Segunda, 1 de julho de 2013
Por Ivan de Carvalho

Assim, o
conceito público do governo começou a desabar, num ritmo severo que lhe retirou
oito pontos percentuais entre março e o começo de junho. E, a partir daí – vergastado
no restante de junho pelas manifestações de rua e a sintonia com elas dos que
ficaram em casa – lhe foi acrescentada a perda de 27 pontos, totalizando queda
de 35 pontos percentuais desde a pesquisa de março até a do fim de junho. A
primeira imagem que me vem à mente é a de uma tempestade derrubando um poste.
O pano de
fundo de toda a coisa é o aumento de preços dos produtos e serviços e o
desempenho mais do que medíocre da economia, com direito ao pibinho de 0,9 por
cento do ano passado e uma expectativa popular com viés pessimista da redução
da inflação e do desempenho da economia daqui por diante. Essa é a principal
causa da insatisfação difusa, que ganha densidade e traços mais definidos com a
péssima qualidade dos serviços públicos essenciais, com absoluto destaque para
a saúde, a segurança pública, a educação e a locomoção (desculpem não usar
mobilidade) urbana. Ao que se somam a corrupção e os gastos evitáveis em
estádios de luxo quando poderiam os polpudos recursos ser aplicados em
hospitais, escolas, segurança pública.
Noam Chomsky é um linguista,
filósofo e ativista político americano que se define como um “socialista
libertário” e é crítico frequente de políticas internas e da política externa
dos Estados Unidos. Mas aqui está sendo agora citado por seu decálogo das
“Estratégias de Manipulação” da população. Ele se refere à manipulação por
intermédio da mídia e o primeiro item desse decálogo é a Distração.
Deixemos a
mídia de lado, embora grande parte dela haja participado de estratégias de
manipulação nos eventos do momento. Como assinalou ontem a jornalista Eliane
Cantanhêde, da Folha de S. Paulo, “telejornais
e jornais resistiram a admitir que a crise batia à porta da presidente, mesmo
com o Planalto cercado na quinta-feira aguda”, para acrescentar com ironia:
“Não foi só o Exército que protegeu Dilma...”.
Deixemos a
mídia, por hoje, em paz, embora grande parte dela esteja docemente envolvida
pela “estratégia de distração” que a presidente da República adotou como
prioridade para enfrentar (tentar driblar) a crise. A Distração é a reforma
política.
Mas que
reforma? A mesma que vem sendo discutida intermitentemente há uma década ou
talvez mais e cujo carro-chefe, sob o aspecto do marketing político, é o
“financiamento público exclusivo de campanha”. A presidente inicialmente
agarrou-se na proposta não original, mas escancaradamente inconstitucional, de
uma “constituinte exclusiva” para fazer a reforma política. Bronca geral nos
meios políticos e jurídicos, ela trocou depressa a “constituinte exclusiva” por
um plebiscito e algumas das questões que dele constariam ou constarão são bem
conhecidas.
O
financiamento público exclusivo das campanhas eleitorais, uma bandeira do PT
que conta com amplo apoio entre quase todos os partidos – o que não é de
admirar, pois se trata de tomar o dinheiro dos cidadãos-contribuintes, não para
aplicar em saúde pública, segurança, educação, mas nas campanhas eleitorais dos
partidos. Alega-se (este é o grande argumento) que isso seria um golpe na
corrupção. Conversa fiada. Deixariam de existir as doações legais privadas, de
indivíduos ou empresas. Mas subsistiriam as doações ilegais (o chamado Caixa
Dois), que há muito são proibidas e persistem.
Outras
questões entrariam ou entrarão no plebiscito, caso este realmente aconteça.
Algumas podem ter até alguma relevância, mas no contexto atual não passam de espertas
abobrinhas que o governo quer jogar nas ruas para distrair o povo que está
nelas e tirá-lo de lá.
Este artigo foi publicado originariamente na Tribuna da
Bahia desta segunda.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.