Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quinta-feira, 13 de julho de 2023

Salvador, magia, sedução e encantos mil

Quinta, 13 de julho de 2023


Salvador, magia, sedução e encantos mil

13 de julho de 2023

Salvador, fundada em 1549 e primeira capital do Brasil, é tradicional pela sua pluralidade, pela alegria do seu povo e pela beleza contagiante de suas paisagens, banhadas pela imensidão do Atlântico. Fascinante também pela combinação de culturas e religiões, a capital da Bahia oferece atrações imperdíveis. É o segundo maior destino turístico do Brasil, ficando atrás apenas do Rio de Janeiro, e atraindo cada vez mais os estrangeiros que a visitam em todas as estações do ano.

No início deste século, foram eleitos, com o auxílio do Conselho Baiano de Turismo, os chamados “sete pontos mágicos de Salvador”. Foram elencados o Parque do Abaeté, onde fica a Lagoa do mesmo nome, palco de inspiração para as composições de Dorival Caymmi e Vinícius de Moraes, no bairro de Itapuã; o icônico Farol da Barra, situado no bairro do mesmo nome; o Complexo do Contorno e o bairro do Comércio, tradicional reduto da cidade; a Península de Itapagipe; o Centro Histórico, com o Pelourinho, um dos mais exuberantes postais da cidade; o Dique do Tororó, com os orixás dançando em suas águas, obras do escultor Tati Moreno, falecido recentemente; e a sedutora Baía de Todos os Santos, cenário de filmes.

A fascinante e mágica Salvador reserva aos visitantes um portfólio de outras atrações, como a Igreja de Nosso Senhor do Bonfim, no alto da Colina Sagrada, na Península de Itapagipe; a Catedral, antiga igreja jesuíta da cidade, construída na segunda metade do século 17; a Igreja e o Convento de São Francisco, que datam da primeira metade do século 18; a Igreja da Conceição da Praia em frente ao Segundo Distrito Naval; e a do Mosteiro de São Bento; Fundação Jorge Amado; Museus Costa Pinto, Afro-Brasileiro, Arte Sacra, Arte da Bahia, Casa do Carnaval, Museu Rodin Bahia, conhecido como Palacete das Artes; Teatros Castro Alves, Jorge Amado e Vila Velha, onde os Novos Baianos se lançaram; Elevador Lacerda, inaugurado em 1873, suas quatro cabines conectam os 72 metros de altura entre a Praça Tomé de Sousa, na Cidade Alta, à Praça Cairu, na Cidade Baixa.

Cada percurso tem a duração de 22 segundos; os Faróis da Barra, de Itapuã, da Ribeira e do Humaitá; e praias verdadeiramente paradisíacas da Barra, Porto da Barra, Pituba, Ondina, Amaralina, Rio Vermelho, Buracão, Paciência, Itapuã, Boca do Rio, Jardim dos Namorados… E, sem falar, é claro, do Estádio da Arena Fonte Nova, outra atração e palco permanente de grandes partidas, sempre repleto de torcedores, sobretudo nos jogos do Bahia e Vitória.
Igreja da Ordem Terceira de São Francisco – Foto: Nigel Vladimir Soares

O interesse pela cidade se dá pela beleza do seu conjunto arquitetônico e da cultura local, com sua música, culinária e religião. São 365 igrejas e uma centena de terreiros de candomblé, com destaque para as Casas do Engenho Velho, Gantois e Ilê Opô Afonjá, três das mais tradicionais, além da sempre requisitada Casa de Iemanjá, de onde no dia 2 de fevereiro sai uma procissão marítima carregada de presente para a Rainha do Mar. O litoral de Salvador é um dos mais longos das cidades do Brasil.


Há 80 quilômetros de praias distribuídas entre a Cidade Alta e Cidade Baixa, desde Inema, no subúrbio ferroviário, até a Praia do Flamengo, do outro lado da cidade. Enquanto as praias da Cidade Baixa são banhadas pelas águas da Baía de Todos os Santos, essa é a baía mais extensa do país, as praias da Cidade Alta, como as do Farol da Barra e do Flamengo, são banhadas pelo Atlântico. À exceção é a praia do Porto da Barra, a única praia da Cidade Alta, localizada na Baía de Todos os Santos.

As praias da capital baiana são calmas, ideais para natação, vela, mergulho e pesca submarina, como também procuradas por surfistas por causa das enseadas de mar, com ondas fortes. Há ainda praias cercadas por recifes, formando belas piscinas naturais de pedra, próprias para as crianças brincarem.

O Mercado Modelo é, desde 1971, um dos pontos turísticos mais visitados de Salvador, local escolhido pelos turistas nacionais e estrangeiros para comprarem lembranças, dentre elas as famosas rendas e os potentes berimbaus, santos, redes e uma diversidade enorme do artesanato baiano, além de uma variedade imensa de licores. O Mercado abriga dois restaurantes típicos, Camafeu de Oxossi e Maria de São Pedro, onde são servidas moquecas de siri, camarão e de peixe, os famosos acarajés, abará, acaçá, vatapá e caruru, além da suculenta carne de sol, com boa pimenta e um pirão quentinho.


Isso sem falar nas cocadas e nos doces em compotas de todas as frutas. De dar água na boca. No passado, lá no porão do mercado, ficavam os escravos vindos da África enquanto aguardavam ser leiloados. O porão é repleto de placas de concreto com cerca de 30 centímetros de altura do chão, para que o turista possa ali passear mesmo quando a maré está cheia, pois é comum o porão encher-se de água do mar nesse momento. Os arcos com os tijolos à mostra – e que servem de estrutura para o Mercado Modelo – fazem belas composições quando refletidos no espelho d’água.O Centro Histórico de Salvador foi designado em 1985 como Patrimônio da Humanidade pela Unesco. Salvador representa um bom exemplo do urbanismo português a partir de meados do século 16. Grande parte da cidade manteve as raízes de suas ruas, vielas, becos e casas coloridas. Como a primeira capital da América portuguesa, Salvador cultivou o trabalho escravo e tinha seus pilares instalados em lugares abertos, como o Terreiro de Jesus e as praças que hoje conhecemos como Praça Tomé de Sousa, onde fica a Câmara Municipal, e a Praça Castro Alves, imortalizada na canção de Gilberto Gil.

A palavra pelourinho, em sentido amplo, corresponde a uma coluna de pedra, localizada normalmente ao centro de uma praça, onde eram expostos e castigados criminosos. No Brasil, e em especial o Pelourinho de Salvador, o uso principal era para castigar os escravos, através de chicotadas durante o Período Colonial. Tempos depois do fim da escravidão no Brasil, em 1888, esse local da cidade passou a atrair artistas de todos os gêneros, tornando-o em um centro cultural. Lá está o Olodum e a estupenda Igreja de Nossa Senhora do Carmo. O Pelourinho está dentro do Centro Histórico de Salvador.

Outro grande atrativo da cidade é, sem dúvida, o carnaval, considerado a maior festa popular do mundo. O Guinness Book, em 2004, registrou o carnaval da Bahia como sendo o maior do mundo. Os ritmos musicais mais comuns da região são o axé, o pagode, o forró, o arrocha e o samba, além de um forte movimento da MPB. Os Novos Baianos, formados pela saudosa Gal, Bethânia, Gil e Caetano; Vinícius de Moraes e Simone são expoentes da música baiana e brasileira, ao lado de Ivete Sangalo e Daniela Mercury. Isso sem falar nos escritores Jorge Amado e Zélia Gattai, homenageados em esculturas de bronze nas imediações da antiga residência do casal, no Alto do Rio Vermelho. Salvador é considerada, pela sua riqueza, uma das cidades mais importantes e bonitas do Brasil. Essa beleza se reflete na magnificência dos seus palácios coloniais, igrejas e conventos, a maioria deles datados dos séculos 17 e 18.


Salvador é mágica, vibrante, pulsante, sedutora, encantadora, acolhedora, exuberante, efervescente… Soma-se a tudo isso o seu povo acolhedor, que gosta de uma boa prosa, além de ser educado e verdadeiramente hospitaleiro.

Não faltam, nessa capital, bares, restaurantes e locais para serem visitados, revisitados e apreciados. As imagens desses postais, mais de uma centena deles, por sinal, ficam gravadas em nossas mentes e em nossos corações. Visitar Salvador é sempre um grande prazer, um raro privilégio, uma imensa alegria. Seus cenários são únicos e nos fazem crer que o colorido da cidade e a sua rotina nos possibilitam viver com muito mais felicidade, em paz e sob a proteção do Senhor do Bonfim e de todos os Orixás.

Paulo Alonso, jornalista, é reitor da Universidade Santa Úrsula.