Segunda, 5 de junho de 2023
Os pedidos de justiça e socorro na terra indígena que o indigenista e o jornalista morreram tentando defender
Murilo Pajolla
Brasil de Fato | Atalaia do Norte (AM) | 05 de Junho de 2023
Um ano depois, pouca coisa mudou
Era por volta das 15h na fronteira com o Peru, quando quatro homens encapuzados chegaram de barco e invadiram a aldeia Irari 2, do povo Kanamari, na terra indígena Vale do Javari. Armados com fuzis, perguntavam, em espanhol, pelo líder da comunidade. “Estavam pedindo a cabeça do cacique, falaram que queriam acertar as contas pessoalmente”, descreve o boletim de ocorrência. Os homens não encontraram a liderança e decidiram fugir.
A intenção dos criminosos era se vingar de uma ação de monitoramento feita no dia anterior pela Equipe de Vigilância da Univaja (EVU), ligada à União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja). A EVU encontrou toras de madeira nobre recém-desmatada às margens do igarapé Irari. Acionada pelos indígenas, a Polícia Federal (PL) contabilizou 150 metros cúbicos das espécies favoritas das madeireiras clandestinas locais.
Registrado em abril de 2023, o episódio de violência contra os Kanamari repete os mesmos fatores que levavam, há um ano, aos assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips. Bruno atuava justamente na Equipe de Vigilância da Univaja. Dom escrevia um livro intitulado “Como Salvar a Amazônia”. A guerra pelos recursos naturais que tirou as vidas de ambos está em pleno curso e pode fazer novas vítimas a qualquer momento.
O Brasil de Fato voltou ao local das mortes de Bruno e Dom e conversou com os protagonistas de histórias da resistência indígena que marcam o Vale do Javari. Um ano se passou, mandantes e executores do crime foram presos, mas a demanda continua a mesma: mais presença do Estado para garantir os direitos constitucionais e as vidas dos indígenas, que relembram do indigenista com gratidão e saudosismo.