Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)
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quinta-feira, 17 de julho de 2025

A universidade como alvo global

Quinta, 17 de julho de 2025

A universidade como alvo global

Desmonte, perseguição ou ambos. Nos EUA, Europa e América Latina, ela está ameaçado. A precarização do trabalho torna o diploma inútil. E o sistema vê a instituição como perigosa, por sua capacidade de dialogar com rebeldias

Este artigo integra o volume 38 do Caderno CRH, parceiro editorial de Outras Palavras, organizado e editado pelo Centro de Estudos e Pesquisas e Humanidades (CRH/UFBA), em coedição com a Editora da Universidade Federal da Bahia (EDUFBA). Leia mais.

A universidade pública é uma instituição que se tornou, nos últimos anos, espaço de intervenções violentas de toda ordem. Desde acusações de islamo-gauchismo em países como a França até intervenções brutais contra estudantes e professores em solidariedade com a causa palestina,  principalmente  nos  Estados  Unidos da América (EUA) e na Alemanha, o que vemos é a universidade  pública  como  espaço  de  tensionamento  social.  No entanto, a  lista  é  muito  mais extensa. Em governos de extrema-direita, como o que vimos no Brasil e que vemos atualmente na  Argentina, na  Turquia,  na  Hungria  e  em Israel, forças estatais operam toda forma de desmonte de financiamento e de estigmatização social contra a universidade pública, isso quando não se trata de criminalização direta contra professores e estudantes.

A sensibilidade aguda que a extrema-direita tem em relação as universidades, centros de pesquisas e formação mostra, a contrapelo, como  a  tese  da  obsolescência  da  universidade  era  simplesmente  falsa  (Salles,  2020).  Pois  a  extrema-direita  não  se  engana  a  respeito  da  articulação  profunda  entre  universidade,  movimentos  sociais  e  opinião  pública.  Por mais que a universidade pública tenha suas contradições  e  seus  núcleos  reacionários,  ela  é  ainda a instituição sociais mais aberta e porosa a articulações  com  movimentos  sociais  que  conhecemos  (Safatle,  2019).  Mesmo  produções  intelectuais aparentemente distantes da esfera política cotidiana, como Jacques Derrida e sua desconstrução, tornaram-se anátemas da extrema-direita  porque  elas  provaram  ser  capazes  de  mobiliar  a  imaginação  social  em  questões  sensíveis  para  a  reprodução  da  ordem  social,  como a sexualidade, o território, a origem, entre tantas outras.