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(Millôr Fernandes)
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quarta-feira, 7 de maio de 2025

As anulações das dívidas e as mobilizações camponesas na Europa, da Antiguidade ao século XX – CADTM

Quarta, 7 de maio de 2025


23 de Abril por Eric Toussaint

Em 2025 comemoram-se os 500 anos do aniversário da grande revolta camponesa que abalou toda a região germânica da Alsácia à Áustria, passando pela maioria dos principados da Alemanha e pela Suíça germânica. Em 1524-1525, pelo menos 300.000 camponeses e camponesas insurgiram-se. O movimento foi esmagado em maio de 1525 e a repressão brutal provocou a morte de pelo menos 100.000 camponeses. Entre as razões da revolta, o nível insustentável da dívida camponesa esteve à cabeça das reivindicações. Um dos principais líderes do movimento, Thomas Münzer, pregador antagonista de Lutero, afirmava a necessidade de instaurar na Terra um sistema conforme aos Evangelhos, o que implicava a anulação das dívidas e a igualdade de riqueza. Neste artigo, Éric Toussaint revisita os grandes movimentos camponeses que marcaram a história europeia, do Atlântico ao mar Cáspio, do Báltico ao Mediterrâneo, e a tradição das anulações de dívida.



 O papel histórico da dívida na exploração dos camponeses

Nos últimos 5000 anos, o endividamento das camponesas tem sido uma forma de exploração e espoliação que tem levado a sucessivas revoltas nos campos e que alastrou às cidades.

O processo de exploração e espoliação por meio da dívida é simples: o credor exige ao devedor que dê como garantia as suas posses. Pode ser, por exemplo, a terra que o camponês ou camponesa possui e lavra, ou os seus instrumentos de trabalho, ou gado. O reembolso do empréstimo pode ser feito em espécie ou em dinheiro. Como a taxa de juro é elevada, o devedor, para conseguir reembolsar a dívida, é obrigado a transferir para o mutuante uma grande parte do produto do seu trabalho e empobrece. Se deixar de pagar, o credor irá espoliá-lo do bem dado como garantia. Em certas sociedades, o incumprimento pode mesmo acarretar a perda de liberdade do devedor ou de membros da sua família. É a escravatura por dívida.