Fórum Acadêmico do Sul Global lançou estudo do Tricontinental sobre 80 anos da vitória na Guerra Mundial Antifascista
Xangai (China)
Mauro Ramos
Historiador e jornalista indiano, Vijay Prashad, durante a abertura do
Fórum Acadêmico do Sul Global - Jiang Chenxing
O diretor-executivo do Instituto Tricontinental de Pesquisa Social, Vijay Prashad, fez o discurso de abertura do Fórum Acadêmico do Sul Global (FASG) 2025 nesta quinta-feira (13) em Xangai, China. Em sua apresentação “Duas mentiras e uma enorme verdade”, expôs narrativas falsas propagadas pelo Ocidente sobre a Guerra Mundial Anti-fascista, chamada de Segunda Guerra Mundial, e defendeu que foram a União Soviética e os comunistas chineses os verdadeiros responsáveis pela derrota do nazifascismo.
No final, Prashad apresentou o novo estudo do Instituto Tricontinental “Os 80 anos da vitória na Guerra Mundial Antifascista“.
O FASG, com o tema “A Vitória da Guerra Mundial Antifascista e a Ordem Internacional do Pós-Guerra: Passado e Futuro”, reúne 258 participantes de 31 países da Ásia, América Latina e África para discutir o legado do conflito e suas implicações para a ordem internacional contemporânea.
Prashad iniciou sua apresentação narrando o cerco de Leningrado em agosto de 1942, quando o maestro Karl Eliasberg reuniu 15 sobreviventes da Orquestra da Rádio de Leningrado para apresentar a Sétima Sinfonia de Dmitri Shostakovich. A cidade estava sitiada há mais de 300 dias e a população passava fome e penúrias. A apresentação foi transmitida por alto-falantes para as trincheiras nazistas como ato de resistência cultural.
“No arquivo soviético, há uma frase escrita por um oficial de inteligência: ‘Até o inimigo ouviu em silêncio. Eles sabiam que era nossa vitória sobre o desespero'”, citou Prashad. Um prisioneiro alemão teria dito posteriormente que a sinfonia era “um fantasma da cidade que não conseguimos matar”. O cerco ainda duraria mais 536 dias.
O pesquisador destacou ainda que o Exército Vermelho soviético destruiu 80% da Wehrmacht alemã durante sua ofensiva pela Europa Oriental. Quando as forças ocidentais chegaram perto das fronteiras alemãs, o regime nazista já havia entrado em colapso. Foi o Exército Vermelho que libertou a maioria das pessoas nos campos de concentração. A razão pela qual a União Soviética conseguiu reunir todas as suas forças contra os nazistas foi que, em seu flanco oriental, os comunistas e patriotas chineses defenderam a URSS do ataque dos militaristas japoneses, lutando com armas inadequadas, mas infligindo enormes danos às forças japonesas, prendendo 60% do exército japonês.
A primeira mentira, segundo Prashad, é que os Aliados Ocidentais se opuseram aos fascistas desde o início e foram eles que venceram a guerra. Na realidade, os governos ocidentais enviaram exércitos para destruir a Revolução de Outubro desde 1917, com tropas dos Estados Unidos, Reino Unido, França, Romênia, Estônia, Grécia, Austrália, Canadá, Japão e Itália invadindo a jovem república soviética.
O primeiro-ministro britânico Winston Churchill declarou em 1919 que os aliados deveriam destruir “a imundície do bolchevismo”. Nas décadas de 1930 e 1940, os governos ocidentais praticavam o “apaziguamento”, permitindo que Hitler fortalecesse seu arsenal militar desde que o focasse contra a URSS. Quando Hitler invadiu a URSS em 1941, os países ocidentais esperaram três anos antes de abrir a segunda frente em 1944. A segunda mentira é que foram os sacrifícios estadunidenses na guerra do Pacífico e as bombas nucleares que derrotaram o militarismo japonês.
A Segunda Guerra Mundial começou na China em 1937, dois anos antes da invasão alemã à Áustria. Os comunistas e patriotas chineses mantiveram 60% das tropas japonesas ocupadas, impedindo-as de atacar a retaguarda soviética. O diretor do Tricontinental destacou a Ofensiva dos Cem Regimentos em 1940, quando 400 mil soldados comunistas liderados por Zhu De destruíram 900 quilômetros de linhas férreas da infraestrutura japonesa. “Os japoneses já haviam sido substancialmente derrotados e estavam preparados para se render” quando os Estados Unidos lançaram as bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki em agosto de 1945. Segundo Prashad, os bombardeios foram “inteiramente uma demonstração do poder dos Estados Unidos” e um aviso aos comunistas asiáticos.
A grande verdade, conforme Prashad, é que “foram o Exército Vermelho soviético e os comunistas e patriotas chineses que realmente derrotaram a Alemanha nazista e o Japão militarista”. Segundo cálculos apresentados no estudo, entre 50 milhões e 100 milhões de pessoas sacrificaram suas vidas nessa luta.
Vijay Prashad também denunciou a falsa distinção entre fascismo e colonialismo, afirmando que após a derrota do fascismo, holandeses, franceses e britânicos, com aliados estadunidenses, retornaram para reivindicar suas colônias na Indonésia, Indochina e Malásia com extrema violência nas décadas de 1940 e 1950. “Isso revela que os colonialistas ocidentais não eram de forma alguma antifascistas. Seu verdadeiro inimigo era a possibilidade de que os trabalhadores e camponeses optassem por um futuro socialista”, declarou. Ele concluiu: “Não se pode ser antifascista e ser a favor do colonialismo ou do capitalismo. Isso é simplesmente impossível. São formações antitéticas”.

Instituto Tricontinental lança estudo sobre 80º aniversário da vitória antifascista
Ao final de sua apresentação, Prashad lançou o documento “Os 80 anos da vitória na Guerra Mundial Antifascista“, elaborado por Neville Roy Singham, presidente do conselho consultivo do Instituto Tricontinental. O estudo contou com suporte da equipe de pesquisa do instituto, incluindo investigação multifacetada e análise estatística exaustiva. Uma versão anterior foi publicada no portal chinês Guancha.
O Fórum Acadêmico do Sul Global teve início em maio de 2023 com o “Fórum Internacional de Comunicação do Sul Global” em Xangai, a primeira conferência da China dedicada ao Sul Global. O encontro reuniu mais de 100 participantes de 20 países e resultou no “Consenso Acadêmico de Xangai”, propondo uma nova ordem mundial de informação. Em 2024, a iniciativa foi ampliada para o GSAF, focado na construção de uma rede de conhecimento para e pelo Sul Global, reunindo mais de 250 acadêmicos de 27 países.

