Sexta, 10 de dezembro de 2010
Por Ivan de Carvalho

Vale registrar que Sakineh Ashtiani, de 43 anos, que havia sido condenada à morte por lapidação (apedrejamento) sob a acusação, que ela nega, de adultério, foi libertada pelo governo do Irã, assim como seu filho e seu advogado, segundo anunciaram organizações como a Comissão Internacional contra a Pena de Morte e a Lapidação e a ONG Solidariedade Irã, que também vinha acompanhando o caso.
A primeira das organizações citadas assinalou que ainda existem no Irã, atualmente, 21 mulheres e cinco homens nas prisões do país, aguardando a execução da pena de morte por apedrejamento. Essa organização disse que a libertação de Ashtiani se deveu às pressões de líderes mundiais e outras personalidades, citando como relevantes a participação do presidente Lula e da presidente eleita Dilma Rousseff.
Isso nos leva de volta à comparação da abordagem de Lula e de Dilma em relação ao caso específico de Ashtiani e do tema mais amplo dos direitos humanos no Irã. Foram abordagens bem diversas. Lula ofereceu ao governo iraniano acolhida para Ashtiani, caso ela estivesse “incomodando” lá no Irã, ao que o governo iraniano respondeu com uma contida, mas indisfarçável irritação.
E o presidente então rapidamente tirou seu cavalinho da chuva, passando a evitar o assunto, salvo para dizer que seria “uma avacalhação” se o governo de um país (no caso, o Brasil) ficasse criticando as leis de outro país. Ao que parece, sejam quais forem essas leis, seriam incriticáveis. Depois, o Brasil adotou a vergonhosa posição da omissão, ao abster-se de votar, na Comissão de Direitos Humanos da ONU, uma resolução (aprovada) que educadamente recomendava ao governo iraniano o respeito aos direitos humanos.
Já Dilma Rousseff, ainda não empossada, mas já eleita, foi direta ao declarar ser “um absurdo” o programado apedrejamento de Sakineh Ashtiani. Mais importante, discordou da abstenção brasileira na votação da resolução da ONU, assim deixando claro que na sua opinião o Brasil devia ter votado a favor e completou afirmando que ela será sempre contra qualquer punição “medieval”.
Bem, a lapidação não é apenas medieval, é uma pena que vem da Antiguidade, invadindo, no mundo muçulmano, a Idade Média e, passando depois pela Idade Moderna até alcançar a Idade Contemporânea. Mas como a presidente usou a palavra “medieval”, podemos ter certeza que ela condenará também a pena de morte na fogueira, mesmo que aplicada a bruxos e bruxas. No entanto, presos políticos, como os há em Cuba e na China, não são, infelizmente, um fenômeno medieval.
Mas que tratamento a política externa brasileira vai dar aos direitos humanos, em outros casos e outros países? Se postos em um prato da balança os sinais positivos notados até agora e no outro a orientação de política externa característica do PT e a decisão de manter o incrível assessor para Assuntos Internacionais Marco Aurélio Garcia, qualquer resposta parece precipitada. A dúvida é a atitude apropriada por enquanto.
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Este artigo foi publicado originalmente na "Tribuna da Bahia" desta sexta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.
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Este artigo foi publicado originalmente na "Tribuna da Bahia" desta sexta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.