Quinta, 28 de julho de 2011
Da Agência Brasil
Carolina Gonçalves - Repórter
A parcela mais pobre da população brasileira é a que
mantém uma dieta mais saudável, considerando os itens presentes na mesa
dessas pessoas diariamente. De acordo com a análise de consumo alimentar
da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), divulgada pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), hoje (28), no Rio de
Janeiro, além de comer mais arroz e feijão do que as outras classes, as
pessoas com renda de até R$ 296 comem o dobro de batata-doce e a metade
de batata frita que os brasileiros com renda superior a R$ 1.089.
“Como [as pessoas de menor renda] não têm disponibilidade para
comprar tanto, têm uma alimentação mais básica. E a alimentação mais
básica tem melhor qualidade nutricional. Mas a diferença entre o consumo
dos melhores e piores alimentos é muito pequena. Todo mundo consome os
dois tipos de coisa”, avaliou André Martins, pesquisador da POF/ IBGE.
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A pesquisa foi feita durante um ano por meio de formulários
preenchidos individualmente por mais de 34 mil pessoas relatando o que
comeram e beberam durante dois dias, não consecutivos. A análise mostrou
que as pessoas com menor renda foram as que revelaram um consumo maior
de peixe fresco e salgado e carne salgada. Essa parcela de brasileiros
também se destaca por consumir menos doces, refrigerantes, pizzas e salgados fritos e assados. Refrigerante diet é um item praticamente inexistente na mesa dos mais pobres.
“Nos rendimentos mais baixos, você tem muita presença de carboidrato. Já tem também açúcar e gorduras, mas nem tanto quanto os de maior renda porque não tem disponibilidade para ficar comprando batatinha [industrializadas]. Mas mesmo na classe menos favorecida você já tem inadequação de gordura e açúcares”, disse Martins.
Se por um lado o consumo de refrigerante aumenta à medida que a
renda melhora, os mais ricos são os que mais consomem frutas, verduras,
leite desnatado e derivados do leite. “As classes menos favorecidas não
têm consumo adequado de frutas, legumes e verduras. Quando vê as rendas
mais altas, a participação desses produtos aumenta. Mas nenhuma delas
consome a quantidade de energia que deveria vir das frutas, dos legumes e
das verduras e isso acaba rebatendo nos micronutrientes, como cálcio e
vitaminas”, avaliou o pesquisador.
O levantamento do IBGE mostra que quanto mais alta a renda, maior é o
número de pessoas que fazem pelo menos uma refeição fora de casa por
dia. “Os dois consomem coisas erradas [mais pobres e mais ricos]. Entra a
disponibilidade de rendimento e a pessoa começa a comprar biscoito
recheado, batata industrializada, já começa a consumir mais fora de casa
e come pizza, toma refrigerante. Na classe de rendimento mais alta é absurdo o consumo de refrigerante”, disse André Martins.
Essa mesma comparação pode ser feita entre a população urbana e
rural. A análise do consumo alimentar mostrou que as médias diárias de
consumo per capita de itens como arroz, feijão, batata-doce,
mandioca, farinha de mandioca, manga, tangerina, peixes e carnes foi
muito maior na zona rural. Na área urbana os entrevistados revelaram um
consumo maior de alimentos prontos ou processados, como pão de sal,
biscoitos recheados, iogurtes, vitaminas, sanduíches, salgados, pizzas, refrigerantes, sucos e cervejas.