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(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 23 de abril de 2018

Pré candidato ao Senado, Chico Sant’Anna fala sobre a qualidade de vida no DF

Segunda, 23 de abril de 2018
Do Site 61 Brasília

Por Catarina Barroso
61 Brasília entrevistou o jornalista Chico Sant’Anna, que já disputou eleições em 2010 e 2014 e, atualmente, é pré candidato do Psol para o Senado Federal. Chico Sant’Anna avalia as necessidades da população do DF e fala das áreas onde deseja atuar para melhorar a qualidade de vida das pessoas.

61 Brasília (61): Como jornalista qual sua avaliação do atual cenário político do DF?
Chico Sant’Anna (CS): A realidade social candanga é grave. Chegamos ao nível recorde de 300 mil desempregados e um exército de pessoas que no subemprego vivem de bico. Os equipamentos públicos desabam em qualidade e quantidade de serviços como desabou o viaduto do Eixão.
Nossa realidade não é muito diferente da nacional. Temos um governo que finda seu mandato com elevada rejeição popular e um cenário eleitoral que, na maioria dos casos, é mais do mesmo. Muitos dos candidatos, que ai estão, estiveram no cenário político nos últimos 15, 20 anos e nada resolveram. Mudaram apenas de times ou de camisas, mas continuaram a fazer gols contra. 
Brasília pede novos nomes, novas propostas e principalmente, pessoas que não tragam em seus currículos inquéritos policiais, processos e condenações.

61: Suas proposições são voltadas para qual área de atuação? Por que investir nessas áreas?

CS: Inicialmente, temos que dar um novo foco ao papel dos Senadores. Em nossas visitas, é comum ouvir do cidadão que os parlamentares federais depois de eleitos esquecem-se de Brasília. Ficam de costas para a realidade local. Atravessamos uma crise sem precedentes na área da saúde, da educação, da segurança, do desemprego. O sistema de transporte público é ineficaz e, diante de tudo isso, não vemos a bancada federal tomar iniciativas resolutivas. No máximo ficam de picuinhas uns com os outros. O Senador do DF não pode esquecer que ele representa Brasília e que tem o papel de fiscalizar a ação do Executivo.
Temos compromissos com a preservação de Brasília, sua qualidade de vida – no sentido mais amplo da palavra, o que significa dignidade de vida. Direito à educação e saúde de qualidade, moradia e bem viver. Nossos olhares se voltam também à mobilidade urbana – passou da hora de Brasília ter um sistema eficaz de transporte sobre trilhos, que envolva a expansão do metrô, a implantação do VLT e a transformação da antiga linha da rede ferroviária, em um trem regional que atenda as cidades localizadas ao sul do Distrito Federal, bem como aquelas que se encontram em Goiás no eixo até Luziânia. O racionamento d’água que ora passamos é um alerta de que a preservação do meio ambiente e o crescimento sustentável não podem ser omitidos. Tudo isso, sem esquecer a cultura, enfim, à qualidade de vida dos brasilienses.

61: Como acha que os recursos federais/estaduais poderiam ser investidos de forma a melhorar a vida da população brasiliense?
CS: Este é um grande debate. Brasília recebe uma enormidade de recursos federais, além do orçamento local montado a partir da receita dos impostos (IPTU, IPVA, ICMs, dentre outros), que todos sabem, são bem pesados.
Hoje há uma prevalência de investimentos em obras – o que agrada muito às empreiteiras – e uma redução de investimentos em recursos humanos. Veja na Saúde, no passado, o projeto Saúde em Casa assegurou uma cobertura médica a 70% da população do DF sem ter que investir em nenhum novo prédio. Mas, na época, foram contratados cerca de 4 mil profissionais – médicos, dentistas, enfermeiros, auxiliares de enfermagem e agentes comunitários de Saúde – que davam conta do recado. Veio o governo Roriz, em 1999, demitiu todo mundo e quem ficou sem assistência até hoje foi a população.

Temos que dar mais transparência a esses gastos e chamar a população para ajudar a definir as prioridades.
O que o brasiliense quer? Uma linha de BRT ou de metrô? Ampliar as áreas edificáveis ou preservar mais o meio-ambiente? Construir o Mané Garrincha, de quase R$ 2 bilhões, ou criar uma Universidade Pública do DF? Essas e outras são opções que a população deveria opinar. Precisamos adotar mecanismos de democracia direta, como ocorre em várias outras nações, ou mesmo em estados de nações como os Estados Unidos.
O mecanismo do Orçamento Participativo deve voltar a funcionar para que o brasiliense decida as prioridades de gastos desde pequenas obras, até grandes obras estruturantes, como é o caso de uma nova linha do metrô ou uma nova rodovia.

61: A cultura de Brasília está se deteriorando, tem algum projeto em mente para alavancar a cultura do DF?
CS: A Cultura do Distrito Federal está abandonada desde o governo Agnelo e pouco mudou no atual. Os principais espaços culturais estão fechados, esperando reformas que nunca se concluem. O ícone desta decadência é o Teatro Nacional. Mas o abandono da Cultura não está apenas nos prédios e monumentos.
Falta uma política cultural para a cidade. A Cultura, associada ao Turismo, pode ser uma alavanca de desenvolvimento econômico sustentável para o Distrito Federal. Temos aqui expressões artísticas da mais alta qualidade em todos os campos da cultura. Mas falta uma política que viabilize a materialização dessa expressão cultural. Aqui, como vimos no recente aniversário de Brasília, prefere-se gastar recursos com artistas de fora do que investir na prata da casa.

Nosso Polo de Cinema é uma ficção. Praticamente não viabiliza a produção de nenhum filme. Ao contrário de cidades como Paulínia, em São Paulo, ou Vancouver, no Canadá, que se transformaram em poderosos polos produtores de cinema e tv, aqui falta uma política que incentive a realização de produções.
O Banco Central, por exemplo, guarda um dos maiores acervos de pinturas deste país. A coleção de Portinari lá existente é cobiçada pelos maiores museus do mundo. Por que não se criar em Brasília um Museu para que este acervo do Banco Central seja acessível a todos, atraindo inclusive mais turistas.
Para que mais turistas fiquem em Brasília e passem mais dias na cidade, é preciso criar atrativos de qualidade. Em capitais como Paris e Washington, desprovidas de praias, a Cultura é o elemento de atração e de permanência dos turistas.
Além disso, temos que criar as leis federais necessárias para diminuir o monopólio de São Paulo em receber a maior parcela de voos internacionais. Se for o caso, determinar regras que façam as companhias aéreas descentralizarem as chegadas e partidas de voos, beneficiando não só Brasília, mais também outros portões internacionais de entrada. Assim, será mais fácil e barato para que estrangeiros venham conhecer nossa cidade e deixem aqui seus dólares e euros gerando emprego e renda ao brasiliense.

61: Ainda sobre a mobilidade da capital, quais soluções acha que poderiam melhorar a locomoção dos moradores?
CS: Como dito antes, acreditamos que o modelo sobre ônibus chegou ao seu limite. Somos três milhões de brasilienses e, quase, dois milhões moram nas cidades de Goiás e aqui vem estudar e trabalhar diariamente. Transportar esta população em ônibus onde cabem 150 pessoas é antes de tudo desumano.

É claro que não podemos abandonar as obras rodoviárias feitas pelos governos passados (EPIA, EPTG e, agora, a Saída Norte). Uma vez concluídos esses corredores de mobilidade, temos que focar no transporte sobre trilhos. O rodoviarismo não dá as respostas que Brasília precisa. Em 1996, foi elaborado um plano que previa 3 grandes linhas de metrô. A existente, ainda inacabada – pois seu início seria no fim da Asa Norte, próximo à ponte do Bragueto e término na Expansão de Samambaia e no Setor O da Ceilândia -; a Linha 2, ligando o Gama à Rodoferroviária, via EPIA; e a Linha 3, atravessando transversalmente a maior concentração populacional do DF, que vai da Ceilândia ao Gama, passando por Taguatinga, Samambaia, Recanto das Emas e Riacho Fundo 2. Este projeto precisa ser retomado.