Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

terça-feira, 31 de janeiro de 2012


Terça, 31 de janeiro de 2012
Por Ivan de Carvalho
A publicação, ontem, no Diário Oficial da União, da demissão involuntária (não foi a pedido, como revela o ato publicado) do chefe da Assessoria Parlamentar do Ministério das Cidades, João Ubaldo Dantas, baiano recrutado pelo ministro Mário Negromonte, tornou inócua a deferência da presidente Dilma Rousseff que, em uma solenidade em Camaçari, cumprimentou publicamente o ministro.

Como a presidente é sempre e reconhecidamente uma pessoa muito gentil e cordial, está claro que o cumprimento foi mera formalidade. Ainda mais que, também sem pedir, foi exonerado na semana passada o chefe de Gabinete de Negromonte, Cássio Peixoto, também da Bahia.

            Não há apostas nos meios políticos sobre a saída ou permanência do ministro Mário Negromonte na equipe da presidente. Ninguém quer apostar que ele fica. Junto com ele, todos apostariam, até porque é lógico, sairá o secretário executivo do ministério, o ex-prefeito de Lauro de Freitas e ex-deputado estadual Roberto Muniz, que completa o trio de baianos de mais destaque levados por Negromonte para a pasta.

            Ontem dava-se como certo que a saída de Negromonte já foi decidida pela presidente da República, que ontem partiu de Salvador para uma viagem a Cuba e ao Haiti, em companhia do governador Jaques Wagner, brindado por um convite especial de Dilma Rousseff (está a cada dia melhor sua relação com a presidente). Vai ver muita miséria no Haiti e, em Cuba, entre outras coisas, nenhuma liberdade.

            Mas, voltando ao caso do ministro Mário Negromonte, ele está para deixar o cargo principalmente por ter perdido a sustentação de seu partido, o PP – especialmente de acentuada maioria da bancada na Câmara –, e por causa de algumas denúncias feitas contra ele e auxiliares por veículos de comunicação e que os órgãos competentes ainda não apuraram.

            Se o PP da Bahia perde o forte Ministério das Cidades (parece já combinado que um representante da outra banda da bancada do PP será nomeado em seu lugar), automaticamente perde força no estado e se torna menos influente junto ao governo Wagner. Mais frágil e muito mais dependente, apto a ser lenta, gradual e seguramente devorado. A não ser que acabe fazendo opção pela independência ou até pela oposição, mas isto só o futuro dirá.

            Outra questão é que o PP, partido ao qual se filiou, digamos, recentemente, o prefeito de Salvador, João Henrique, perde grande parte de sua utilidade a este, na medida em que não haja mais um ministro das Cidades baiano disposto a fazer o possível para carrear recursos para a capital baiana. No entanto, se o prefeito quiser ter alguém na campanha eleitoral que ocupe espaço na propaganda gratuita em rádio e televisão, além de outros espaços e meios e fale bem de sua administração, defendendo-a de ataques e elogiando-a, precisará mesmo é do PP e da candidatura do deputado João Leão. Que já foi ao presidente nacional do partido, senador Francisco Dornelles, certamente se informar da situação de Negromonte e conversar sobre a candidatura leonina e a posição do PP em relação ao governo baiano.

            Isto porque há pontos de atrito à vista. João Leão e o PP vão tentar recuperar a prefeitura de Lauro de Freitas, hoje ocupada pela petista Moema Gramacho, muito prestigiada pela cúpula do seu partido. Mas aí o candidato não será João Leão.

            O outro problema – e muito maior – é Salvador. João Leão quer ser candidato a prefeito, naturalmente que com o apoio de João Henrique. Mas o comando do PT quer o apoio do PP (leia-se, do prefeito e da prefeitura) para a candidatura petista de Nelson Pelegrino. Esse é um ponto de atrito em potencial, e dos grandes, principalmente se a eleição ficar difícil com uma eventual (buscada, mas ainda não encontrada) união das oposições.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta terça.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.