Atuantes na defesa dos direitos de crianças e adolescentes, a Promotoria de Justiça de Defesa da Infância e da Juventude (PJIJ) e o Núcleo de Enfrentamento à Violência e à Exploração Sexual contra a Criança e o Adolescente (Nevesca) fomentam políticas públicas e fortalecem a rede de combate à violações
Neste dia 13 de julho, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) completa 35 anos de existência. Criado em 1990, o documento é um marco para a proteção de crianças e adolescentes no Brasil, além de reconhecer a importância da participação destes jovens na vida pública, garantindo que expressem suas opiniões e sejam ouvidos. O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) celebra a data como símbolo da luta pela infância e adolescência dignas.
Movimentos semelhantes são conduzidos pela oposição em países como Cuba e Venezuela
Brasil de Fato — Caravas (Venezuela)
10 de julho de 2025
Lorenzo Santiago
Em meio ao julgamento sobre a tentativa de golpe de Estado no Brasil — processo que tem entre os réus o ex-presidente Jair Bolsonaro —, seu filho, o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), deixou o cargo no país natal e viajou aos Estados Unidos para pedir sanções contra o país e contra o ministro do STF, Alexandre de Moraes. A iniciativa revela a pouca criatividade da família e reproduz moldes já adotados por setores da extrema direita em países como Cuba e Venezuela, que já sofrem bloqueios dos EUA.
Na Venezuela, o movimento já dura 10 anos e começou ainda durante a gestão de Barack Obama. Em 2015, o democrata classificou a Venezuela como uma “ameaça incomum para a segurança interna dos Estados Unidos” a partir de uma ordem executiva. A medida veio em resposta a protestos violentos realizados um ano antes e promovidos pela oposição venezuelana sob as lideranças do fundador do partido opositor Vontade Popular, Leopoldo López, e da ex-deputada ultraliberal María Corina Machado. Naquele momento, a Casa Branca sancionou os primeiros funcionários do governo chavista.
Brasil de Fato — São Paulo (SP) 09. jul. 2025 Redação
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) respondeu ao anúncio de Donald Trump de que os EUA passarão a impor a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros. Em nota divulgada na noite desta quarta-feira (9), Lula reforçou a defesa da soberania nacional, rechaçou qualquer “ingerência ou ameaça” sobre o processo contra Jair Bolsonaro (PL) e outros acusados de golpe de Estado e disse que as tarifas serão respondidas “à luz da lei brasileira de Reciprocidade Econômica”.
“O Brasil é um país soberano com instituições independentes que não aceitará ser tutelado por ninguém”, diz o texto, postado no site do Planalto e nas redes sociais de Lula.
Eduardo Bolsonaro (PL), deputado federal licenciado que se considera “auto exilado” desde que foi para os Estados Unidos em fevereiro, pode ter dado um “tiro no pé” da própria família e da extrema direita brasileira ao ser um dos articuladores da tarifa de 50% sobre produtos brasileiros anunciada pelo presidente dos EUA, Donald Trump. A análise é do filósofo José Antônio Moroni e das cientistas políticas Mayra Goulart e Carolina Botelho, ouvidos pelo Brasil de Fato.
Na última quarta-feira (9) Trump anunciou que a imposição tarifária sobre os produtos brasileiros exportados aos EUA deve entrar em vigor em 1º de agosto. O mandatário estadunidense justificou a medida como uma reação ao que considera uma perseguição política e uma “vergonha internacional” do Supremo Tribunal Federal (STF) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Durante 23 dias, os professores da rede pública do Distrito Federal estiveram em greve. A paralisação começou no dia 2 de junho e terminou no dia 25 com a aprovação da proposta do governo pela assembleia geral do Sindicato dos Professores do DF (Sinpro-DF).
A decisão, no entanto, foi criticada por parte da categoria. Em entrevista ao Brasil de Fato DF, Márcia Gilda, diretora do sindicato, avaliou que o acordo final veio “de uma forma mais concreta, mais amarrada e com sinalização”, diferentemente da proposta inicial e sinalizou uma “vitória política” da categoria.
Entre as principais reivindicações do movimento paredista, destacavam-se o reajuste salarial de 19,8%, nomeação de 3 mil aprovados no concurso e nova tabela de titulação a partir de janeiro de 2026 (10% para especialização, 20% para mestrado e 30% para doutorado).
O acordo firmado não atendeu ao pedido de reajuste, mas contemplou as outras demandas. O Governo do Distrito Federal (GDF) também se propôs a realizar o pagamento integral dos cortes de ponto via folha suplementar, prorrogar o concurso vigente e liberar novo concurso em 2026. Além de atualizar as gratificações e estabelecer uma mesa de negociação permanente.
Joaquim Rodrigues apresenta obra com relatos sobre a Cerimônia Kuarup e a imersão vivida por ele entre povos do Xingu.
Por Andressa Oliveira
Com linguagem acessível e envolvente, a obra “Kuarup — Uma experiência de vida no Alto Xingu” conduz o leitor por uma imersão na cultura indígena, revelando não apenas o simbolismo do Kuarup, mas também aspectos do cotidiano, da espiritualidade e da sabedoria desses povos. Mais do que uma narrativa de viagem, o livro propõe um olhar respeitoso e profundo sobre a diversidade cultural brasileira.
Medida foi motivada pelos impactos urbanísticos e ambientais registrados na edição de 2024 do “Parque Estações”, realizado na Zona do Lago
A Promotoria de Justiça de Defesa da Ordem Urbanística (Prourb) recomendou à Secretaria de Esporte e Lazer (SEL) e à administração do Parque da Cidade Sarah Kubitschek que se abstenham de autorizar a realização do evento “Parque Estações”, ou outros similares na Zona do Lago do parque. A medida foi acatada pela pasta, que revogou a anuência que havia sido concedida.
A iniciativa da Prourb foi motivada pela possibilidade de ocorrer, em 2025, evento semelhante ao realizado entre 31 de julho e 25 de agosto de 2024. Na edição passada, relatórios técnicos da Assessoria Técnica do MPDFT apontaram danos à vegetação e ao solo em razão da instalação de estruturas pesadas sobre áreas verdes, além de interferências na fauna silvestre, ferindo o princípio da precaução ambiental.
O Simplesmente isto: é preciso enfrentar o adversário
“Há uma luta de classes, sim. Mas é a minha classe, a classe rica, que está fazendo a guerra, e estamos ganhando".
— Warren Buffett, magnata estadunidense.
Roberto Amaral*
O governo Lula, quase tardiamente, ensaia algo que pode sugerir o início de uma reforma fiscal, cutucando os superlucros dos super-ricos. São o 1% que nos governa — na democracia e nas ditaduras, nos governos de direita e nos governos de centro-esquerda. É o grande capital, que controla a vida econômica e, por consequência, a vida política, nela incluídos os espaços do poder republicano.
Embora tímida, a proposta do governo pôs em pé de guerra a Faria Lima e suas adjacências — a saber, o Congresso e a grande imprensa (aparelho ideológico da classe dominante), os dois territórios privilegiados onde atuam seus agentes e procuradores.
À margem dos poderes clássicos da República, a política econômico-financeira do país foi posta sob o controle de burocratas onipotentes, nada obstante despojados de delegação da soberania popular; abrigam-se sob o teto largo e alto do Banco Central — a um tempo santuário e bunker do rentismo que asfixia a economia nacional.
Os banqueiros e os agiotas tout court gritam contra um “aumento de impostos” por ser, e, assim, acuam um governo perigosamente à míngua de sustentação parlamentar, e sem ânimo de dirigir-se à população que preside, embora dependa de seu apoio para, senão governar, para sobreviver, o mínimo a que pode aspirar.
O Congresso, senhor de baraço e cutelo, revoga as alterações que, carreando recursos para o erário, amenizariam a crise fiscal que assusta mortos e vivos. O governo, cumprindo seu dever de recorrer ao STF em face da aberrante inconstitucionalidade do ato revogador do decreto que alterava um IOF concebido para proteger as grandes fortunas, é acusado de promover confronto com um Legislativo que o confronta permanentemente, na tentativa de paralisá-lo — repetindo a tática que preparou o impeachment de Dilma Rousseff.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, publicou nesta segunda-feira (7) em seu perfil da Truth Social, rede social da qual é dono, uma mensagem chamando o processo em curso no Brasil contra núcleos da tentativa de golpe de Estado do 8 de janeiro de “caça às bruxas”. “O único julgamento que deveria estar acontecendo é o julgamento pelos eleitores do Brasil – chamado eleição”, escreveu o mandatário.
Para ele, o país está “fazendo uma coisa terrível” no tratamento dado a Bolsonaro. “Ele não é culpado de nada, exceto de ter lutado pelo povo”, diz Trump.
A mensagem chega uma semana após a mais esvaziada manifestação de extrema direita em São Paulo, que contou com 12 mil pessoas e demonstrou um fraco Bolsonaro passando o bastão aos seus sucessores. A imagem contrasta a mensagem de Trump, que chama o ex-presidente de “líder forte, que verdadeiramente amava seu país”. O presidente estadunidense diz ainda que Bolsonaro, que está inelegível até 2030, lidera as pesquisas para a eleição presidencial de 2026, o que não é verdade.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaçou, no domingo (6), impor uma tarifa adicional de 10% a “qualquer país que se alinhar às políticas antiamericanas do Brics”. A declaração foi feita por meio da rede social Truth Social, sem detalhar quais países serão afetados nem especificar o que entende por “políticas antiamericanas”.
Apesar da retórica agressiva, analistas apontam que a nova ofensiva pode acabar fortalecendo o papel do bloco como alternativa ao modelo neoliberal liderado por Washington.
Para Marta Fernández, pesquisadora do Brics Policy Center, a ameaça de Trump pode ter efeito contrário ao pretendido. “Ironicamente, reforça o papel do Brics como ator relevante do sistema internacional. Agora ele não mira um país específico, mas um bloco inteiro”, analisa.
Em meio à reunião de cúpula do Brics, que ocorre no Rio de Janeiro, o presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump, ameaçou taxas extras a produtos de países que se alinhem ao grupo, formado por 11 nações, entre elas, Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. A publicação foi feita em seu perfil na rede Truth Social.
"Qualquer país que se alinhe às políticas antiamericanas do Brics será taxado com tarifa extra de 10%. Não haverá exceções a essa política. Obrigado pela atenção em relação a essa questão", escreveu Trump.
No domingo (6), a declaração de líderes do Brics criticou medidas protecionistas adotadas no comércio global.
Ministros da Fazenda e presidentes de bancos centrais dos países do Brics aprovaram neste sábado (5), no Rio de Janeiro (RJ), três declarações conjuntas com propostas para transformar a governança econômica global. As medidas vão desde a defesa de uma reforma no Fundo Monetário Internacional (FMI) até o apoio à criação de uma convenção tributária global sob a Organização das Nações Unidas (ONU), além do fortalecimento da cooperação entre países do Sul Global.
Os documentos foram apresentados durante a 1ª Reunião de Ministros de Finanças e Presidentes de Bancos Centrais do Brics, parte da agenda oficial da cúpula do bloco que segue até segunda-feira (7), sob presidência do Brasil.
O grupo Bagagem Cia de Bonecos celebra 42 anos de atuação no teatro de bonecos em Brasília. Como parte dessa comemoração por sua trajetória contínua, está em curso o projeto “Manutenção de Grupos”, com apresentações de teatro de bonecos, com trabalhos do repertório do grupo, em 10 cidades do Distrito Federal.
No próximo domingo, dia 06/07/2025, apresentaremos o espetáculo "Circo Mulambo", na praça da Quadra 11/15, Setor Oeste do Gama, às 17h.
A entrada é gratuita.
O espetáculo Circo Mulambo presta uma singela homenagem aos pequenos circos tradicionais, conhecidos como “de pano de roda”, que percorrem o interior do país levando encanto e diversão às comunidades.
Uma trupe mambembe encontra seu público e decide parar para realizar uma apresentação circense. Da empanada, surgem todos os números, executados por bonecos. No entanto, a apresentação é interrompida pela chegada de um “fiscal”, que se opõe à realização do espetáculo e a confusão está armada.
Em cartaz desde 1994, o espetáculo destaca-se pela diversidade de técnicas de manipulação de bonecos, como marrote, vara, luva, marionetes, manipulação direta e técnicas mistas, proporcionando ao público uma experiência lúdica, dinâmica e envolvente.
Bruno de Freitas Moura — repórter da Agência Brasil Rio de Janeiro
Um pouco mais de oito meses depois de o Museu de Arte Moderna (MAM) receber os holofotes do mundo para a reunião do G20 (grupo formado por 19 países e as uniões Europeia e Africana), o Rio de Janeiro ocupa novamente cenário de destaque no palco das relações internacionais. No domingo (6) e na segunda-feira (7), será realizada a reunião de Cúpula do Brics, sob a presidência brasileira.
Fórum das maiores economias fora do G7, que reúne as potências alinhadas aos Estados Unidos, o grupo é apontado como uma voz do Sul Global. Entenda mais sobre esse evento internacional com a série de perguntas e respostas abaixo, preparadas pela Agência Brasil.
No dia 29 de maio, a Enciclopédia Povos Indígenas no Brasil foi destaque durante a mesa-redonda Enciclopédias digitais em ação, na Universidade de São Paulo. O encontro marcou os 10 anos da Enciclopédia de Antropologia da USP e reuniu iniciativas que constroem pontes entre tecnologia e conhecimento, como as enciclopédias Bérose, Wikipedia e Itaú Cultural e abordou temas como autoria coletiva, uso de inteligência artificial e produção de conteúdos acessíveis.
Primeira versão do site Povos Indígenas no Brasil que foi ao ar em 1997. Fonte: Acervo ISA
Durante o evento a antropóloga Tatiane Klein, editora da Enciclopédia do ISA, relembrou que entre o fim da ditadura e a redemocratização havia pouca informação disponível sobre os povos indígenas e seus territórios. Para preencher essa lacuna, Fany e Beto Ricardo organizaram uma rede de colaboradores. Esse material, reunido pelo Centro Ecumênico de Documentação e Informação (Cedi), deu origem a publicações que apresentavam os povos indígenas por áreas culturais e depois continuadas pelo ISA com a série Povos Indígenas no Brasil. Atualmente contendo mais de 220 verbetes, com autoria indígena e não indígena, a Enciclopédia Povos Indígenas no Brasil mantém viva essa rede de colaboração iniciada há mais de 40 anos. “De certa forma, esse projeto de pesquisa tão longevo articula a academia, a sociedade civil, organizações indígenas, movimento indígena e hoje pesquisadores indígenas que estão na universidade, num grande objetivo de ‘colocar os povos indígenas no mapa’”, afirmou Tatiane Klein, citando a frase cunhada por Beto Ricardo nos anos 1980.
Em 2027 o site da Enciclopédia Povos Indígenas no Brasil completará 30 anos. Com seu apoio, podemos continuar escrevendo essa história.
Entre 2024 e 2025, acordos viabilizados pelas Promotorias de Justiça do Tribunal do Júri do Gama também reverteram mais de R$ 120 mil a vítimas e instituições beneficentes
Do MPDFT
Com uma frota que ultrapassa os dois milhões de veículos, o Distrito Federal tem praticamente um carro por habitante, realidade que impõe atenção redobrada ao comportamento no trânsito. No Gama, onde mais da metade da população possui veículo, a embriaguez ao volante segue como uma das principais causas dos crimes de trânsito. Entre 2024 e 2025, as Promotorias de Justiça do Tribunal do Júri do Gama firmaram 75 acordos de não persecução penal (ANPP) com motoristas envolvidos em sinistros.
A atuação das promotorias nos casos de trânsito busca garantir responsabilização penal e cível dos infratores, bem como compensação às vítimas. No total, os órgãos da Promotoria atuaram em 110 processos de crimes de trânsito no período, entre denúncias oferecidas e acordos firmados.
O grupo Bagagem Cia de Bonecos celebra 42 anos de atuação no teatro de bonecos em Brasília. Como parte dessa comemoração por sua trajetória contínua, está em curso o projeto “Manutenção de Grupos”, com apresentações de teatro de bonecos, com trabalhos do repertório do grupo, em 10 cidades do Distrito Federal.
No próximo domingo, dia 06/07/2025, apresentaremos o espetáculo "Circo Mulambo", na praça da Quadra 11/15, Setor Oeste do Gama, às 17h.
A entrada é gratuita.
O espetáculo Circo Mulambo presta uma singela homenagem aos pequenos circos tradicionais, conhecidos como “de pano de roda”, que percorrem o interior do país levando encanto e diversão às comunidades.
Uma trupe mambembe encontra seu público e decide parar para realizar uma apresentação circense. Da empanada, surgem todos os números, executados por bonecos. No entanto, a apresentação é interrompida pela chegada de um “fiscal”, que se opõe à realização do espetáculo e a confusão está armada.
Em cartaz desde 1994, o espetáculo destaca-se pela diversidade de técnicas de manipulação de bonecos, como marrote, vara, luva, marionetes, manipulação direta e técnicas mistas, proporcionando ao público uma experiência lúdica, dinâmica e envolvente.
“Nós, brasileiros, somos um povo em ser, impedido de sê-lo.” – Darcy Ribeiro, O povo brasileiro.
Por Roberto Amaral *
A ordem político-institucional herdada da reconstitucionalização de 1988 foi posta em recesso com o impeachment de Dilma Rousseff. Morria ali a Nova República anunciada por Ulysses Guimarães e Tancredo Neves. O golpe de Estado de 2016 se consolidou com o regime-tampão do vice perjuro, ponte para a ascensão do neofascismo, pela vez primeira no Brasil a escalar o poder pela via eleitoral. O presidencialismo espatifa-se como bola de cristal caída ao chão e, com seus estilhaços, a direita concerta o quebra-cabeça como novo Leviatã: poderoso mostrengo que devora as instituições republicanas e impõe a ingovernabilidade como estágio preparatório do caos, indispensável para a revogação do que ainda podemos chamar de “ordem democrática” – frágil, nada obstante sua permanente conciliação com o grande capital, no que se esmera o atual Congresso, implacável no desmonte do que quer que seja que possa sugerir um Estado de bem-estar social. Esta é a circunstância que nos domina: um Poder Executivo acuado, impedido de exercer o dever da governança; um Legislativo que não arrecada, mas é senhor dos gastos; uma democracia representativa que prescinde da soberania popular. Um Executivo se esvaindo numa sangria de poder que parece não ter fim, prisioneiro de um Congresso abusivamente reacionário, na tocaia contra qualquer sinal de avanço civilizatório. Em seu nome fala e age sua escória, chorume poderosíssimo que não cessa de crescer em número de militantes, em ousadia e em chantagens contra o governo. O quadro funesto se completa com uma Faria Lima descolada do país e de seu povo: seus interesses deitam raízes em Wall Street.
Centrão humilha o governo e prepara novas investidas antipopulares no Congresso. Campo lulista reage e anuncia que convocará as ruas. Três textos sobre uma peleja em que ainda falta o mais importante: um novo projeto de país
Mais: Uma versão em vídeo deste texto pode ser encontrada noOPtv
Nos bastidores, a disputa por 2026 fermentava há muito. Na última quarta-feira (25/6), um Centrão fortalecido colocou-a a nu. O presidente da Câmara, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), ignorou as negociações com o governo, que estavam em curso, e humilhou o Palácio do Planalto. Um decreto legislativo, instrumento político usado raríssimas vezes desde a redemocratização, anulou a elevação de algumas das alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), determinada pelo Executivo dias antes, e desde então execrada pela Faria Lima.
Do ponto de vista material, a consequência é pouca, como se verá adiante. Muito pior foi o impacto simbólico: o Centrão de Motta quis mostrar quem manda em quem. Não bastasse o insólito do decreto legislativo para tal tipo de questão (sua própria constitucionalidade está em disputa), o governo amargou a sensação do abandono. Nos partidos agraciados com ministérios, dois de cada três deputados (63%) votaram contra o Executivo. Fizeram-no por calcular que o governo não terá forças para punir a traição. A debandada, aliás, repetiu um episódio anterior — a derrubada dos vetos do Executivo a medidas que encarecerão as contas de luz —, em que até os parlamentares do PT votaram em massa contra os interesses de Lula. O presidente rolava ladeira abaixo, comemorou a mídia.
Mas desta vez, veio uma resposta — tímida e contraditória, mas ainda assim inédita. Pela primeira vez desde que começou Lula 3, a institucionalidade conservadora que amarra a gestão foi questionada. Dois vídeos (12), que circularam velozmente pelas redes, denunciam a ação do Congresso. São assinados pelo PT (o Planalto não se pronunciou sobre eles), mas produzidos com profissionalismo de publicitários. Sua temática vai muito além do IOF: avança pelo terreno conflituoso da disputa fiscal. Lula 3 é apresentado como empenhado em aliviar a carga de impostos brasileira — que se concentra nas costas da maioria e poupa os mais ricos. As elites e o Parlamento resistem a esta correção. A luta de classes é o subtexto claro.