Esticada num platô de chapadas, a satélite que fez 59 anos dia 12/10 tem um estádio moderno, sítios arqueológicos e intensa vida noturna
IGO ESTRELA/METRÓPOLES
Metrópoles, nesta quinta-feira (17/10)
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Quem ainda não sabe fica sabendo: há muito tempo, um publicitário num dia feliz criou uma campanha para venda de apartamentos: “Quem ama mora no Gama”. Desde então os gamenses e gamados adotaram o quase verso como a epígrafe da cidade.
O Gama fez 59
anos nesse 12 de outubro. É seis meses mais velha que o Plano Piloto. Que me perdoem as demais 29 cidades-satélites, mas o Gama é a cidade teluricamente mais bela
do quadradinho. Desdobra-se num platô de chapadas no anel que contorna o avião
do doutor Lucio. Quem mora no Gama está mais perto do céu, do Sol, da Lua, das
estrelas, de tudo quanto há acima de nossas cabeças. Lá, a luz alumia até a
alma.
Tem a forma de uma
colmeia, a área urbana do Gama. É projeto do arquiteto Paulo Zimbres (1933-2019), o mesmo que fez a
Reitoria da UnB, o projeto original de Águas Claras (que nada tem a ver com o
paliteiro construído) e o do Noroeste. A história do Gama é muito mais antiga
que a invenção do doutor Lucio. Atribuiu-se o nome a um padre, Luís da Gama
Mendonça, que teria morado naquelas paragens no século 18. Mas o Gama existe
antes mesmo do próprio nome: nele há sítios arqueológico indicando a presença
humana há milênios.
O
Gama tem um cronista à altura de tanto amor, Marcelo Pires Mendonça, que parece
conhecer não só as artimanhas da crônica como as do coração. Marcelo tem
saudade da poeira do Gama de sua infância.
“Sinto muito por não termos mais dias
empoeirados ardendo os olhos da molecada batendo uma pelada com bola de
plástico. Detestava poeira, e hoje sei que eu, quanto mais empoeirado, mais
perto de mim estava”, ele escreveu no site www.gamalivre.com.br. O cronista gamado se lembra “dos
campinhos de terra, com pedras marcando o gol, pés cascudos e uma pelota
iluminada. A felicidade estava ali e nem percebi. Hoje a minha cidade se deita
em um imenso tapete verde e rebola, rebola muito, mas o gol não sai, roubaram
meu time. Sinto falta de uma bola…”
O mais admirado e amado time de
futebol do quadrado, o Gama, tem um estádio à altura da cidade moderna: o Bezerrão é
obra de Ruy Ohtake, arquiteto moderno da geração que cultuava Oscar Niemeyer
com devoção quase religiosa. O Gama tem uma igreja singela no alto de uma
colina. Tem intensa vida noturna, bares, botecos, restaurantes, churrasquinhos, teatro, boa
música, arquitetura moderna e pré-história.
Se for fazer a prova dos nove, o Gama
nasceu antes da Candanga e do Bandeirante.
Foi na Fazenda do Gama onde Juscelino e comitiva desceram pela primeira vez no
sítio da futura capital, em 2 de outubro de 1956. Ao lado, no mês seguinte, foi
construído o Catetinho,
a primeira obra moderna no cerrado.
Na cidade de quem ama, o cronista não
poderia ser menos amante: “Tenho um coração que resiste e insiste em acreditar,
se ilude fácil e é encantado, quanto mais amores ele guarda mais sangra, se
desmancha sempre e se reconstrói numa velocidade estupenda. Na minha cidade tem
quadras que escondem versos lindos, músicas suaves, belos romances, gemidos
murmurados e filmes inquietantes. Sinto falta de um amor…”.
É ou não é uma cidade apaixonada?
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