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(Millôr Fernandes)

quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

Será o Metrô-DF uma Fênix do Cerrado?

Quarta, 24 de janeiro de 2024

Após incêndio, GDF retira da gaveta projetos de ampliação da rede que datam da década de 1990. Das cinzas, promete fazer renascer como uma Fênix. Editais de licitação já estão na rua, mas trajetos idealizados há três décadas já não mais se adequam a evolução urbana e populacional. Ajustes precisam ser feitos.

Por Chico Sant’Anna

Parece que foi necessário um incêndio destruir todo um vagão do metrô de Brasília, para o GDF retirar da gaveta projetos que dormitam há mais de 30 anos. Dá a impressão que o metrô tem a mesma propriedade da Canela de Ema, planta apelidada de Fênix do Cerrado. Para se multiplicar e se reproduzir precisa quebrar a letargia de seus frutos. Para isso, possui uma substância que é um incendiador natural, que entra em autocombustão quando a umidade do ar cai a níveis baixos. Daí, das cinzas – como a Fênix da mitologia grega, que das cinzas faz nascer uma nova ave -, uma nova Canela de Ema surge. Das cinzas do vagão, de uma só tacada, o GDF decidiu avançar em dois pequenos trechos que ampliam as linhas de Ceilândia e de Samambaia num total de seis 6 Km. Serão R$ 600 milhões, parte liberada pelo Novo PAC. A iniciativa de retomar essa ampliação, parece, contudo, se basear nos projetos da década de 1990, sem considerar a evolução populacional e urbana das localidades que irá atender.


Ceilândia

Na Ceilândia, a expansão contempla duas novas estações e 2,3km na Linha Verde. As novas estações serão nas entrequadras QNO 5/13 e QNO 7/15, que passará a ser a estação terminal. Qualquer cidadão comum perguntaria: não vai parar no Terminal de Ônibus do Setor O, localizado na QNO 14. A resposta do GDF, contrariando todas as lógicas de mobilidade urbana que preconizam a integração de diferentes modais, é não.

O terminal de ônibus do Setor O – todo reformado em 2013 – é o maior terminal rodoviário fora do Plano Piloto. São 36 baias, capazes de receber 400 ônibus por hora. Possui um estacionamento para 50 veículos particulares e, há dez anos, por lá transitavam 15 mil passageiros/dia. Segundo a Agência Brasília, difusora oficial do GDF, a reforma já contemplou adaptações para receber o metrô. O lógico, portanto, seria que lá passageiros pudessem trocar do ônibus para o metrô, e vice-versa; a exemplo do que ocorre na Rodoviária do Plano Piloto, onde a integração se dá com bilhete único. Mas não deve ser assim.