Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 21 de junho de 2021

CARTA ABERTA: A PUSURU NÃO REPRESENTA O POVO MUNDURUKU

Segunda, 21 de junho de 2021

Movimento Munduruku Ipereg Ayu

Associação Pusuru não representa o povo Munduruku. Isso fica claro aqui em Brasília. Estamos presentes em 85 pessoas do alto e médio Tapajós e baixo Teles Pires, das nossas sete terras indígenas, organizados no Movimento Ipereğ Ayũ e nas nossas associações Conselho Indígena Munduruku do Alto Tapajós (CIMAT), Associação Wakoborũn, Da’uk, Arikico e Pariri . A Pusuru hoje não respeita o povo Munduruku e sua cultura, não está respeitando a voz e a fala dos nossos caciques, de nossas mulheres e lideranças. Estão enfeitiçados pelo poder e não veem que esses pariwat só querem dominar as nossas terras e nossas vidas.

Não só o povo Munduruku vem sendo atacado pelo Governo. Muitos parentes de diferentes povos estão em Brasília no Levante Pela Terra defendendo seu direito de existir e viver em paz em seus territórios. Estamos aqui junto deles e da Apib na defesa dos nossos direitos fundamentais.

O povo Munduruku pensa e age coletivamente, não em reuniões fechadas com pariwat. Queremos esclarecer os fatos sobre a violência que o garimpo causa na Mundurukânia

Somos contra a PL 191, PL da morte, que vai entregar nosso território para as grandes empresas e os criminosos que invadiram nossas terras O Governo e os invasores dizem que não são criminosos. Mas quem invade e destrói a casa dos outros, nossas florestas e nossas aldeias são sim criminosos. Agora o que o Governo quer fazer é mudar a lei para que os bandidos possam continuar praticando seus crimes sem responder por isso.

Queremos os invasores fora do nosso território, queremos melhoria para o estrago que fizeram com o nosso rio, com a saúde do nosso povo, destruído pela prática ilegal do garimpo, queremos nossa cultura viva como nosso território. Somos contra a PL 490, não ao marco temporal.

Francinildo e João Kaba que dizem representar a Pusuru não representam o povo Munduruku. Muito menos a associação Pusuru, esses bandidos entraram de maneira ilegal na diretoria da associação. Hoje a associação está servindo para defender os bandidos que invadem o território e ameaçam de morte nossas lideranças e o povo como um todo. É triste, mas alguns parentes nossos se tornaram bandidos junto com os pariwat invasores. Na assembleia de resistência, avisamos em documento, avisamos nossos parceiros de luta, os órgãos públicos, fizemos carta pra dizer que a Pusuru não respeita mais os direitos de nosso povo e estão se reunindo com nossos inimigos e defendendo a voz do presidente Bolsonaro, que é um ladrão e genocida que já nos desrespeitou várias vezes.

O governo federal do Brasil e o presidente Bolsonaro, junto com o ministério do meio ambiente, ministério da justiça, Funai, têm que ser responsabilizados e criminalizados pela aliança com criminosos e pelo não cumprimento de segurança na nossa região. Eles devem ser responsabilizados por não darem suporte ao nosso movimento contra uma milícia armada que atua em nosso território. Jacareacanga virou uma terra sem lei!

O garimpo destrói. Isso não é desenvolvimento para nós. Essas pessoas não dialogam com o povo, elas queimam casas, roubam, saqueiam, andam armadas, são incentivadas pelos empresários, pelos políticos. As máquinas pesadas que estão ali são compradas por pariwat. Há muito tempo que não se faz mais extração manual de garimpo. São grupos criminosos poderosos que colocam as Pcs (retroescavadeiras) pra destruir muito rápido nossos rios. Nosso povo sabe que o garimpo não é a única opção econômica e não significa nenhuma liberdade para nós. Nós estamos nessas terras há séculos, e o garimpo veio há pouco tempo com os pariwat. Qualquer alternativa econômica deve respeitar nossa forma de pensamento e organização tradicional e as diversas formas de vida do território. Hoje o Governo federal incentiva a destruição causada pelo garimpo, que não faz parte do nosso plano de vida, adoece o rio, o corpo e a alma munduruku. Ele é parte do plano de morte e violência dos pariwats e do Governo contra os povos indígenas.

A aldeia que foi queimada por esses bandidos foi de nossas lideranças de resistência. Todos que somos de resistência estamos sendo ameaçados de morte: as pessoas nas ruas estão sendo agredidas e perseguidas, nossos caciques estão sendo impedidos de viajar para também dizer suas ideias. Esclarecemos que esses outros locais queimados em nosso território não são aldeias, são garimpos ilegais.

Nosso movimento de resistência vai se manter e está preparado para resguardar nossa cultura do povo Munduruku, nossa pesca, nossa roça, nossa água, nosso rio limpo. E assim que ensinaram nossos antigos.

Brasília, 18 de junho de 2021

CARTA ENVIADA PARA ÓRGÃOS PÚBLICOS, PARCEIROS DE LUTA EM DEZEMBRO DE 2020 E AGORA DEIXAMOS PÚBLICA.

Aldeia Waroapompu, 18 de dezembro de 2020

Viemos denunciar a situação da associação indigena Pusuru- AIP. Está associação que foi criada no anos 90 e foi de fundamental para demarcação das Terras Indígenas Munduruku e Sai Cinza.

No entanto durante os últimos anos de seu exercício ela tem cometido várias irregularidades. Na última assembleia ordinária eletiva da associação Pusuru, realizada entre os dias 21 a 23 de setembro de 2020 na aldeia Karapanatuba, a associação sofreu um duro golpe dos indígenas pró garimpo, apoiado pelos empresários, deputado estadual e senador, que estão envolvidos com as atividades de garimpagem ilegal e a favor da PL 191. Se aproveitaram de um momento de fraqueza com a morte de grandes lideranças do nosso povo causado pela pandemia. Por isso ela não representa mais o povo.

Essa reunião foi convocada à revelia de seu coordenador enquanto estava de recesso, assinado pelo seu vice-coordenador sem a comunicação com todos. Violando e desrespeitando os princípios estatutários da associação Pusuru: artigo nono e parágrafo primeiro que diz que assembleia geral é um órgão soberano da entidade que deve ser constituída pelos associados, o que não ocorre na ocasião. Quando o coordenador Adaísio Kirixi retornou de recesso, emitiu o ofício nº 052/2020/AIP

Comunicando a sua falta de conhecimento sobre o assunto e apresentando o cancelamento da reunião. Porém, mesmo assim a assembleia foi realizada. Apoiada com recursos das atividades ilegais de garimpos. Esta assembleia teve como objetivo unicamente de promover a regularização das atividades de garimpos, de empresários e políticos que estão envolvidos no processo de legalizar a atividade predatória de garimpos e não o interesse dos caciques e nem de todo povo Munduruku. Estando presentes apenas uma pequena parte das aldeias e caciques, deixando de fora uma enorme parcela de nosso território. Elegendo membros da diretoria, cujo estão com o processo na polícia federal.

Então sem o conhecimento e acordo de toda equipe da direção retiraram a coordenação que ficava em nome de Adaísio Kirixi, para colocar uma coordenação composta por garimpeiros indígena, Francinildo Cosme, Josias Manhuary entre outros. A associação está servindo apenas para defender os interesses dos que trabalham e são cooptados com essa atividade ilegal que é o garimpo de ouro, em nosso território. Além de está sendo utilizada pelo governo federal que é anti indígena, genocida e etnocida e grupos de empresários para justificar que os indígenas são a favor do garimpo. Diante do exposto, o povo Munduruku é contra todas atividades ilegais, reunidos em assembleia da resistência do povo Munduruku, realizada entre os dias 15 a 18 de dezembro de 2020 na aldeia Waro Apompu (Posto Munduruku) no rio Cururu, Alto Tapajós, Terra Indígena Munduruku e Sai Cinza.

Foi decidido pelos caciques que associação Pusuru ficará inativa. Doravante a associação acima citada não nos representa mais juridicamente. Até os caciques decidirem qual o procedimento que vão adotar para resolverem tais problemas. Portanto, foi decidido pelos caciques em plenária que os representantes legais do povo Munduruku serão as associações: CIMAT, Da’uk, Wakoborun, Arikico, Wuyxaximã, Paririp e Movimento Munduruku Ipereg Ayu. Sendo que a associação que vai ser porta-voz do povo Munduruku é o CIMAT. Sendo seguidos pelas associações que estavam presentes nesta reunião, que são: Associação das Mulheres Munduruku Wakoborun, Associação Da’uk, Associação Wuyxaximã, Organização Arikico, Associação Indigena Pariri e Movimento Munduruku Ipereg Ayu.

A assembleia de resistência teve a presença de mais de 500 participantes de 47 aldeias e 45 caciques e dois representantes, cacique geral, chefe dos guerreiros, sendo dividido entre medio e e alto Tapajós e baixo Teles Pires.

Assinam os caciques, mulheres e lideranças do povo Munduruku presentes nesta assembleia.