Terça, 21 de novembro de 2023

Praça dos Orixás resiste à intolerância religiosa no centro de Brasília - Bianca Feifel
Exposição "Reintegração de Posse" conta memórias de candangos além da construção; conheça tour de afroturismo
Bianca Feifel
Brasil de Fato | Brasília (DF) | 20 de Novembro de 2023
No coração de Brasília, o busto de um homem negro que lutou pela libertação dos escravizados: Zumbi dos Palmares. Localizada na praça que leva o mesmo nome, em frente ao CONIC, a escultura pode ser um ponto de partida para se pensar na memória negra do Distrito Federal.
Inaugurado em 1995, ano do tricentenário da morte de Zumbi, o busto foi erguido pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) para demarcar um espaço de encontro do movimento negro em Brasília.
No mesmo ano, aconteceu a primeira Marcha Zumbi dos Palmares contra o Racismo, pela Cidadania e a Vida, que partiu da praça em direção à Esplanada dos Ministérios. O evento histórico reuniu cerca de 30 mil pessoas de todos os cantos do país que marcharam denunciando a ausência de políticas públicas para a população negra. “Celebraremos Zumbi reafirmando nossa disposição de luta contra a miséria e a marginalização a que somos submetidos pela exploração racista”, convocava a organização.
Zumbi foi líder do maior e mais longevo quilombo do Brasil colonial: o Quilombo dos Palmares, localizado no atual estado de Alagoas, que chegou a reunir mais de 20 mil pessoas que fugiram da desumanização imposta pelos escravizadores. Portanto, a praça localizada no centro de Brasília, apesar da necessidade de revitalização, é um símbolo importante da luta e resistência negra na cidade, que já foi considerada a mais segregada do mundo.
“Podemos dizer que Palmares foi o primeiro grande movimento negro do país, contrariando as ideias de que os escravizados não resistiam, não lutavam. O que é uma grande mentira”, explicou a guia turística Bianca D’Aya, durante a tour Brasília Negra, organizado pela agência Me Leva Cerrado, que começa na praça Zumbi dos Palmares.

Praça Zumbi dos Palmares preserva memória da resistência negra no coração da capital / Bianca Feifel
Quilombolas no DF
A área em que hoje está localizada a Esplanada dos Ministérios, antes da chegada dos prédios imponentes, já foi local de pastagem de bois pertencentes a moradores do Quilombo Mesquita, situado na Cidade Ocidental (GO). Atualmente, segundo o Censo de 2022, existem 305 quilombolas remanescentes no DF. Grande parte dessa população que ajudou a construir Brasília foi empurrada, após a inauguração, para áreas do entorno.