Domingo, 21 de julho de 2024
Militar da reserva seria a fonte sobre o caso das 'rachadinhas' de Flávio Bolsonaro
Redação
Brasil de Fato | São Paulo (SP) | 21 de julho de 2024
Jair Bolsonaro queria informações da Receita Federal que ajudassem na defesa de seu filho mais velho
Um militar da reserva do Exército que teve pelo menos seis encontros privados com o ex-presidente Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto e no Alvorada em 2019 é apontado como a fonte na Receita Federal mencionada pelo ex-presidente durante uma reunião relacionada ao caso das "rachadinhas" envolvendo o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), segundo apuração publicada neste domingo (21) pelo jornal Folha de S.Paulo.
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), na última segunda-feira (15), tornou público o áudio de 25 agosto de 2020, no qual Bolsonaro discutiu o uso de recursos do governo para tentar invalidar a investigação contra seu filho mais velho, Flávio Bolsonaro.
Durante a reunião, o ex-presidente se comprometeu a conversar com os líderes da Receita Federal e do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), visando buscar evidências que pudessem demonstrar que o senador teve suas informações acessadas ilegalmente no início da investigação.
Nesta reunião estavam Jair Bolsonaro, o chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, o então diretor-geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), Alexandre Ramagem, e duas advogadas de Flávio, Luciana Pires e Juliana Bierrenbach.
Durante o encontro, o ex-presidente disse aos demais participantes que seu informante na Receita Federal seria "um oficial do Exército", e sugere que deveria ter escolhido um agente do serviço secreto russo. Na reunião, Bolsonaro afirmou ter esquecido o nome da sua fonte. Heleno, então, menciona "Magela".
Segundo a Folha, na verdade, a referência era a “Marsiglia", sobrenome do coronel reformado do Exército Carlos Alberto Pereira Leonel Marsiglia, que se encontrou com Bolsonaro em seis ocasiões, sendo cinco delas em privado, durante o mandato do ex-presidente. As reuniões entre os dois ocorreram nas duas residências da Presidência da República, os palácios do Planalto e no Alvorada.
A primeira reunião ocorreu em 28 de março de 2019, e o último registro foi em 23 de maio do ano seguinte. A única reunião de Bolsonaro com Marsiglia na qual a agenda aponta a presença de outros participantes foi em 22 de maio de 2021, um dia antes do último encontro, são eles: os ministros da Casa Civil na época, Onyx Lorenzoni, e da Economia, Paulo Guedes.
Marsiglia, que se aposentou do Exército por volta de 2013 e não ocupava cargo público na ocasião, é irmão de um auditor da Receita Federal do Rio de Janeiro. Este auditor, com outros colegas, estava envolvido em uma disputa interna no órgão, e o caso estava sendo usado pela defesa de Flávio para tentar comprovar a teoria de acesso ilegal aos dados fiscais.
Em outubro de 2020, Flávio Bolsonaro foi acusado formalmente pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPE-RJ) de chefiar um esquema de recolhimento do salário de funcionários de seu gabinete, quando era deputado estadual, no que ficou conhecido como o caso das "rachadinhas".
Segundo o MPE-RJ, ele usava o recurso para lavar dinheiro. O senador foi denunciado por organização criminosa, peculato e apropriação indébita. As acusações foram parar no STF, pois o parlamentar possui foro privilegiado.
A Folha informa ter procurado a defesa de Bolsonaro e do coronel Carlos Marsiglia, mas diz não ter tido resposta até a publicação da reportagem.
Edição: Martina Medina