Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Os trabalhadores não têm partido e o partido não tem trabalhadores

Quarta, 27 de maio de 2015
Da Tribuna da Internet
Carlos Chagas
Pouco antes de morrer, aos 90 anos, Luiz Carlos Prestes declarou, num programa de televisão, que os comunistas não tinham partido, e que o partido não tinha comunistas. Respondia a uma das maiores iniquidades políticas jamais praticadas entre nós, sua expulsão do PCB por um grupo de anões que a História sepultou.

O tempo passou mas as lições do Cavaleiro da Esperança permanecem. O PT ainda não rejeitou seu líder maior, mas a conclusão surge clara: os trabalhadores não tem mais partido, e o partido não tem trabalhadores.


Dá pena verificar os companheiros, com raras exceções, votando as medidas provisórias que restringem direitos trabalhistas e previdenciários, do seguro desemprego ao abono salarial e às pensões das viúvas, aplaudindo o aumento de impostos e calando-se diante do lucro dos bancos. Como o Lula permanece em silêncio, como fez durante algum tempo o velho Prestes, haverá que esperar o inevitável. Não demora que os anões de hoje venham a afastar o torneiro-mecânico de ontem. Dilma está para Giocondo Dias assim como Aloízio Mercadante para Roberto Freire.

LINHA AUXILIAR
A gente pergunta como foi possível o grupelho dito comunista renegar seu líder maior e até, mais tarde, mudar de sigla, tornando-se um invertebrado PPS, linha auxiliar do neoliberalismo. Mas não é que a História se repete como farsa? O Partido dos Trabalhadores perdeu os trabalhadores e deixou de ser partido. Companheiros em profusão aderiram às benesses do poder, alguns até mergulhando na corrupção desenfreada. Há anos que não se tem noticia de protestarem contra a farsa do salário mínimo. Esqueceram a importância de conquistar os meios de produção. Tornando-se primeiro em clubes recreativos, os sindicatos transformaram-se em atalho para a burguesia. Suas bancadas no Congresso apoiam a terceirização e não se lembram mais da taxação das grandes fortunas. Acomodaram-se à sombra das mordomias. Preferem ser consultores em vez de trabalhadores.

O desfecho parece próximo. Fica a dúvida: quem representará os oprimidos? Foi o Lula, um dia,  mas fora uns poucos sabujos de agora, falta-lhe o suporte que também faltou a Luiz Carlos Prestes. Náufragos solitários, restou a um, como ainda resta ao outro, cultivar o inconformismo e acreditar na mudança. Recomeçar.