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(Millôr Fernandes)
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segunda-feira, 17 de abril de 2023

“Tragédias não são obra do acaso, são construídas”, ressalta nota pública assinada por 40 procuradores sobre onda de ataques a escolas

Segunda, 17 de abril de 2023

Arte: Comunicação/MPF

PFDC defende ação coordenada e unida de todos os setores sociais

A Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC) — órgão do Ministério Público Federal (MPF) — emitiu, nesta segunda-feira (17), nota pública sobre a onda de ataques armados a escolas públicas e privadas em diversos pontos do território nacional. O documento é assinado por 40 membros do MPF que conclamam o país à união em torno da resolução do problema.

“Tragédias não são obra do acaso, são construídas”, afirmam os signatários da nota ao apontarem diversos fatores que contribuem para os atos bárbaros, como o próprio ambiente escolar, as redes sociais e o discurso de ódio.

Nessa linha, a nota enfatiza a banalização da violência, a promoção de discursos ofensivos à Constituição da República e aos direitos humanos, o impedimento do tema diversidade nas escolas e as violências verbais e físicas contra professores. Para a PFDC, outro ponto que contribui com essa onda de ataques é o culto às armas de fogo e a facilitação a seu acesso incentivada nos últimos quatro anos.

Para eles, a resposta a esses atos de violência passa por mais disponibilidade e capacitação das forças de segurança para atuarem em escolas, tanto no plano físico quanto no virtual. Além disso, “o poder público precisa, igualmente, responsabilizar, dentro dos limites do devido processo legal, os agressores, os disseminadores do discurso de ódio e os meios informacionais lenientes com a divulgação desse conteúdo. Não solucionaremos a questão, se não formos à raiz do problema e interrompermos o ciclo de desinformação em nossa sociedade”.

Para enfrentar as ameaças às instituições de ensino, a PFDC destaca, ainda, ser fundamental a colaboração de todas as pessoas, a partir de uma ação coordenada e unida de todos os setores sociais, lembrando um provérbio africano que diz ser necessária uma aldeia inteira para educar uma criança. “Ou as escolas voltam a ser santuários de saber e acolhimento, ou nosso destino será a volta à barbárie”.

Redes sociais - Os procuradores relacionam o aumento na quantidade de ataques e ameaças ao crescimento de grupos extremistas atuantes em redes sociais como Twitter, TikTok ou WhatsApp e alertam para a responsabilidade e importância das plataformas digitais “na construção de uma sociedade mais justa, fraterna e solitária, auxiliando na retirada de conteúdos violadores de direitos humanos”.

O grupo de procuradores pontua a necessidade de correção de falhas por parte do Estado brasileiro na detecção e monitoramento dos espaços virtuais de proliferação do ódio e “no estabelecimento de mecanismos de apoio às instituições de ensino, como canais de comunicação direta com eles e protocolos para a atuação das equipes escolares, quando da detecção de situações potencialmente ameaçadoras”.

O texto trata, ainda, sobre a importância de a mídia não dar destaque aos responsáveis pelos ataques a escolas. “Seus nomes e seus rostos não devem estampar manchetes, pois esse é precisamente seu desejo. Para eles, o noticiário é uma coroa de louros, um prêmio por sua atuação. E isso não pode ser concedido”, alerta.

domingo, 16 de abril de 2023

Violência nas escolas: como falar com crianças e adolescentes

Domingo, 16 de abril de 2023
                                       Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Especialistas dizem que acolhimento e escuta são fundamentais


 “Mamãe, eu vou poder ir para a escola?” “Por que há massacre?” A professora Gina Vieira, pesquisadora em educação no Distrito Federal, ficou aturdida ao ouvir do filho de 12 anos a palavra “massacre” e perguntas que exigem mais do que uma simples resposta: exigem atenção, ouvidos disponíveis, seriedade, serenidade e acolhimento. 

“Muitas vezes, as famílias se recusam a conversar [sobre atentados tornados públicos em escolas e outros ambientes] porque acreditam que isso pode traumatizar a criança. Só que as crianças estão em um mundo em que elas são expostas de maneira visceral a tudo o que acontece”, diz a pesquisadora em educação que tem projetos premiados no campo da educação e de direitos humanos. 

Ela explica que dialogar com as crianças sobre o que está acontecendo requer que os pais superem a perspectiva ingênua de acreditar que a violência na escola é algo relativo ao ambiente escolar. Gina Vieira entende que mensagens de ódio e desinformação passaram a ocupar espaço central no país.

“É necessário que os pais ouçam as crianças e estejam atentos aos sinais de que podem estar assustadas, apreensivas e com medo”, diz Gina Vieira.

Acolher esses sentimentos é a palavra adequada, segundo a professora de psicologia Belinda Mandelbaum, da Universidade de São Paulo (USP). “Em um primeiro momento, é necessário escutar o que chegou até elas. Escutar os medos e as impressões. A partir dessa escuta, os adultos podem, de alguma maneira, contribuir para uma ampliação da compreensão da criança sobre aquilo que ocorreu”. Assim, os adultos devem ficar disponíveis para poder responder às perguntas das crianças, ouvir e pensar com ela sobre as questões que elas têm.