Quinta, 27 de abril de 2017
Da Tribuna da Internet
Carlos Newton
Meirelles manda muito mais do que Tem
Henrique Meirelles é o exemplo de brasileiro bem-sucedido. Formado em
Engenharia Civil pela USP, fez um curso de Administração (MBA) na UFRJ e
em 1974 começou a trabalhar no BankBoston, que dez anos depois o
indicou para um estudo avançado em Harvard, e acabou se tornando
presidente mundial do banco americano. De volta ao Brasil, em 2002
investiu parte da fortuna numa campanha eleitoral pelo PSDB em Goiás,
foi o deputado federal recordista em votos do Estado (183 mil), nunca se
viu nada igual. De olho no governo de Goiás e na Presidência da
República, renunciou ao mandato para presidir o Banco Central nos
governos de Lula.
Desprezado pela presidente Dilma Rousseff, voltou à iniciativa
privada , como integrante do Conselho Consultivo do grupo J&F
(Friboi) e do Conselho de Administração da companhia aérea Azul. Com o
impeachment, assumiu a chefia da equipe econômica, com carta branca do
presidente Michel Temer. É o mentor das reformas da Previdência e das
leis trabalhistas.
TEMER É REFÉM – O presidente Michel Temer caiu de
paraquedas no governo e não entende absolutamente nada de economia, sua
especialidade é a política de bastidores. O Planalto, com os ministros
Eliseu Padilha (Casa Civil), Moreira Franco (Secretaria-Geral) e Antonio
Imbassay (Secretaria de Governo), é a consagração do deserto de homens e
ideias de que tanto falava Oswaldo Aranha, este, sim, um ministro de
verdade. No meio dessa mediocridade, Henrique Meirelles reina absoluto
na política econômica.
Com sua formação e larga experiência, não se pode acreditar que o
ministro da Fazenda desconheça a realidade econômica do país. Meirelles
sabe que o maior problema é o descontrole da dívida pública. Com o plano
de contenção orçamentária a ser cumprido em 20 anos, finge que está
tudo sob controle, mas não é verdade e a longo prazo todos estaremos
mortos, como dizia o genial John Maynard Keynes.
ETERNO BANQUEIRO – O fato é que Meirelles jamais
desencarnou da condição de banqueiro. Sua política exige sacrifícios a
todos – governo, iniciativa privada, trabalhadores e até aposentados e
pensionistas, atingindo praticamente a população inteira. Curiosa e
sintomaticamente, só estão sendo poupados os banqueiros.
Com o país enfrentando sua maior crise econômica, mesmo assim os
bancos seguem acumulando no Brasil os maiores lucros do mundo dito
civilizado, chegam a cobrar cerca de 500% na rolagem de cartão de
crédito, algo jamais visto na história da agiotagem oficializada. Outro
dia, Meirelles até deu declarações criticando esse juros, os bancos nem
ligaram, dois dias depois aumentaram mais um pouco as taxas.
E nem uma palavra dele sobre a dívida pública federal, que
subiu 3,17% em março, para R$ 3,234 trilhões, ante uma inflação de
apenas 0,25% no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Ou
seja, a dívida teve aumento real de 2,92%, algo verdadeiramente
assustador. Mas quem se interessa?
CULPA DA PREVIDÊNCIA – Na visão de Meirelles e de
sua equipe econômica, a culpa da crise econômica é Previdência Social,
embora jamais o governo exiba os cálculos atuariais. Culpam também as
leis trabalhistas. E no afã de proteger os banqueiros, Meirelles faz o
país andar para trás.
O número de lojas e salas comerciais vazias nas grandes cidades
brasileiras é assustador, jamais se viu crise nessas proporções. Mas o
governo não está nem aí. Só tem três preocupações – abafar a Lava Jato,
garantir foro privilegiado e aprovar as reformas preconizadas por
Meirelles.
É uma situação tão paradoxal que não se pode nem seguir o lema
anarquista “”hay gobierno, soy contra”, porque no Brasil o que menos
existe é governo, pois quem governa chama-se Meirelles, que trabalha
exclusivamente para os banqueiros.