do Partido Socialismo e Liberdade.

quarta-feira, 27 de março de 2019

Direitos do cidadão: MPF recomenda a comandos militares em todo o Brasil que se abstenham de comemorações ao golpe de Estado de 1964

Quarta, 27 de março de 2019
Do MPF
Orientação foi enviada nesta quarta-feira (27), em ação coordenada que reúne Procuradorias da República em pelo menos 19 estados
Arte retangular com fundo em tons de telha e as palavras '31 de março - recomendações', escritas em letras brancas
Arte: Secom/PGR
Brigadas, grupamentos, comandos especiais, academias militares das forças armadas e outras unidades que integram Comandos Militares em todo o país receberam nesta quarta-feira (27) recomendação do Ministério Público Federal para que se abstenham de promover ou tomar parte de qualquer manifestação pública, em ambiente militar ou fardado, em comemoração ou homenagem ao período de exceção instalado a partir do golpe militar de 31 de março de 1964.

Lei de iniciativa do distrital Agaciel Maia (PR) e que cria incentivos fiscais para contratação de maiores de 50 anos é inconstitucional

Quarta, 27 de março de 2019
Do TJDF
O Conselho Especial do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios declarou a inconstitucionalidade dos artigos 1º e 2º da Lei Distrital nº 5.975/17, que institui incentivos fiscais para empresas do Distrito Federal que empreguem, pelo menos, 20% de trabalhadores com idade igual ou superior a 50 anos. O julgamento ocorreu nessa terça-feira, 26/3.

Bolsonaro desmente as afirmações da campanha, desafia e compromete Rodrigo Maia e Guedes, dois sustentáculos da aprovação do projeto, tido como revolucionário

Quarta, 27 de março de 2019
Por
Helio Fernandes*
Ele acrescentou, "do meu governo", a unanimidade dos que têm opinião, identificam como DESGOVERNO. Comete erros e equívocos, insanáveis, irrefutáveis, irrevogáveis. Irresponsavelmente, responsabiliza o ministro da Economia, e o presidente da Câmara. Guedes responde com um apelo, "me deixe trabalhar e negociar com quem interessa".

Balanço da quartelada ignara e dos 21 anos que vivemos agonicamente

Quarta, 27 de março de 2019
Do
Blogue Náufrago da Utopia
Celso Lungaretti

"Morte vela, sentinela sou
do corpo desse meu irmão 
que já se foi.
Revejo nesta hora 
tudo que aprendi, 
memória não morrerá!"
(Fernando Brant e Milton
Nascimento, "Sentinela")

Quando um governo paralisado por suas contradições, que não conseguiu até agora ensejar uma mínima esperança de resolução dos grandes problemas nacionais e começa a derreter em tempo recorde, aposta no acirramento das tensões políticas como forma de desviar a atenção da opinião pública da sua incapacidade de entregar aquilo que prometeu na campanha eleitoral mais mentirosa da História do Brasil, justifica-se plenamente uma recapitulação do que foi a usurpação do poder levada a cabo no dia da mentira de 1964 e a nada branda ditadura subsequente, ainda hoje louvada por seus carrascos impunes, reverenciada por suas repulsivas viúvas e defendida pelos cuervos  que o totalitarismo criou.

Como frisou a bela canção de Milton Nascimento e Fernando Brant, cabe a nós, sobreviventes do pesadelo, o papel de sentinelas do corpo e do sacrifício dos nossos irmãos que já se foram, assegurando-nos de que a memória não morra – mas, pelo contrário, sirva de vacina contra novos surtos da infestação virulenta do despotismo.


Nessa efeméride negativa, o primeiro ponto a se destacar é que a quartelada de 1964 foi o coroamento de uma longa série de articulações e tentativas golpistas, nada tendo de espontânea nem sendo decorrente de situações conjunturais; estas foram apenas pretextos, não causa.

Há controvérsias sobre se a articulação da UDN com setores das Forças Armadas para derrubar o presidente Getúlio em 1954 desembocaria numa ditadura, caso o suicídio e a carta de Vargas não tivessem virado o jogo. Mas, é incontestável que a ultra-direita vinha há muito tempo tentando usurpar o poder.

Em novembro/1955, uma conspiração de políticos udenistas e militares extremistas tentou contestar o triunfo eleitoral de Juscelino Kubitscheck, mas foi derrotada graças, principalmente, à posição legalista que Teixeira Lott, o ministro da Guerra, assumiu. Um dos golpistas presos: o então tenente-coronel Golbery do Couto e Silva, que viria a ser o formulador da doutrina de Segurança Nacional e eminência parda do ditador Geisel.

Em fevereiro de 1956, duas semanas após a posse de JK, os militares já se insubordinavam contra o governo constitucional, na revolta de Jacareacanga.

Os oficiais da FAB repetiram a dose em outubro de 1959, com a também fracassada revolta de Aragarças.


E, em agosto de 1961, quando da renúncia de Jânio Quadros, as Forças Armadas vetaram a posse do vice-presidente João Goulart e iniciaram, juntamente com os conspiradores civis, a constituição de um governo ilegítimo, só voltando atrás diante da resistência do governador Leonel Brizola (RS) e do apoio por ele recebido do comandante do III Exército, gerando a ameaça de uma guerra civil.

Apesar das bravatas de Luiz Carlos Prestes e dos chamados grupos dos 11 brizolistas, inexistia em 1964 uma possibilidade real de revolução socialista. Não houve o alegado "contragolpe preventivo", mas, pura e simplesmente, um golpe para usurpação do poder, meticulosamente tramado e executado com apoio dos EUA, como hoje está mais do que comprovado. Derrubou-se um governo democraticamente constituído, fechou-se o Congresso Nacional, cassaram-se mandatos legítimos, extinguiram-se entidades da sociedade civil, prenderam-se e barbarizaram-se cidadãos.

A esquerda só voltou para valer às ruas em 1968, mas as manifestações de massa foram respondidas com o uso cada vez mais brutal da força, por parte de instâncias da ditadura e dos efetivos paramilitares que atuavam sem freios de nenhuma espécie, promovendo atentados e intimidações.


Até que, com a edição do dantesco AI-5 (que fez do Legislativo e do Judiciário Poderes-fantoches do Executivo, suprimindo os mais elementares direitos dos cidadãos), em dezembro de 1968, a resistência pacífica se tornou inviável. Foi quando a vanguarda armada, insignificante até então, ascendeu ao primeiro plano, acolhendo os militantes que antes se dedicavam aos movimentos de massa.

As organizações guerrilheiras conseguiram surpreender a ditadura no 1º semestre de 1969, mas já no 2º semestre as Forças Armadas começaram a levar vantagem no plano militar, introduzindo novos métodos repressivos e maximizando a prática da tortura, a partir de lições recebidas de oficiais estadunidenses.

Em 1970 os militares assumiram a dianteira também no plano político, aproveitando o boom econômico e a euforia da conquista do tricampeonato mundial de futebol, que lhes trouxeram o apoio da classe média.

Nos anos seguintes, com a guerrilha nos estertores, as Forças Armadas partiram para o extermínio premeditado dos militantes, que, mesmo quando capturados com vida, eram friamente executados.


A Casa da Morte de Petrópolis (RJ) e o assassinato sistemático dos combatentes do Araguaia estão entre as páginas mais vergonhosas da História brasileira – daí a obstinação dos carrascos envergonhados em darem sumiço nos restos mortais de suas vítimas, acrescentando ao genocídio a ocultação de cadáveres.

O milagre brasileiro, fruto da reorganização econômica empreendida pelos ministros Roberto Campos e Octávio Gouveia de Bulhões, bem como de uma enxurrada de investimentos estadunidenses em 1970 (quando aqui entraram tantos dólares quanto nos 10 anos anteriores somados), teve vida curta e em 1974 a maré já virou, ficando muitas contas para as gerações seguintes pagarem.


As ciências, as artes e o pensamento eram cerceados por meio de censura, perseguições policiais e administrativas, pressões políticas e econômicas, bem como dos atentados e espancamentos praticados pelos grupos paramilitares consentidos pela ditadura.


Corrupção, havia tanta quanto agora, mas a imprensa era impedida de noticiar o que acontecia, p. ex., nos projetos faraônicos como a Transamazônica, Ferrovia do Aço, Itaipu e Paulipetro (muitos dos quais malograram).

A arrogância e impunidade com que agiam as forças de segurança causou muitas vítimas inocentes, como o motorista baleado em 1969 apenas por estar passando em alta velocidade diante de um quartel, na madrugada paulistana (o comandante da unidade ainda elogiou o recruta assassino, por ter cumprido fielmente as ordens recebidas!).

Longe de garantirem a segurança da população, os integrantes dos efetivos policiais chegavam até a acumpliciar-se com traficantes, executando seus rivais a pretexto de justiçar bandidos (Esquadrões da Morte).


O aparato repressivo criado para combater a guerrilha propiciava a seus integrantes uma situação privilegiadíssima. Não só recebiam de empresários direitistas vultosas recompensas por cada subversivo preso ou morto, como se apossavam de tudo que encontravam de valor com os resistentes. Acostumaram-se a um padrão de vida muito superior ao que sua remuneração normal lhes proporcionaria.

Daí terem resistido encarniçadamente à disposição do ditador Geisel, de desmontar essa engrenagem de terrorismo de estado, no momento em que ela se tornou desnecessária. Mataram pessoas inofensivas como Vladimir Herzog, promoveram atentados contra pessoas e instituições (inclusive o do Riocentro, que, se não tivesse falhado, provocaria um morticínio em larga escala) e chegaram a conspirar contra o próprio Geisel, que foi obrigado a destituir sucessivamente o comandante do II Exército e o ministro do Exército.

A ditadura terminou melancolicamente em 1985, com a economia marcando passo e os cidadãos fartos do autoritarismo sufocante. Seu último espasmo foi frustrar a vontade popular, negando aos brasileiros o direito de elegerem livremente o presidente da República, ao conseguir evitar a aprovação da emenda das diretas-já.

Foi responsável pela morte dos 434 opositores relacionados pela Comissão Nacional da Verdade,   pela prisão arbitrária de uns 50 mil brasileiros e pela tortura de, no mínimo, 20 mil cidadãos, afora ocorrências praticamente impossíveis de quantificar, como os abusos sexuais.

[Há quem sustente consistentemente que outros 600 camponeses, sindicalistas, líderes rurais e religiosos, padres, advogados e ambientalistas tenham sido assassinados por motivos políticos nos grotões do país entre 1961 e 1988. 


E respeitados antropólogos denunciam a ocorrência de um verdadeiro genocídio indígena nos anos de chumbo.]

Balanço que pulveriza a falácia de uma suposta brandura...  (por Celso Lungaretti)