Sábado, 30 de julho de 2011
Deu na Veja
Irmão de Romero Jucá denuncia esquema de corrupção no Ministério da Agricultura
Em VEJA desta semana, Oscar Jucá Neto diz a pasta de Wagner Rossi foi loteada por PMDB e PTB com o objetivo de arrecadar dinheiro ilegal
A edição de VEJA que chega às bancas neste sábado levanta indícios de
que mais um esquema de desvio de recursos e dilapidação do patrimônio
público corroi o Planalto. Desta vez, os escândalos envolvem o
Ministério da Agricultura, tendo a Companhia Nacional de Abastecimento, a
Conab, como posto avançado, e o ministro Wagner Rossi, do PMDB, como
virtual comandante do esquema.
O esquema de corrupção foi denunciado por Oscar Jucá Neto, o Jucazinho,
irmão do senador Romero Jucá, líder do governo no Senado. Jucazinho foi
exonerado na semana passada do cargo de diretor financeiro da Conab. A
demissão aconteceu depois de VEJA revelar
que ele havia autorizado um pagamento de 8 milhões de reais a uma
empresa-fantasma que já foi ligada à sua família e que hoje tem como
“sócios” um pedreiro e um vendedor de carros - laranjas dos verdadeiros
donos, evidentemente.
Jucazinho decidiu contar o que sabe porque atribuiu sua saída a uma
armação de peemedebistas contra seu irmão - e também porque se sentiu
humilhado com a exoneração. O caso azedou as relações entre o senador
Jucá e o vice-presidente, Michel Temer, padrinho do ministro Wagner
Rossi. Os dois trocaram ameaças e xingamentos por telefone.
Em entrevista a VEJA, Jucazinho contou que existe um consórcio entre o
PMDB e o PTB para controlar a estrutura do Ministério da Agricultura com
o objetivo de arrecadar dinheiro. Suas informações incluem dois casos
concretos de negócios nebulosos envolvendo a Conab. Em um deles, a
estatal estaria protelando o repasse de 14,9 milhões de reais à gigante
do mercado agrícola Caramuru Alimentos. O pagamento foi determinado pela
Justiça e se refere a dívidas contratuais reclamadas há quase vinte
anos. O motivo da demora: representantes da Conab negociam um “acerto”
para aumentar o montante a ser pago para 20 milhões de reais. Desse
total, 5 milhões seriam repassados por fora a autoridades do ministério.
O segundo caso envolve a venda, em janeiro deste ano, de um terreno da
Conab numa das regiões mais valorizadas de Brasília, distante menos de 2
quilômetros do Congresso e do Palácio do Planalto. Apesar de ser uma
área cobiçada, uma pequena empresa da cidade apareceu no leilão e
adquiriu o imóvel pelo preço mínimo: 8 milhões de reais – um quarto do
valor estimado de mercado. O comprador, Hanna Massouh, é amigo e vizinho
do senador Gim Argello do PTB, mandachuva do partido e influente na
Conab.
Nas mais de seis horas de entrevista, que pode ser lida na edição de
VEJA desta semana, Oscar Jucá Neto não poupa seus antigos companheiros
de ministério. Diz que o ministro Wagner Rossi lhe ofereceu dinheiro
quando sua situação ficou insustentável. “Era para eu ficar quieto”,
afirma. “Ali só tem bandido.”