Sábado, 13 de setembro de 2025
Sindicato, Secretaria de Educação e deputado distrital repudiaram a ação
Brasil de Fato — Brasília (DF)
Postado originalmente o BdF às 18h07 de 12 de setembro de 2025
Na última quarta-feira (10), uma professora que participava de uma feira de ciências no Centro de Ensino Médio 01 de São Sebastião, popularmente conhecido como Centrão, foi detida após filmar jovens sendo abordados por policiais militares nas dependências externas da escola.
Segundo a Polícia Militar (PM), a abordagem teve início quando se depararam com um grupo de estudantes do lado de fora do colégio com “atitudes suspeitas”. Um deles portava uma faca e estava sem uniforme escolar. Ao se deparar com alunos sendo revistados pelos policiais no muro da escola com armas em punho, a docente que leciona em outra instituição, iniciou a filmagem pelo celular como tentativa de resguardar os adolescentes e crianças que estavam próximos ao local.
Logo após, a professora encerrou a gravação e entrou no colégio. Pouco tempo depois, um dos policiais entrou na unidade escolar em busca dela. O agente segurou a educadora pelo braço e decretou voz de prisão por desacato. Em seguida, a docente foi levada à delegacia.
Em nota ao Brasil de Fato DF, a PMDF disse que a ação da professora de filmar a abordagem comprometeu a segurança da equipe e dos abordados e que ela havia proferido ofensas aos policiais.
“Enquanto a abordagem estava em andamento, uma mulher que se identificou como professora se aproximou, começou a filmar a ação e a proferir ofensas contra os policiais, comprometendo a segurança da equipe e dos abordados. A mulher foi advertida para se afastar, mas após cessar a filmagem, continuou a insultar os policiais. Ela foi presa pelo crime de desacato. A direção da escola, posteriormente, negou que a mulher fosse parte do corpo docente da instituição”, informou a entidade.
O deputado distrital Gabriel Magno (PT-DF), comentou a situação e disse que enviou ofícios à Secretaria de Educação, Secretaria de Segurança Pública e à Polícia Militar para apurar os fatos. “É inaceitável a postura violenta e desproporcional da Polícia Militar do Distrito Federal contra uma educadora, uma professora que, primeiro, não praticou nenhum tipo de agressão e não oferecia risco aparente que justificasse tal abordagem”, ponderou.
O parlamentar também prestou solidariedade à professora. “Expresso meu profundo respeito, admiração e solidariedade a essa professora, assim como a todo o conjunto dos profissionais da educação do Distrito Federal.”
Diretor do Sindicato dos Professores do DF (Sinpro-DF) Samuel Fernandes julgou a ação como “inaceitável e revoltante”. Ele avaliou que não é justificável uma educadora passar por uma situação constrangedora e humilhante como aconteceu. “Isso é um ataque direto não só a profissional, mas a toda categoria de professores e a própria escola pública. O que vimos foi um abuso de autoridade, uma violência contra o direito de ensinar e contra a dignidade da educação”, afirmou.
Em nota, o Sinpro também repudiou a conduta da PM na situação e ressaltou que a função do órgão é proteger e servir à comunidade respeitando os direitos humanos.
“O Sinpro afirma que a conduta é inaceitável em um Estado Democrático de Direito. A função da polícia é proteger e servir à comunidade. O uso desproporcional da força, especialmente contra uma profissional desarmada e em exercício de sua função, configura um grave abuso de autoridade e viola a integridade física e moral da professora, direito constitucional garantido a todos os cidadãos e cidadãs. Exigimos a responsabilização disciplinar, administrativa e criminal dos agentes envolvidos, conforme a lei. O respeito aos direitos humanos deve ser princípio da polícia militar, e a ação de sua corporação deve atuar para a desescalada de conflito, não o contrário”, diz parte do comunicado.
Procurada pelo Brasil de Fato DF, a Secretaria de Educação informou que teve conhecimento da denúncia através da imprensa e repudiou o ocorrido. “A Pasta repudia veementemente qualquer manifestação de violência, acompanha de perto as investigações e reafirma seu compromisso com um ambiente escolar seguro e respeitoso”, comunicou.
O sindicato ainda destacou que está dando todo o suporte psicológico e jurídico necessário à docente. “Escola é espaço de diálogo e de acolhimento. O Sinpro acompanha de perto o caso da professora agredida, dando todo apoio jurídico e psicológico para que ela possa enfrentar com firmeza a ação brutal e tenha a possibilidade de curar as marcas físicas e psicológicas geradas pelo autoritarismo. Em defesa da professora, da categoria do magistério público, da comunidade escolar, da educação e dos direitos humanos: basta de violência nas escolas.”
Editado por: Flavia Quirino