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(Millôr Fernandes)

quinta-feira, 31 de maio de 2018

Greve dos caminhoneiros

Quinta, 31 de maio de 2018
Este texto foi publicado originalmente em 28 de maio de 2018, no blog do autor


Por
Paulo Metri

Conselheiro do Clube de Engenharia e vice-presidente do CREA-RJ

Os caminhoneiros, corretamente, não querem ser a “variável de ajuste” das decisões erradas tomadas no setor do petróleo. Ou seja, eles não querem ter rendimentos baixos para que os investidores da Petrobras tenham bons dividendos, nem tampouco para que a Petrobras seja vista como muito atrativa no futuro quando chegar o momento em que os entreguistas neoliberais do atual governo irão querer privatizá-la.
Essa questão é relacionada também com a dúvida da Petrobras ser uma empresa que visa atingir interesses sociais ou se ela deve se comportar como uma empresa privada. Neste momento, algumas pessoas alegam que ela, agindo como empresa privada, irá dar maior lucro ao Tesouro e evitará o seu uso político. Contudo, considerando que a população brasileira tem baixo índice de politização, a mídia, que deveria promover esta politização, está do lado do capital e contra a sociedade e, finalmente, as agências reguladoras, que poderiam forçar o atendimento dos interesses da sociedade, são dominadas por aqueles que deveriam ser regulados, concluímos que só uma empresa estatal tem condições de ser uma verdadeira empresa de interesse social. E qual maior uso político pode existir do que o de forçá-la a entregar patrimônios a preços vis para concorrentes?

A questão tem, também, como pano de fundo se subsídios devem existir em uma economia. Mais uma vez, alguns desavisados, grandes repetidores de colocações ouvidas nas televisões, dizem que os subsídios desorganizam a economia e que só governos populistas com objetivo de obterem votos, os acolhem. Eles não reconhecem que, muitas vezes, o preço de um produto essencial está muito acima da capacidade de pagamento de um pobre e não subsidiá-lo significará o não consumo do bem pelo pobre.

Assim ocorre com o gás de botijão. O preço atual exclui uma fatia expressiva de antigos consumidores, que precisam do bem para cocção de alimentos. A consequência da elevação desmedida do seu preço é que antigos consumidores começam a derrubar árvores para substitui-lo por lenha. É verdade que, em um país com um salário médio dos trabalhadores digno e que não haja má distribuição de renda, os subsídios podem não existir. Entretanto, o Brasil tem uma péssima distribuição de renda, além de ter miseráveis. Desta forma, o subsídio ao gás de botijão nada mais é que uma contribuição para a melhoria salarial dos mais pobres, que são os grandes consumidores do botijão.

O diesel deve ser subsidiado também por ser um derivado cujo consumo influência basicamente todos os preços da economia, além do impacto direto no transporte urbano de passageiros. Assim, seria muito desejável ter na nossa economia a vantagem competitiva em relação a outras economias do diesel ser mais barato que o seu preço internacional, além da população poder consumir bens e serviços com preços em conta. Isso poderia ser feito com certeza se o Pré-Sal não estivesse sendo doado para petrolíferas estrangeiras e se a Petrobras tivesse sido preservada como uma empresa integrada, de forma a maximizar seu ganho. Desta forma, ela arcaria, sem dificuldade alguma, com este subsídio de grande impacto positivo para a população.

Como o governo Temer está em um processo açodado de entrega das nossas riquezas, fica difícil haver uma solução para a greve. Há necessidade de se criar um Fundo abastecido por tributos pagos por nós para compensar qualquer cala-boca prometido aos caminhoneiros. Estes fazem greve por interesse próprio, mas expõem didaticamente os malefícios do modelo e do governo entreguista. Espero que o povo compreenda, agora, o verdadeiro roubo em execução no Brasil, vá para rua reivindicando a decapitação dos ladrões instalados no poder e a mudança do modelo, eleja quem irá verdadeiramente protegê-lo e apoie o referendo revogatório dos roubos travestidos em operações regulares para a sociedade receber de volta suas propriedades, hoje em mão de receptadores.