Entrada de novos parceiros foi anunciada nesta sexta-feira (17) pelo Ministério das Relações Exteriores
Desde 2023, cúpula dos Brics debate a entrada de novos países parceiros - Divulgação/Brics
Carolina Bataier
Brasil de Fato | São Paulo (SP) | este texto foi originariamente publicado no BdF em 17 de janeiro de 2025 às 21h53
Cuba, Bolívia e mais sete países agora fazem parte dos Brics. O anúncio foi feito nesta sexta-feira (17) pelo Ministério das Relações Exteriores (MRE) do Brasil, que está à frente da presidência o grupo. Com os novos membros, o grupamento diplomático passa a contar com os seguintes países parceiros: Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Malásia, Nigéria, Tailândia, Uganda e Uzbequistão.
A categoria de país parceiro foi criada na XVI Cúpula do Brics, em Kazan, na Rússia, em outubro de 2024. Como parceiros, os novos integrantes têm posição inferior ao dos membros efetivos, mas contam com possibilidade de participarem de cúpulas e reuniões temáticas.
Na formação inicial, o grupo contava com Brasil, Rússia, Índia e China e tinha a sigla Bric. Em 2010, passou a contar com a África do Sul, adotando o nome de Brics.
57 anos do assassinato do Che por mando dos Estados Unidos
Che Guevara era médico e foi líder guerrilheiro na revolução de 1959, ao lado de Fidel Castro / Google Creative Communs
Líder revolucionário se tornou símbolo pop e deixou legado que permanece vivo
Do Brasil de Fato
Gabriel Vera Lopes
Habana (Cuba) | Este artigo foi postado no Brasil de Fato de 09 de Outubro de 2023
Guevara se tornou ícone da revolução cubana e deixou legado na área da saúde e da educação
Passavam das 13h quando o suboficial do exército boliviano, Mario Terán, entrou na pequena sala da escola na aldeia de La Higuera, na Bolívia, que naquele momento funcionava como cela. Seus olhos permaneciam baixos e seu caminhar titubeava. Anos depois, o próprio Terán diria que levou 40 minutos para decidir cumprir a ordem. E que, pouco antes de entrar na escola, ele até decidiu ir falar com o Coronel Pérez, na improvável esperança de que a ordem tivesse sido revogada. Mas os gritos com os quais o coronel respondeu foram suficientes para dissipar qualquer vacilação.
As instruções dadas por Felix Ismael Rodriguez, o homem encarregado da operação, eram claras: os tiros deveriam ser disparados abaixo do pescoço. Dessa forma, eles poderiam simular um enfrentamento e tentar declarar que o prisioneiro tinha sido morto em combate. Rodriguez era um agente experiente da CIA que, em abril de 1961, tinha comandado cerca de 1.500 mercenários na tentativa frustrada de invadir Playa Giron, em Cuba.
Ao entrar na pequena sala da escola, Terán viu o Che sentado em um banco, encostado na parede e com as mãos amarradas. "Você veio para me matar", advertiu Che com uma voz firme que parecia ecoar nas paredes da sala. Terán olhou para o chão sem responder. "O que os outros disseram?", perguntou Che, referindo-se ao restante de seus companheiros de guerrilha que tinham sido capturados e mortos nos dias anteriores. "Nada", respondeu Terán. O Che não pôde deixar de sorrir. "Eles foram corajosos!", exclamou. A imagem de seus companheiros de pé diante do inexorável destino das balas inimigas o encheu de orgulho.
Foi nesse momento que Che, lutando contra a dor de sua perna gravemente ferida, se levantou. "Atire, seu covarde, você vai matar um homem!", disse naquele momento.
Anos mais tarde, o próprio Terán daria sua própria versão. "Naquele momento, vi o Che grande, muito grande, enorme. Seus olhos brilhavam intensamente. Senti que ele estava em cima de mim e, quando ele me encarou, fiquei tonto. Achei que com um movimento rápido o Che poderia tirar a arma de mim. Ele me disse: "Fique calmo e mire bem, você vai matar um homem!", contou o então suboficial à revista Paris Match em uma longa reportagem sobre o episódio.
"Hora 13:10 de 9 de outubro de 1967", escreveu Félix Ismael Rodríguez em seu caderno, ao ouvir o som das balas. Após anos de busca, a CIA tinha conseguido assassinar o homem que conseguiu enganar seus agentes de inteligência milhares de vezes. Violando todos os protocolos da guerra, assassinaram um prisioneiro a sangue frio, em vingança contra o povo rebelde que conseguiu a vitória de uma revolução socialista a menos de 150 quilômetros da costa dos Estados Unidos.
Naquela mesma tarde, um helicóptero levou o corpo de Guevara para Vallegrande, uma pequena cidade no departamento boliviano de Santa Cruz. Lá, na lavanderia do hospital Nuestro Señor de Malta, o corpo de Che permaneceu em exposição como se fosse um troféu. Dezenas de soldados, serviços de inteligência, funcionários do governo e jornalistas desfilaram para ver o corpo do homem que aterrorizou os poderosos e conseguiu acender a esperança dos humildes.
Aproveitando um momento de distração da segurança, as enfermeiras do hospital conseguiram cortar mechas do cabelo de Che. Tranças que mais tarde seriam usadas para construir santuários em sua homenagem.
Na madrugada de 11 de outubro, em um acordo entre a CIA e o exército boliviano, a ordem foi desaparecer com os restos mortais de Che Guevara e de outros membros da guerrilha, que também foram assassinados. Temiam que, se seus corpos fossem enterrados, o local de sepultamento se tornaria um destino de peregrinação para seus seguidores.
No entanto, o medo que eles pretendiam espalhar não conseguiu suprimir a fé do povo. Até hoje, milhares de pessoas visitam o lugar, localizado a 60 quilômetros da escola em La Higuera, onde foi assassinado, para homenagear Che Guevara. Ali, uma placa diz: "ninguém morre enquanto ele for lembrado".
San Guevara de la Higuera / San Guevara
Na selva boliviana
"A experiência guerrilheira de Che na Bolívia não pode ser separada da própria experiência cubana da transição socialista", diz Disamis Arcia Muñoz, pesquisadora do Centro de Estudos Che Guevara, para o Brasil de Fato.
"A participação de Che na Guerrilha da Bolívia tem a ver com a visão que ele tinha da necessidade de internacionalização da revolução. O internacionalismo é frequentemente visto como um modelo de solidariedade — o que também é — mas, acima de tudo, a expansão da revolução foi entendida como uma necessidade para a própria transição socialista de Cuba. Dessa forma, Che deve ser visto como um dos principais arquitetos da política externa daqueles anos, juntamente com Fidel e o então ministro das Relações Exteriores, Raúl Roa", acrescenta.
Em 18 de maio de 1962, Che Guevara fez um longo discurso para os membros do Departamento de Segurança do Estado. Esse discurso é conhecido como "A influência da Revolução Cubana na América Latina". Nele, Che analisa detalhadamente a situação política de cada país do continente e adverte que a Revolução Cubana havia aberto uma janela de possibilidade para que processos revolucionários ocorressem em outras partes do continente, que seria o principal desafio político da revolução.
No entanto, o compromisso com a extensão da revolução socialista estava em contradição com a política que a União Soviética adotava desde a dissolução da Internacional Comunista, que evoluiria para o que na época foi conhecido como "coexistência pacífica".
"Sua concepção e participação direta na luta internacionalista tinham uma inter-relação muito próxima com suas próprias concepções de como construir uma sociedade melhor nas condições de um país do terceiro mundo e neocolonial como Cuba", reflete Disamis Arcia Muñoz. "E como esse desenvolvimento socialista não poderia ser alcançado sem uma zona de integração e articulação continental".
Esses breves mas intensos anos, desde o triunfo da Revolução Cubana até seu assassinato em 1967, foram um período de grandes polêmicas e pesquisas teóricas do Che. Suas atividades eram dedicadas ao trabalho ministerial, ao estudo teórico dos clássicos do marxismo, ao debate em assembleias de trabalhadores, à produção de textos e ao trabalho voluntário.
"Em Che não há divisão entre teoria e prática. É por isso que ele não pode ser entendido em partes e pedaços. A figura de Che Guevara é frequentemente considerada como um ponto de referência ético. Sem dúvida, isso é verdade. Mas Che foi, acima de tudo, um filósofo da práxis, como disse Fernando Martinez Heredia. Um pensador e um militante que, por meio de seus escritos e de seus exemplos, nos deixou muitos elementos úteis para pensarmos em nossas lutas atuais", acrescenta.
Seremos como o Che
Em 18 de outubro de 1967, uma multidão se reuniu na Plaza de la Revolución. A notícia do cruel assassinato afligiu profundamente o povo cubano. Milhares de pessoas de todos os cantos da ilha foram prestar homenagem à memória de Che.
Ao cair da noite, Fidel se dirigiu à multidão. Relembrando histórias do homem que havia sido seu companheiro na Sierra Maestra e nos primeiros anos da construção do projeto revolucionário, com quem havia compartilhado lutas, sonhos, vitórias e derrotas.
Com voz emocionada, Fidel disse: "Se quisermos um modelo de homem, um modelo de homem que não pertença a este tempo, um modelo de homem que pertença ao futuro, eu digo com todo o meu coração que esse modelo, sem uma única mancha em sua conduta, sem uma única mancha em sua atitude, sem uma única mancha em suas ações, esse modelo é o Che! Se quisermos expressar como queremos que nossos filhos sejam, devemos dizer com todo o coração de revolucionários veementes: queremos que eles sejam como o Che!"
Em meio às lágrimas da multidão reunida, começaram a ser ouvidos os primeiros gritos em resposta a Fidel: "Seremos como o Che!
Em 2007, após uma longa doença, uma campanha médica cubana na Bolívia restaurou a visão de Mario Terán. O filho de Terán colocou um anúncio no jornal da cidade de Santa Cruz de la Sierra agradecendo aos médicos cubanos por seu trabalho.
"Playa Girón determina, de certa forma, o caráter socialista da Revolução Cubana" , afirma historiador
Gabriel Vera Lopes
Brasil de Fato | Havana (Cuba)*
Pouco mais de dois anos se passaram desde o triunfo da Revolução Cubana, em janeiro de 1959, antes que Fidel Castro declarasse o caráter socialista do movimento. A declaração ocorreu no crítico mês de abril de 1961, em meio à tentativa de invasão por mercenários para derrubar a revolução: a Invasão da Baía dos Porcos.
Foi em 16 de abril de 1961 a primeira vez que Fidel Castro se referiu à Revolução Cubana como uma revolução socialista. A primeira revolução socialista triunfante na América Latina e no Caribe que sacudiu a História para sempre. Naqueles dias dramáticos, o povo humilde de Cuba decidiu enfrentar até as últimas consequências sua decisão de ser livre. Escolhendo o único caminho possível para a independência: o socialismo.
Em entrevista ao Brasil de Fato, o historiador Raúl Rodriguez, diretor do Centro de Estudos Hemisféricos e dos Estados Unidos (CEHSEU), afirma que, desde o início, a Revolução Cubana se propôs a alcançar "um verdadeiro processo democrático e a independência em relação às potências estrangeiras".
"A Revolução Cubana é uma autêntica revolução social, produto de um processo histórico que data da época da luta anticolonial contra a Espanha e da luta contra o que podemos chamar de neocolonialismo por parte dos Estados Unidos", explica Raúl Rodriguez.
"Os primeiros anos da Revolução foram anos de busca. Onde diferentes ideias e matizes sobre qual modelo seguir convergiram na luta. Sempre com um olho no programa Moncada, isto é, que as transformações que sempre tivessem o objetivo de alcançar maior justiça social. Eram transformações que tinham como objetivo reduzir a pobreza e alfabetizar a população. Mas para atingir esses objetivos do ponto de vista social, era necessário mudar a estrutura econômica".
Durante o processo revolucionário, diferentes organizações se uniram na luta contra a ditadura de Fulgencio Batista, que governou o país entre 1952 e 1959. No entanto, essas organizações tinham maneiras diferentes de entender o processo revolucionário e como a luta contra a ditadura deveria ser realizada.
Por um lado, destacava-se o Movimento 26 de Julho, que havia realizado o ataque ao Quartel Moncada em 1953. O movimento era liderado por Fidel Castro, junto com seu irmão Raúl, e algumas das figuras mais famosas da Revolução Cubana: Camilo Cienfuegos, Ernesto Che Guevara, Vilma Espin e Haydée Santamaría, entre outros.
Também teve enorme importância o Directorio Revolucionario 13 de Marzo, uma organização estudantil clandestina fundada em 1956 por José Antonio Echeverría, então presidente da Federación Estudiantil Universitaria. Assim como o Partido Socialista Popular — que era o nome adotado pelo Partido Comunista Cubano — uma organização mais próxima das posições defendidas pela URSS.
"Apesar de suas diferenças, todas essas organizações buscavam uma mudança necessária na evolução histórica de Cuba em direção a uma sociedade mais inclusiva, com justiça social e uma posição externa que não fosse de submissão aos ditames do imperialismo norte-americano", afirma Rodriguez.
Segundo explica, essa luta por maior independência e justiça social rapidamente encontrou resistência e rejeição tanto das potências imperialistas quanto das próprias classes dominantes de Cuba. Como resultado, o processo revolucionário foi armado com a ideia de que "sob as condições do hemisfério ocidental e da estrutura cubana, somente o socialismo poderia garantir a independência de Cuba". Uma ideia que Rodríguez defende como válida até hoje.
De acordo com ele, essa relação entre "independência nacional" e "transformação da estrutura social e econômica" se deve ao fato de que "tanto a burguesia cubana quanto os setores dominantes tinham uma enorme dependência dos Estados Unidos, o que os tornava uma espécie de sócio menor na estrutura de dominação imperialista, incapaz de romper sua dependência sem romper sua própria estrutura de propriedade".
Cuba foi um dos últimos países a conquistar a independência do império espanhol na América Latina e no Caribe. A independência política só foi conquistada em 1898, e imediatamente sofreu a intervenção dos Estados Unidos. A partir desse momento, Washington estabeleceu uma forte presença de tutela política e econômica na ilha. Inclusive, durante a ditadura de Batista, a ilha ficou conhecida como "o cassino dos Estados Unidos".
Foi somente após o triunfo da Revolução em 1959 que a pequena ilha do Caribe, localizada a apenas 145 quilômetros dos Estados Unidos, começou a avançar rumo à sua independência.
Contra-golpe
Após a queda da ditadura de Fulgencio Batista, a Revolução foi confrontada com atos de terrorismo e sabotagem para derrubá-la, atos que se multiplicaram sob os auspícios dos Estados Unidos. A violência contrarrevolucionária chegou a tal ponto que aviões estadunidenses bombardearam plantações de açúcar, o principal setor econômico de Cuba, e chegaram a disparar contra civis, ao sobrevoar Havana.
Com a participação de uma grande delegação brasileira, foi realizado o primeiro encontro de Religiões de matriz africana
Gabriel Vera Lopes
Brasil de Fato | Havana (Cuba) | 03 de dezembro de 2023
Ao chegar a noite, o som dos tambores inunda os bairros de Havana. Em cada comunidade, uma casa é transformada em um ponto de encontro onde o canto e a dança se misturam às liturgias religiosas e sabedorias da fé. A presença das religiões africanas na ilha é constante. As formas culturais e religiosas se manifestam nas tradições, nos rituais, nas vestimentas, na música e na resiliência de seu povo.
É impossível entender Cuba sem levar em conta a presença dessas culturas ancestrais. Transmitidas, de geração em geração, as religiões de origem africana foram mantidas e defendidas como um segredo aberto que precisou fugir da perseguição e da proibição dos colonialistas para depois resistir às condenações e aos preconceitos da sociedade branca, após a independência.
"Sem a África, sem seus filhos e filhas, sem sua cultura e costumes, sem suas línguas e deuses, Cuba não seria o que é hoje. Portanto, o povo cubano tem uma dívida com a África", afirmou em 1988 Fidel Castro ao receber a Ordem da Boa Esperança na África do Sul pela colaboração de Cuba na luta contra o apartheid, regime racista do país.
O Caribe foi uma das áreas para onde as potências europeias traficavam a maioria dos escravos. De acordo com um dos primeiros censos realizados na ilha, em 1867, quase metade da população era de origem africana ou de ascendência africana.
"Hoje, Cuba é um dos países que mais preservou a religiosidade de matriz africana", disse ao Brasil de Fato, Nelson Aboy Domingo, professor de antropologia das religiões afro-cubanas.
"Ao contrário de outros processos de transculturação, em Cuba eles conseguiram construir casas ou cabildos a partir das diferentes nações que vieram de partes distintas do continente africano. Assim, cada um desses cabildos conseguiu conservar uma certa ortodoxia e preservar sua identidade. Isso significa que a religiosidade foi preservada em grande parte. Até mesmo com menos perdas do que em muitos lugares da África, onde as sucessivas agressões coloniais fizeram com que muito do que compõe nossas religiões fosse perdido", afirma.
Livro de Raúl Capote detalha Projeto Génesis, barrado pela contraespionagem cubana
Katia Marko
Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) | 28 de Outubro de 2023
Raúl Capote passou por Porto Alegre para lançar o livro “Inimigo: A guerra da CIA contra a juventude cubana” e a Campanha Cuba Vive, Resiste - Foto: Katia Marko
Durante sete anos, o jornalista cubano Raúl Antonio Capote Fernández foi um agente duplo. Aconteceu entre 2004 e 2011. Nesta história real de contraespionagem, para a Central Intelligence Agency, a CIA, ele era um opositor do governo cubano. Na realidade, Capote agia para descobrir o que estava por trás do projeto Génesis, engendrado pela espionagem norte-americana e com os olhos postados na ilha do Caribe.
Sob o biombo de ONGs, o plano visava doutrinar jovens estudantes cubanos no exterior que, seduzidos pela ideia de “modernizar” Cuba, retornariam ao seu país para semear uma rebelião, usando primeiro as redes e depois as ruas, partindo para o confronto até o ponto de demandarem uma intervenção militar dos EUA. Uma primeira versão das “revoluções coloridas” que agitaram o Oriente Médio e parte do mundo no embalo das guerras híbridas para promover golpes de estado. Em Cuba, não deu certo porque Havana descobriu.
Agora, Capote está lançando o relato dessa aventura em português. É o livro “Inimigo: A guerra da CIA contra a juventude cubana”. Publicado em Cuba em 2012, já recebeu edições em italiano, alemão, turco e russo. Também será editado em inglês e vai virar série de TV. Editor do Granma Internacional, também professor e escritor, Capote passou por Porto Alegre para lançar o livro e a Campanha Cuba Vive, Resiste, e conversou com Brasil de Fato RS. Confira:
Brasil de Fato RS - O que podes contar dessa história que trazes no livro?
Raúl Capote - Escrevi o livro em 2012. É um testemunho baseado em histórias reais, mais do que baseado, é absolutamente real. É a história de um agente secreto cubano que trabalhou durante mais de sete anos dentro da CIA, a agência central de inteligência dos Estados Unidos. Sete anos trabalhando em um projeto da CIA dirigido à juventude, sobretudo aos jovens universitários cubanos, tratando de construir uma liderança contrarrevolucionária.
Em 2004, quando se começa a contar essa história, os EUA decidiram mudar a política em relação a Cuba. Reconhecem que tudo o que fizeram durante tantos anos fracassou. Necessitavam preparar-se para o que ocorreria na direção do país. Prepararam-se para 10 ou 15 anos, quando Fidel já não estivesse, para impedir a continuidade revolucionária. O projeto se chamou Génesis.
A CIA criou um plano destinado para estudantes cubanos a serem formados na Europa
BdF RS - Génesis...
Raúl Capote - Começa com um ponto essencial para o trabalho que era a formação de uma nova liderança. Cria-se um plano (direcionado) a jovens estudantes cubanos a serem formados na Europa e com um vínculo estreito com organizações não governamentais. Elas financiariam os projetos.
Após esses 10 ou 15 anos, depois de cursos de pós-graduação, mestrado, doutorado, iriam para os serviços, a economia, a política, as forças armadas, os meios de comunicação. E isso iria formando uma rede com vínculos de formação ao governo estadunidense e, sobretudo, com a CIA. Ainda que não soubessem, porque acreditavam que realmente estavam sendo patrocinados por uma ONG.
BdF RS - Essas ONGs estavam atuando dentro de Cuba?
Raúl Capote - Sim, era um plano interno contra a revolução. A outra parte do projeto implicava desenvolver uma intensa guerra no terreno das ideias, da cultura, usando a indústria do entretenimento. Uma guerra muito sutil…
BdF RS - Conhecemos bem ela...
Raúl Capote - Foi criado para esse projeto secreto um canal offline. Criou-se um público. Parecia algo sem consequências. Bem, que bom, as pessoas querem ver televisão. Eram programas elaborados especialmente para Cuba. Alguns eram conhecidos e outros elaborados unicamente para Cuba.
A ideia era criar em Cuba uma massa crítica de pessoas que não acreditavam na revolução. Nunca foram contrarrevolucionários. Eram pessoas a quem não interessava a revolução para nada. Utilizavam-se os manuais das revoluções coloridas e, sobretudo, a experiência dos iugoslavos do movimento OPOR.
Raúl Capote - Uma nova estratégia desenhada pela CIA que busca (derrubar um governo) com o menor esforço possível, sem nenhum armamento.
Começariam a atuar esses jovens treinados nas 150 ações para acabar com o governo
BdF RS - Sim, através da ideologia...
Raúl Capote - Tinham um manual chamado “Manual para pôr fim a uma ditadura" com 150 ações a serem feitas. Diz que, eliminando-se os pilares que sustentam um governo, ele cai, em implosão. A ideia é provocar o caos. Não que o governo renuncie, mas que não possa governar. Esse é o sentido da estratégia.
A Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) votou esmagadoramente para condenar o embargo econômico promovido pelos EUA a Cuba.
Na votação na ONU, 185 membros entre 193 apoiaram a resolução cubana, que condena e pede o fim do embargo à economia do país. Estados Unidos e Israel foram os únicos que se opuseram, e o Brasil e a Ucrânia se abstiveram.
"Ilegal", "inaceitável", "criminoso", "desumano", "agressão econômica": esses foram alguns dos termos usados pelos palestrantes no púlpito da ONU. Na resolução, Cuba defende a "não ingerência em seus assuntos internos" e as liberdades "de comércio e de navegação" diante do embargo, imposto em fevereiro de 1962, durante a Guerra Fria.
Chanceler cubano, Bruno Rodríguez disse hoje (3) que o governo de Joe Biden, presidente dos EUA, continua a política de "pressão máxima" de Donald Trump.
O conselheiro político dos EUA na ONU, John Kelley, defendeu a postura norte-americana. Ele alegou que os Estados Unidos "continuam comprometidos com a busca da liberdade e dignidade do povo cubano".
Em seguida, fez críticas ao regime político cubano, argumentando que o país perseguiu manifestantes e "usou penas de prisão severas, mesmo contra menores, intimidação, táticas, prisões, interrupções na Internet, multidões patrocinadas pelo governo e condições horrendas nas prisões para tentar impedir que os cubanos exercessem seus direitos humanos".
O vice-representante permanente de Cuba na ONU, Yuri Gala, respondeu que "se o governo dos Estados Unidos realmente se importasse com o bem-estar, direitos humanos e autodeterminação do povo cubano, poderia suspender o embargo".
Foi a maior expedição militar de toda a história do mar do Caribe. E o maior fiasco.
Os donos de Cuba, despojados, desalojados, proclamavam, de Miami, que morreriam lutando pela devolução, contra a revolução.
O governo norte-americano acreditou neles, e seus serviços de inteligência demonstraram, uma vez mais, que não mereciam esse nome.
No dia 20 de abril de 1961, três dias depois do desembarque na Baía dos Porcos, os heróis, armados até os dentes, apoiados por barcos e aviões, se renderam sem lutar.
(Eduardo Galeano, no livro Os filhos dos dias (Um calendário histórico sobre a humanidade), L&PM Editores, 2012, página 134)
Por mais artigos que uma Constituição possa ter, por mais ideias que ela apresente e direitos que garanta ao povo, o Prêambulo é onde está a essência de uma Carta Magna, normalmente é nessa parte, que antecede os textos constitucionais, que as intenções e os anseios de quem redigiu aquele texto se demonstram de forma clara e cristalina.
Em tempos de descontentamentos de legítimos por parte do povo irmão de Cuba, e tentativas de instrumentalização contrarrevolucionária, alinhada com o imperialismo estadounidense, que nunca aceitou perder o poder e influência forçada que tinha sobre a ilha, é importante nos recordarmos da história e dos motivos que levaram Cuba a se rebelar contra esse modelo que segue dominante no mundo.
A Constituição atual de Cuba é de 2019, o Preâmbulo dessa constituição basicamente repete o texto da anterior, de 1976, com algumas alterações e ajustes, mantendo a força do texto original e repleto de referências históricas, passando por basicamente todos os períodos do país, até chegar nos tempos de hoje, reafirmando o compromisso com a Revolução e o Socialismo como horizontes.
NÓS, O POVO DE CUBA, inspirados no heroísmo e patriotismo dos que lutaram por uma pátria livre, independente, soberana, democrática, de justiça social e solidariedade humana, forjada no sacrifício de nossos antecessores pelos povos originários que resistiram à submissão;
pelos escravos que se rebelaram contra seus amos;
pelos que despertaram a consciência nacional e a ânsia cubana de pátria e liberdade;
pelos patriotas que em 1868 iniciaram as guerras de independência contra o colonialismo espanhol e os que em um último impulso de 1895 as levaram à vitória de 1898, que lhes foi arrebatada pela intervenção e ocupação militar do imperialismo ianque;
pelos que lutaram durante mais de cinquenta anos contra o domínio imperialista, a corrupção política, a falta de direitos e liberdades populares, o desemprego, a exploração imposta por capitalistas, terra tenentes e outros males sociais;
pelos que promoveram, integraram e desenvolveram as primeiras organizações de operários e de camponeses, difundiram as ideias socialistas e fundaram os primeiros movimentos revolucionários marxistas e leninistas;
pelos integrantes da vanguarda da Geração do Centenário do nascimento de Martí, que nutridos por seu magistério nos conduziram à vitória revolucionária popular de janeiro de 1959;
pelos que, com o sacrifício de suas vidas, defenderam a Revolução contribuindo com a sua consolidação definitiva;
pelos que massivamente cumpriram heroicas missões internacionalistas;
pela resistência época e unidade do nosso povo;
GUIADOS pelo mais avançado pensamento revolucionário, anti imperialista e marxista cubano, latino-americano e universal, em particular pelo ideário e exemplo de Martí e Fidel, e as ideias de emancipação social de Marx, Engels e Lênin;
APOIADOS no internacionalismo proletário, na amizade fraternal, a ajuda, a cooperação e a solidariedade dos povos do mundo, especialmente os da América Latina e do Caribe;
DECIDIDOS a levar adiante a Revolução triunfadora do Moncada e do Granma, da Serra, da luta clandestina e de Girón, que sustentada no suporte e unidade das principais forças revolucionárias e do povo, conquistou a independência nacional, estabeleceu o poder revolucionário, realizou transformações democráticas, iniciou a construção do socialismo;
CONVENCIDOS de que Cuba jamais voltará ao capitalismo como regime sustentado na exploração do homem pelo homem, e que somente no socialismo e no comunismo o ser humano alcança a sua dignidade plena;
CONSCIENTES de que a unidade nacional e a liderança do Partido Comunista de Cuba, nascido da vontade unitária das organizações que contribuíram decisivamente ao triunfo da Revolução e legitimado pelo povo, constituem pilares fundamentais e garantias da nossa ordem política, econômica e social;
IDENTIFICADOS com os postulados expostos no conceito de Revolução, expresso por nosso Comandante em Chefe Fidel Castro Ruz em 1º de Maio de 2000;
DECLARAMOS nossa vontade de que a lei das leis da República esteja presidida por esse profundo anseio, ao fim logrado, de José Martí:
“Eu quero que a lei primeira de nossa República seja o culto aos cubanos e dignidade plena dos homens”
ADOTAMOS por nosso voto livre, mediante referendo popular, há 150 anos de nossa primeira constituição mambisa, aprovada em Guaimáro em 10 de Abril 1869, a seguinte: CONSTITUIÇÃO
Por Hélio Doyle, Conselheiro e diretor da ABI em Brasília
Ao escancarar uma realidade muito pouco conhecida até mesmo pelo cidadão médio dos Estados Unidos, a Netflix incorreu na ira de um dos mais poderosos grupos de pressão daquele país: as organizações políticas, com base na Flórida, que desde 1959 lutam, com ações armadas e atos terroristas em Cuba e poderoso lobby político em Washington, pela derrubada do regime socialista cubano.
Os líderes dessas organizações não gostaram nem um pouco de se ver nas telas de todo o mundo como terroristas e traficantes de drogas e armas. Por isso, têm feito de tudo para obrigar a Netflix e retirar de sua programação o filme “Wasp Network”, ou “Rede Vespa”, dirigido pelo francês Olivier Assayas e baseado no livro “Os últimos soldados da Guerra Fria”, escrito pelo jornalista e escritor brasileiro Fernando Morais.
Foi a maior expedição militar de toda a história do mar do Caribe. E o maior fiasco.
Os donos de Cuba, despojados, desalojados, proclamavam, de Miami, que morreriam lutando pela devolução, contra a revolução.
O governo norte-americano acreditou neles, e seus serviços de inteligência demonstraram, uma vez mais, que não mereciam esse nome.
No dia 20 de abril de 1961, três dias depois do desembarque na Baía dos Porcos, os heróis, armados até os dentes, apoiados por barcos e aviões, se renderam sem lutar.
(Eduardo Galeano, no livro Os filhos dos dias (Um calendário histórico sobre a humanidade), Editora L&PM, 2012, página 134)
Um programa cubano para tratar a esclerose múltipla, uma doença que ataca o sistema nervoso, tem tido bons resultados, disseram especialistas na quinta-feira (2). A informação é da Agência Xinhua.
O programa utiliza um procedimento único, projetado em Cuba para combater a doença na província central de Sancti Spíritus, e agora será estendido a outros centros de saúde cubanos.
Segundo o portal de notícias Cuba Si, Rodneys Jimenez, o principal pesquisador do projeto, explicou que o tratamento tem como público pacientes em estágios avançados de esclerose múltipla de deterioração adicional.
Procura-se abordar o tratamento de forma holística, considerando as funções motoras do paciente, o estado emocional e habilidades manuais para proporcionar melhor qualidade de vida.
A esclerose múltipla muitas vezes interrompe a capacidade de partes do sistema nervoso de se comunicar, resultando em problemas físicos, mentais e às vezes psiquiátricos.
Esta doença não tem cura e é mais comum em pessoas com idade entre 20 e 40 anos. O único tratamento atualmente é controlar os sintomas e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
O líder cubano foi um dos personagens mais emblemáticos do século 20 Alejandro Ernesto/Lusa/Direitos Reservados
Antes de sua morte novembro, Fidel disse a seu irmão e sucessor, Raúl Castro, que não queria ser imortalizado dessa forma. Em um tributo público ao ex-líder, Raúl Castro disse: "O líder da revolução rejeitou qualquer exibição de culto de personalidade e ... até suas últimas horas insistiu que uma vez morto, seu nome nunca seria usado para nomear instituições, praças, parques, avenidas, ruas ou outros locais públicos, e nenhum monumento, busto, estátua e outros tipos de tributos seriam construídos em sua memória”.
Foto: The Presidential Press and Information Office
Figura lendária do século XX, Fidel Castro se projetou ao mundo a partir da pequena ilha de Cuba
O governo de Cuba anunciou na madrugada de hoje a morte do líder da Revolução Cubana, Fidel Castro, aos 90 anos.
Segundo o anúncio, feito por Raúl na TV estatal cubana, o corpo de Fidel será cremado ainda hoje, sábado, em Havana.
'Às 22h29 morreu o comandante e chefe da Revolução Cubana, Fidel Castro', anunciou Raúl Castro na mensagem televisionada.
Figura lendária do século XX, Fidel Castro se projetou ao mundo a partir da pequena ilha de Cuba, onde exerceu o poder absoluto, que passou ao irmão, Raúl Castro, em 31 de julho de 2006, quando sofreu uma grave enfermidade instestinal.
Em fevereiro de 2008, Castro renunciou definitivamente à presidência de Cuba e quase três anos depois, em abril de 2011, se desligou definitivamente da liderança do Partido Comunista (único).
A doença e a transferência de poder para o irmão mais novo marcaram uma nova fase em Cuba, com a perspectiva de abertura econômica, após 49 da revolução que colocou Fidel Castro no poder, em 1959.
Fidel em festa pelos 90 anos - Foto: Ismael Francisco/ Cubadebate
O início da história de Fidel Castro na política deu-se em 1950, quando filiou-se ao Partido Comunista. Três anos depois, ao lado do irmão Raul Castro, Fidel liderou 150 homens em um ataque a um quartel em Santiago de Cuba. O plano acabou frustrado e o político foi capturado e condenado a 15 anos de prisão.
Em 1955, Fidel criou o Movimento Revolucionário 26 de julho, mesmo ano em que uma anistia libertou ele e seu irmão. Também neste ano conheceu o líder argentino Ernesto "Che" Guevara, no México, e recrutou homens para dar início à guerrilha contra Fulgêncio Batista.
No final de 1956, Fidel inicia a guerrilha, que derrotou Fulgêncio três anos mais tarde. Ainda em 1959 assumiu o poder. No ano seguinte, o líder nacionalizou empresas americanas, ao mesmo passo que os EUA proibiram exportações destinadas à Cuba, com exceção de remédio e comida.
Em 1961, os EUA rompem relações diplomáticas com o país e Fidel declara que Cuba é uma nação socialista.
Fidel Castro nos primeiros anos da Revolução Cubana - Foto: Leslie Jones Collection/ Boston Public Library
Em 1997, Fidel Castro declara Raul Castro, seu irmão mais novo, como seu sucessor. Em fevereiro de 2008 renunciou oficialmente o cargo devido a problemas de saúde. Desde então, o líder fazia poucas aparições públicas.
O ex-presidente cubano Fidel Castro afirmou que
Cuba não vai esquecer as confrontações do passado com os Estados Unidos e
que a ilha “não precisa de presentes” do vizinho do Norte. “Não
precisamos que o império nos dê nenhum presente”, afirmou o líder da
Revolução Cubana, de 89 anos, que está fora do poder desde 2006.
Sexta, 9 de outubro de 2015 Até sempre, Comandante!
Monumento a Che na Plaza de La Revolucion Ernesto Guevara, em Santa Clara, Cuba.
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Outubro
8
Os três
Em 1967,
mil e setecentos soldados encurralaram Che Guevara e seus pouquíssimos
guerrilheiros na Bolívia, na Quebrada de Yuro, prisioneiro, foi assassinado no
dia seguinte.
Em 1919,
Emiliano Zapata tinha sido crivado de balas no México.
Em 1934,
mataram Augusto César Sandino na Nicarágua.
Os três
tinham a mesma idade, estavam a ponto de fazer quarenta anos.
Os três
caíram a tiros, a traição, em emboscadas.
Os três,
latino-americanos do século XX, compartilharam o mapa do tempo.
E os três foram
castigados por se negarem a repetir a história.
Eduardo Galeano, no livro “Os filhos dos dias”, 2ª edição, folha
320, editora L&PM.
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Outubro
9
Eu vi ele e vi que ele me via
Em 1967, quando Che Guevara jazia
na escola de La Higuera, assassinado por ordem dos generais bolivianos e por
seus mandantes distantes, uma mulher contou o que havia visto. Ela era uma a
mais, camponesa entre muitos camponeses que entraram na escola e caminharam,
lentamente, ao redor do morto:
— A gente passava por ali e ele
olhava para a gente —disse.
— A gente passava e ele olhava.
Ele sempre olhava para a gente. Era muito simpático.
Eduardo Galeano, no livro “Os filhos dos dias”, 2ª edição, folha
321, editora L&PM.
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"Muitos me chamarão de aventureiro e o sou, só que de um tipo diferente: dos que entregam a pele para provar suas verdades" (da última carta do Che aos seus pais)
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"Deixe-me dizer, com o risco de parecer ridículo, que o verdadeiro revolucionário é movido por grandes sentimentos de amor..." (Guevara)
*** Geraldo Vandré
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"Hasta siempre Comandante"- Silvio Rodriguez (Con discursos del Che)