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(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

LEMBRANÇAS DOS 50 ANOS DA HISTÓRICA PASSEATA DOS 100 MIL, SENSACIONAL PROTESTO DE RUA CONTRA O TERRORISTA AI-5

Segunda, 9 de dezembro de 2019
Por
Helio Fernandes

Na conturbada, tumultuada, amaldiçoada repressão dos 130 anos da "República que não é a dos nossos sonhos", (royalties para o notável Saldanha Marinho, grande líder da geração dos "propagandistas da República", logo ultrapassado pelos dois Marechais, Deodoro e Floriano) nada se compara em matéria de covardia, terrorismo e crueldade com o famigerado AI-5.

Insuperável em violência e mortal abuso de autoridade, ele é exaltado por personagens que não existiam naquela época, mas ameaçam e tentam intimidar a nossa sempre incipiente e frágil democracia. Logo depois do AI-5, um grupo de ativistas e combatentes contra a ditadura, começou a articular um majestoso protesto de rua contra esses generais assassinos e torturadores.
No dia 12 dezembro de 1968 a Comissão de Constituição e Justiça, julgaria Márcio Moreira Alves e deveria cassar o seu mandato. Eu estava lá, (já cassado desde 1966, fui com meu grande amigo e notável personagem, Rafael  de Almeida Magalhães) cruzava a todo momento, com militares de vários escalões. 

Absolvido o bravo Márcio, eles queriam o AI-5 naquela mesma noite. Telefonaram para Costa e Silva, que estava no Rio, assistindo bangue-bangue com 3 amigos. Deu ordem ao Chefe da Casa Militar, Jayme Portela, "não atenderia nenhum telefonema". Ao mesmo tempo, convocava reunião do ministério para o dia seguinte, quando o AI-5 nasceria ao amanhecer e seria  divulgado ao anoitecer.

Assim que uma cadeia de rádio e TV comunicou o fato, começaram as conversas e contatos para o protesto, que entraria para a História identificado como a "PASSEATA DOS 100 MIL". Muita gente participou da organização e realização, centenas,  mas vou centralizar tudo, apenas num líder, Vladimir Palmeira. 

Foi o maior líder estudantil que se transformou numa referência nacional. Em liberdade mas altamente perseguido, protegia a todos. E era protegido pelos padres  desprendidos e participantes do Colégio São Vicente. (Onde estudava um dos meus filhos). 

No dia da passeata, corríamos desabaladamente pela Avenida Rio Branco. Perseguidos por policiais armadíssimos, mas que usavam bala de gás, diretamente nos olhos dos manifestantes.

(Os mais experientes ensinavam: "Faz xixxi num lenço ou num pedaço de pano, passa na vista, tudo desaparece. Maravilha,  chegamos onde Palmeira nos esperava com uma multidão, e deu a maior demonstração de liderança).

As centenas de policiais continuavam nos perseguindo, estávamos na iminência de uma tragédia. Vladimir percebeu tudo em segundos, retumbou: "TODOS NO CHÃO".

Inacreditável, imediatamente todos se deitaram, os policiais ficaram perplexos e assustados. Não podiam massacrar milhares, todos se salvaram, momentaneamente.

Vladimir  Palmeira continuou sua trajetória de liderança, injustiçadíssimo.

PS- Os políticos tinham medo, que Palmeira, no restabelecimento da democracia, disputasse cargo, seria invencível.

PS2- Foi perseguido pelos que deviam reverenciá-lo, banido e sabotado.

A SAGA DE MÁRCIO E HERMANO

Dois bravos  jornalistas, que se elegeram deputados para aumentar o poder de fogo contra os generais torturadores. Pertenciam (com este repórter) ao verdadeiro MDB, existia o MDB adesista, que apoiava a ditadura dos generais  torturadores. Chagas Freitas foi "governador" entre aspas  duas vezes. De 1970 a 74, de 1978 a 1982. Eu fui cassado 3 dias antes da eleição.

Hoje, rapidamente, o drama ou tragédia dos dois jornalistas-deputados-combatentes.

Márcio levou quase 2 meses para sair do Brasil, fecharam todas as saídas, se descuidaram um instante, Márcio  conseguiu ir para o exterior.

Hermano, (notável personagem como Marcito) cumpriu a mesma trajetória, perseguido  por todos os lados. Foi salvo pela grandeza, coragem, desprendimento e espírito publico do mestre e bravo Afonso Arinos de Mello Franco. (Fomos grandes amigos, mantivemos conversas inacabacadas) .

Afonso Arinos fez o seguinte. Grande amigo do embaixador do México, telefonou para ele. "Me convida para almoçar?". Logo aceito, botou Hermano na mala do carro, todas as embaixadas estavam vigiadas, seu carro não podia ser parado e vistoriado, tinha placa oficial da Republica, Afonso Arinos era senador.

PS- Hermano recebeu o asilo assinado pelo próprio embaixador.

PS2- Casado com uma portuguesa, foi para Portugal, não pôde voltar ao Brasil, a ditadura dos generais torturadores durou muito tempo.
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Fonte: Blog Oficial do Jornal da Tribuna da Imprensa. Matéria pode ser republicada citado o autor.