Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)
Mostrando postagens com marcador Artigo Elias Jabbour: A China zomba dos “ajustes fiscais”. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Artigo Elias Jabbour: A China zomba dos “ajustes fiscais”. Mostrar todas as postagens

domingo, 16 de fevereiro de 2025

A China zomba dos “ajustes fiscais”

Domingo, 16 de fevereiro de 2025

Por décadas, o Estado criou dinheiro a partir do nada para financiar infraestrutura e bem-estar dos migrantes internos. Agora, fará o mesmo pela tecnologia de ponta e por novas políticas públicas. Loucura? Só para quem subordinou-se ao rentismo
OutrasPalavras Pós-Capitalismo

OutrasPalavras               

Publicado 13/02/2025 às 16:57 - Atualizado 13/02/2025 às 19:35


Por Elias Jabbour

MAIS:

> O texto a seguir integra o número 9 (janeiro de 2025) do boletim do Observatório do Século XXI, parceiro editorial de Outras Palavras. A edição examina a história e as perspectivas geopolíticas e econômicas da América do Sul. Pode ser baixada e lida aqui.

> Título original:

Nova politica fiscal e monetária chinesa para 2025


Antes de tudo, um relato pessoal. Ainda em Xangai e em uma conversa com uma grande autoridade brasileira, em um posto de relevância estratégica ao bloco dos BRICS, o assunto do endividamento local chinês veio à tona. Quem acompanha os panfletos da ortodoxia universal sabe muito bem que uma das grandes apostas contra o “modelo” chinês está na suposta insustentabilidade dos débitos dos entes subnacionais acumulados desde a reação chinesa à crise de 2007/2008.

De forma tranquila procurei demonstrar que o “modelo” chinês tem como base fiscal e monetário um grande fato: moeda criada pelo Estado sob intermediação financeira pública que é emprestada para empresas do Estado, províncias, municípios e empresas não públicas. Ou seja, a mim está clara uma das características de uma economia de projetamento, na forma como surge na China. Trata-se do casamento entre monopólio do Partido Comunista sobre a grande propriedade pública, na indústria e na finança, e o exercício consciente de sua soberania monetária para fins de entrega de bens e serviços. Como diria o pai da “Economia do Projetamento”, Ignacio Rangel, “projetamento é a busca da razão, na relação entre custo e benefício de cada projeto”.

Na China, a moeda é um bem público — ao contrário do Brasil, onde, dado o poder do sistema financeiro sobre os destinos da política monetária, a moeda é quase um ente privado. Continuando a conversa, ainda com muita tranquilidade, disse que o endividamento local não é uma contradição do “modelo”, mas um atributo da dinâmica de desenvolvimento. Uma sobrevivência das relações entre governo central e províncias desde a milenaridade do modo de produção asiático. A minha conclusão foi objetiva e assustadora a quem ouvia. “Em breve, a China vai encontrar uma solução para isto”. Algumas semanas depois, precisamente na primeira semana de novembro, o governo central anunciou um grande pacote fiscal de US$ 1,4 trilhão, tanto para aplacar as dívidas locais quanto para recomprar a concessão de terras a incorporadas atingidas pela crise imobiliária.