Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Bahia e São Paulo

Segunda, 30 de janeiro de 2012
Por  Ivan de Carvalho

Em 1986, o grupo liderado por Antonio Carlos Magalhães e que tinha no comando do governo do Estado o hoje senador João Durval Carneiro perdeu espetacularmente, com o candidato a governador Josaphat Marinho, um respeitado político e jurista, as eleições para a sucessão de Durval. 

O vitorioso – surfando sobre a onda do Plano Cruzado, a saturação de carlismo na Bahia e o bom desempenho que teve como ministro da Previdência Social – foi Waldir Pires, do PMDB, em torno do qual armou-se uma grande aliança integrada pela oposição tradicional e por lideranças políticas que haviam rompido com o carlismo.

Antonio Carlos Magalhães não ficou no ostracismo porque havia sido escolhido por Tancredo Neves e foi confirmado pelo presidente José Sarney para o importante Ministério das Comunicações, cujo poder usou para ampliar seu poder na mídia baiana e nacional. Várias coisas foram importantes, mas destaca-se a proeza de haver conseguido integrar a TV Bahia (controlada por familiares seus) à Rede Globo, afastando a TV Aratu.
De qualquer maneira, a vitória das oposições e de Waldir Pires em especial havia sido tão grande que a situação de ACM, apesar do Ministério das Comunicações, era politicamente muito difícil. No entanto, segundo ACM, os fatos ocorridos no quatriênio que começou com Waldir Pires no governo e terminou com Nilo Coelho lhe foram de bastante ajuda. 

Também a montagem oposicionista para as eleições de 1990 e a campanha eleitoral oposicionista. ACM elegeu-se finalmente governador pelo voto direto e secreto, no primeiro turno, embora com extrema dificuldade. “Não ganhei por meus acertos, mas pelos erros do adversário”, repetiria ele várias vezes.
Tudo escrito até aqui foi memória para comentar o que ocorre em São Paulo. Nas eleições deste ano, a prioridade máxima do PT é conquistar a prefeitura paulistana. A de Salvador é a segunda mais querida. O PT, no entanto, não tinha uma candidatura natural à sucessão do prefeito Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD. Havia a ex-prefeita Marta Suplicy, mas Lula e a maioria do PT a julgaram inviável eleitoralmente. Lula, ajudado por Dilma Rousseff, impôs a desistência de Marta e a candidatura de Fernando Haddad, que não tem votos (mais um poste que Lula inventa) e vinha sendo um polêmico ministro da Educação, cheio de vazamentos no Enem e de livros esquisitos abençoados pelo seu ministério.
Mas um poste é – e este não era o caso de Marta – como um copo vazio. Pode-se enchê-lo na campanha com o que for eleitoralmente conveniente. É uma grande vantagem. Haddad tem enorme chance de ser eleito. Mas não só por isto. Não pelas qualidades dele ou pelas qualidades que, não tendo, lhe atribuírem. Mas pelos erros dos adversários.

O adversário fundamental é o PSDB, que governa o Estado de São Paulo. O PSDB tinha um nome forte, José Serra. Mas Serra, depois de empoleirar-se no muro, como um bom tucano, durante o tempo que pôde, avaliou e avisou aos amigos e depois ao governador Geraldo Alckmin que não vai disputar esta eleição. Não disse, mas supõe-se que haja raciocinado: ganhando, isso traria tanto vantagens como dificuldades para sua eventual candidatura (disso ele não desiste) a presidente em 2014. E, perdendo agora, a chance de ser candidato em 2014 não existiria.
Sem Serra, restam ao PSDB quatro candidatos inexpressivos e que se aprontam para disputar uma prévia. O PSDB poderia apoiar o vice-governador Afif Domingos, do PSD, que seria um candidato forte. Esta opção agrada a Serra. Mas o governador Alckmin não quer, por temer que, eleito, Afif não apoie sua reeleição para o governo paulista em 2014 e apoie o correligionário Kassab. Este se comprometeu a apoiar Alckmin se o governador apoiar Afif, mas Alckmin não confia. E está em busca do apoio do DEM (por causa do tempo na TV e rádio), enquanto o PSD (assim rejeitado pelo governador) e o PT examinam uma aliança entre eles, com a aprovação entusiástica de Lula.
O PT pode ganhar a Prefeitura de São Paulo, não por seus méritos, mas pelos desacertos do PSDB. Situação parecida à que, segundo ACM, aconteceu na Bahia em 1990.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta segunda.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.