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segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Transição energética para quê, para onde?

Segunda, 4 novembro de 2024
Foto: Agência Brasil

Pedro Augusto Pinho*

Uma divisão que certamente atenderá a todos que se dedicam ao estudo das fontes de energia é sua expectativa de existência. Há fontes que têm duração finita, pelo esgotamento das reservas, e as que podem se perpetuar se forem bem administradas. No primeiro caso estão as de origem fóssil: o carvão mineral, o petróleo em sua apresentação líquida e gasosa, e os folhelhos betuminosos. No segundo as provenientes das biomassas e de fluxos fluviais, desde que cuidadas e preservadas.

Por que tamanho empenho da academia, das empresas e governos na transição energética? Para um salto tecnológico? Para maior e mais completa distribuição visando o atendimento de toda população? Para evitar concentrações e, consequentemente, os controladores do poder político e financeiro?

Vejamos o caso da fusão nuclear. Ela atende ao quesito de não poluidora, não deixa resíduos de qualquer espécie, principalmente nefastos, e, como um sol, estará sempre disponível, dia e noite, desde que tenhamos a tecnologia para produção e controle.

Portanto, a mais razoável seria a união de todos os povos no compartilhamento das pesquisas e na administração do fornecimento da energia da fusão nuclear. Mas, nem mesmo está nas pautas mais elásticas da transição energética.

O professor Ildo Luís Sauer, do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (IEE-USP), em artigo de 28 de agosto de 2024, “Uma análise da hegemonia do petróleo e os desafios da transição energética sob a perspectiva da economia política” (Revista Princípios vol. 170, maio-agosto 2024), apresenta a expectativa de duração dos combustíveis fósseis, excluído o folhelho betuminoso: “As reservas comprovadas de petróleo, gás e carvão são, respetivamente, de 1.564, 1.270 e 5.469 bilhões de BOE (barris de petróleo equivalente), o que permitiria, nos níveis atuais, 37, 53 e 133 anos de consumo, respectivamente”.

Tirando alguns preciosismos idiomáticos, pois reserva de petróleo significa de óleo e gás, e já leva em consideração o fator de recuperação, variável aplicada ao volume provado, as tecnologias exploratórias têm feito postergar o fim do petróleo com novas descobertas, como a do pré-sal no Brasil e da Margem Equatorial na Guiana, para não buscarmos em áreas mais remotas. E, acompanhando a demanda e os preços, ainda há muitos locais do globo onde se achará reservas de petróleo. A África do Sahel tem-nos dado bons exemplos.

No entanto, praticamente todos os trabalhos sobre a transição energética se concentram no passado, nas formas mais antigas de energia, a do sol e a do vento, como redescobertas notáveis. Tratam-se de energias caras, com as tecnologias atuais, e intermitentes, não podendo o mundo contemporâneo ficar refém de dias chuvosos e sem vento, pois os hospitais exigem energia 24 horas por dia, e é somente um dos exemplos.

Observe-se que muitas poucas fontes primárias de energia permitem seu armazenamento, sendo as fósseis e da biomassa estas poucas, enquanto não se obtém a fusão nuclear.