Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)
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segunda-feira, 7 de outubro de 2024

Fernando Siqueira: “Petrobrás ainda é esperança de redenção do povo”

Segunda, 7 de outubro de 2024

Vice da AEPET cobra retomada dos investimentos em pesquisa e inovação.

Da AEPET —Associação dos Engenheiros da Petrobrás
Publicado em 03/10/2024


O vice-presidente da AEPET Fernando Siqueira celebrou os 71 anos da Petrobrás, lembrados nesta quinta-feira (03), e ressaltou o papel da empresa na perspectiva da soberania nacional.

Na entrevista que concedeu ao Programa Faixa Livre, Siqueira atestou o potencial da estatal no encargo da transição energética e destacou a necessidade da retomada dos investimentos em pesquisa e inovação.

Clique aqui para assistir

Fonte(s) / Referência(s):
Jornalismo AEPET

quinta-feira, 13 de junho de 2024

Reabertura da Fafen-PR reduzirá dependência de fertilizantes de outros países

Quinta, 13 de junho de 2024

Reabertura da Fafen, paralisada durante governo Bolsonaro, é resultado da luta dos trabalhadores, dizem lideranças sindicais - Pedro Carrano

Com a retomada das operações, trabalhadores demitidos na época do fechamento serão readmitidos

Ana Carolina Caldas
Curitiba (PR) | 13 de junho de 2024

Parada desde 2020, a Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados do Paraná (Fafen-PR), na cidade de Araucária, voltará a funcionar. Em comunicado no dia 7 de junho, a diretoria executiva da Petrobrás confirmou o início do processo para retomada das operações, assim como recontratação de empregados demitidos na época. Lideranças sindicais comemoram a notícia e destacam que o retorno da fábrica se trata de uma vitória dos trabalhadores que virá para fortalecer a soberania nacional.

A unidade está parada desde 2020, durante o mandato do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL-RJ). A interrupção das atividades, à época, foi responsável por uma das maiores greves da história dos petroleiros. Em participação no Programa Quarta Sindical (Brasil de Fato/CUT Paraná), o diretor do Sindipetro PR/SC, Ricardo Marinho e o dirigente do Sindiquímica-PR, Patric Melo relembraram a luta e os impactos negativos do fechamento na vida dos trabalhadores e suas famílias e para o país.

As lideranças destacam ainda que a retomada ampliará a produção de fertilizantes, diminuindo a necessidade de importação e dependência de outros países.


"Reabertura da Fafen-PR" foi tema do Programa Quarta Sindical (Brasil de Fato Paraná / CUT Paraná / Reprodução

Para Patric Melo, do Sindiquímica, o retorno da Fafen coloca o país novamente como importante produtor de fertilizantes. “Sem dúvida vai ser um impacto grande. Não só a reabertura da Fafen-PR, mas de todas as outras empresas que já estão no radar, como Fafen Bahia, de Sergipe e a inauguração da fábrica em Mato Grosso, que deveria estar em operação já há muito tempo. Isso vai ser essencial para o Brasil e vai ter reflexo quase que imediato. Tenho certeza que serão impactos de colocar o país como expoente que já foi com toda essa disponibilidade no mercado de produção, tanto de fertilizantes como outros insumos que elas vão produzir", destacou.

quarta-feira, 27 de março de 2024

Manifesto defende revisão de contratos de licitação da P-84 e P-85

Quarta, 27 de março de 2024

Regras atuais eliminam concorrência e favorecem estaleiros de fora do Brasil, afirmam entidades que assinam o documento.

Da AEPET —Associação dos Engenheiros da Petrobrás
Publicado na AEPET em 26/03/2024



A revisão das regras de licitação das plataformas P-84 e P85, a fim de que as unidades possam ser parcialmente construídas no Brasil, é uma das propostas do manifesto lançado nesta segunda-feira, 25, em Niterói (RJ), pelo Fórum em Defesa da Indústria Naval e Offshore do Rio de Janeiro, Frente Parlamentar Nacional em Defesa da Indústria Naval e Frente Parlamentar Estadual de Acompanhamento do Pólo Gaslub. Encaminhado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o documento dá ênfase à defesa dos empregos nas indústrias de petróleo, gás e navalO manifesto, com 17 principais sugestões, reivindica que a P84 e a P85, destinadas ao pré-sal da Bacia de Santos, sejam licitadas por módulos (divididos em contratos de cinco módulos separados, além do casco da embarcação), de forma a viabilizar a participação de estaleiros nacionais. Como está colocada hoje, a licitação por unidade inteira, única e completa, elimina a competição, permitindo, na prática, somente o ingresso de grandes estaleiros estrangeiros, no exterior, dado o alto valor da encomenda. As duas plataformas são consideradas as mais caras; cada uma custando cerca de US$ 4 bilhões.

O texto defende também a mudança do modelo de contratação das FPSO (sigla em inglês que identifica plataformas flutuantes com capacidade de produzir, armazenar e descarregar petróleo) para o Projeto de Revitalização dos campos de Campos, especialmente para Albacora e para as que serão lançadas – Barracuda e Caratinga. Na contratação de plataformas e FPSO, a recomendação feita no documento é abandonar a modalidade de afretamento da unidade, adotando a contratação de unidade própria modalidade EPC (sigla em inglês para Engenharia, Suprimentos e Construção) em múltiplos contratos, com definição de conteúdo local mínimo entre 30% e 60%, por tipo de unidade, buscando potencializar as possibilidades de aproveitamento da indústria local.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

A VERDADE DA ENERGIA, DO PETRÓLEO E DA PETROBRÁS

Quarta, 14 de fevereiro de 2024

 

Pedro Augusto Pinho*

Vivemos, neste século XXI, mais um período de guerras e embustes, agravados pelo enorme desenvolvimento científico e tecnológico ocorrido nos últimos 80 anos. O poder que buscou a hegemonia mundial não se sustentou por mais de uma década. Mas criou novas mitologias cuja exposição é o objeto deste artigo; mostrar conexões que não interessam ao neoliberalismo. O uso do petróleo é combatido, desdenhado, como dizia antigo ditado, para dele se apossar barato. A globalização vem fantasiada em passeatas com bandeiras nacionais, e o único interesse está no lucro monetário, como os falsos milagres neopentecostais.


O ESPÍRITO DO TEMPO

Tivemos a fissão nuclear, que nosso grande pensador, o antropólogo Darcy Ribeiro, denominou “termonuclear” a civilização que dela surgia. E esta tecnologia avança para novo passo com a fusão nuclear.

Tivemos, também, na tecnologia da informação, salto inimaginável com dois eventos, na década de 1940: o primeiro computador, o “Electronic Numerical Integrator and Computer” (ENIAC), em fevereiro de 1946, e a publicação de “A Mathematical Theory of Communication”, em julho de 1948, na “Bell System Technical Journal”, pelo matemático nascido em Michigan (Estados Unidos da América - EUA) Claude E. Shannon.

Somos, hoje, a civilização cibernética termonuclear, acrescentando a perspectiva sistêmica de dois pensadores: o biólogo austríaco Ludwig von Bertalanffy, com trabalhos desenvolvidos entre 1925 e 1937 sob o título de “Teoria dos Sistemas Gerais”, e o matemático estadunidense Norbert Wiener com sua publicação de 1948, “Cybernetics: Or Control and Communication in the Animal and the Machine”.

Portanto, na segunda metade do século XX estava o mundo aparelhado com conhecimentos muito superiores àquele que tivera ao fim da I Grande Guerra.

Este conhecimento encontrava o mundo repartido em diversos poderes que surgiam, que se enfraqueciam e que se transformavam. Estes poderes tinham igualmente maior conhecimento do homem e da sociedade, graças aos trabalhos de médicos, como o alemão Wilhelm Wundt (1832-1920), e o austríaco Sigmund Freud (1856-1939), do neurologista francês Jean-Martin Charcot (1825-1893), do psiquiatra suíço Carl Gustav Jung (1875-1961), do jurista alemão Maximilian (Max) Weber (1864-1920), de franceses, como o antropólogo Émile Durkheim (1858-1917), e o filósofo Augusto Comte (1798-1857), dos filósofos alemães Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895), do pensador e filólogo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900), dos estadunidenses, matemático e linguista Charles Sanders Peirce (1839-1914) e psicólogo William James (1842-1910), para nos centrarmos no século XIX, início do XX, ou seja, anteriores, mas próximos, aos saltos tecnológicos mencionados.

Com este aparelhamento intelectual, científico e societário, do homem individual e coletivo, e de novas ferramentas à disposição, testaram-se ideologias conflitantes e governos, dos mais díspares. E não foram as soluções mais benéficas à sociedade humana que se impuseram. Bem ao contrário. Vivemos, em grande parte do mundo, um sistema totalitário, de falácias, concentrador de renda, iniciador de guerras, que distribui miséria, fome e morte pelo mundo.

Vamos restringir nossas análises à questão da energia e ao petróleo, que é a fonte primária que abastece mais da metade da população, nesta terceira década do século XXI.


A QUESTÃO DA ENERGIA

O homem, que nasceu no leste da África (Etiópia, Uganda ou Quênia) e se espalhou pelo mundo, tem 32.000 anos. Por cerca de 10.000 anos usou somente a energia do próprio corpo, o que não o impediu de povoar as margens do rio Nilo, o sul e oeste africano e chegar ao Oriente Médio (Mesopotâmia). Teve dificuldade de ir mais ao norte, pelas consequências da última era glacial (Würn, há 150.000 anos), mas conseguiu produzir e dominar o fogo. Foi um grande momento na ampliação da energia a disposição da humanidade. E assim este homem chegou à Europa.

Mais 3.000 anos se passam e domina o vento. Já não era apenas o coletor-caçador, mas o incipiente agricultor. Também domestica animais e aprende a usar a corrente dos rios. Este homem mais habilitado caminha pela Ásia e fará, após 20.000 anos, sua chegada à América.

A maioria dos antropólogos estima que o homem ingressou na América caminhando pela ponte de gelo, ainda resquício da glaciação, que a unia à Ásia.

Porém existe quem defenda, observando a civilização que se constituíra onde hoje estão as províncias chinesas de Hebei e Shandong (Zhou, pelo século X a.C.), contemporânea dos egípcios, sumérios e hititas, que ele chegou por embarcações.

Podemos aceitar que foram dois caminhos percorridos, pelo gelo e pelo mar, até chegar às Américas. Mas o certo é que, com uso de energias cada vez mais poderosas, o homem aumentou enormemente a capacidade de usar os recursos ambientais para viver melhor e com mais segurança.

E, a cada energia que agregava, mais rapidamente descobria nova fonte e acelerava, ainda mais, o progresso da sociedade humana.

As civilizações que foram se formando a partir da Egípcia até a formada na Idade Média, foram criadoras de muitos artefatos, principalmente os descendentes dos Zhou (papel, pólvora, bússola), também criaram deuses, organizaram-se de modos distintos, quase sempre preservando para uma etnia ou, mais estreitamente, para uma dinastia, o poder local. Houve a excepcionalidade romana que estendeu o conceito de cidadania aos residentes do Império ao redor do Mar Mediterrâneo.

Porém, no que diz respeito a fonte de energia, nada foi acrescentado à do corpo humano, do fogo (com mais recursos para produzir e manter), dos ventos, das águas e do sol, que chegou a ser Deus.

A nova fonte de energia surgiu entre 1760 e algum momento da década de 1820: a energia do carvão mineral, uma energia de material fóssil. Veja-se que o homem desde sua aparição na terra até iniciar o uso de combustíveis fósseis levou pouco mais de 31.800 anos.

É muito importante termos estas datas, pois a campanha desencadeada pelo poder das finanças, o neoliberalismo, não atribuiu às movimentações geológicas, aos fenômenos que estão além da capacidade de ação humana, a responsabilidade pelas alterações climáticas, pela poluição atmosférica, porém ao uso dos combustíveis fósseis que o fazemos por 200 ou menos anos.

E as condições de manipulação das informações, a corrupção inerente ao poder financeiro, as falácias divulgadas (fake news) fazem a sociedade propor abandono do petróleo, que responde, hoje, por mais da metade da energia consumida no Planeta.


A FARSA DA TRANSIÇÃO ENERGÉTICA

O petróleo foi descoberto nos EUA, em 1859, mas, como se sabe, entre o abril de 1861 e o de 1865 lá se travou a Guerra Civil ou Guerra da Secessão. Portanto o petróleo somente começa a ser efetivamente utilizado, como produtor de energia, a partir de 1865.

E é tão mais eficaz que as demais fontes produtoras de energia (o carvão mineral, as fontes hídricas, a eólica e a solar) são descartadas e, com pouco mais de 50 anos de uso, os EUA esgotam suas reservas e se tornam importadores de petróleo bruto.

Em setembro de 1928 é celebrado, entre empresas estadunidenses e da Grã-Bretanha, o Acordo de Achnacarry (Escócia), que foi expandido das originais celebrantes: Royal Dutch Shell e Standard Oil (Esso - Exxon), para Anglo-Persian Oil Company (BP), Standard Oil of New York (Socony), Standard Oil of California (Socal), Texaco, e Gulf Oil.

De 1930 até 1968 estas empresas controlaram o preço do petróleo bruto, ou seja, o da sua produção, atravessando guerras e outras dificuldades, no sentido de transferir o maior lucro para atividades de refino e distribuição, que estavam em suas mãos.

Em setembro de 1960, no Iraque (Bagdá), a Arábia Saudita, o Kuwait, o Irã, o Iraque e a Venezuela formam a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) para defender maior participação nas receitas do petróleo. Os países consumidores do petróleo e as finanças europeias e estadunidenses reagem logo e, nos anos 1970, com as denominadas “crises do petróleo”, buscam transferir, principalmente para os países árabes, a culpa dos problemas econômicos e sociais vividos pelo ocidente.

Desde então, ou seja, há quase 60 anos, as finanças lutam para se sobrepor ao poder do petróleo como principal fonte energética da humanidade. E a competência com que se apropriaram do saber da informação faz com que sejamos bombardeados, permanentemente, com notícias contra o petróleo e seu uso. Hoje grupadas sob a designação de “transição energética”.

Diversas Organizações Não Governamentais (ONGs), com sede e financiamento nos EUA, Reino Unido e Europa Ocidental, dedicam-se ao ataque ao petróleo e a dificultar a atuação das empresas de petróleo, principalmente aquelas sob controle estatal.

As reservas que estiveram por muitas décadas sob controle dos EUA e Europa, não mais se submetem ou perderam expressão como as existentes nos EUA, no Canadá e no Mar do Norte.

Uma falácia corre estatísticas subordinadas aos interesses financeiros: somar folhelhos betuminosos, areias betuminosas, como se fossem reservatórios de petróleo. Para que estas acumulações possam ser adicionadas à produção oriunda dos reservatórios de gás, óleo e água, como se distribuem todas as reservas de petróleo, é necessário passar pela formação do betume. Este exige a “lavagem”, com água, areia e produtos químicos, nos folhelhos, após perfurações horizontais, e produz muitos danos ambientais, como a contaminação do solo, dos lençóis freáticos e aquíferos pelos produtos químicos utilizados no processo.

Atualmente as reservas de petróleo se concentram em quatro regiões. As maiores estão no Oriente Médio, incluindo a Arábia Saudita, o Irã, o Iraque, o Kuwait, os Emirados Árabes Unidos, o Catar, Omã, Síria e Gaza. Em segundo estão as reservas latino-americanas: da Venezuela, que é o país com maior reserva mundial, da Colômbia, do México, e do pré-sal brasileiro. Este foi vítima das estatísticas da BP Statistical Review of World Energy, que ao invés de aumentar, como indicam suas crescentes produções e as novas perfurações ampliando os reservatórios, caíram de 13 bilhões de barris, em 2015, para 12,8 bilhões, em 2017, para 12,7 bilhões, em 2019 e, na última edição da revista que incluiu as reservas de petróleo no mundo, em 2020, estavam computados 11,9 bilhões de barris.

Em terceiro lugar estão as reservas da Federação Russa e dos antigos países da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), atualmente formando a Comunidade dos Estados Independentes (CEI), com 12 estados, incluído um dos mais antigos produtores de petróleo, o Azerbaijão.

Por última, está a África que vem se libertando das tutelas colonizadoras europeias, como os países da faixa do Sahel, aos quais se somam as reservas da Líbia, da Nigéria, de Angola, do Egito, do Sudão e, mais recentemente, da Guiné. Vê-se, portanto, que as finanças apátridas, neoliberais, residentes em paraísos fiscais, não têm mais o controle do petróleo, o que as leva a depreciar e criar diversas falsas informações a seu respeito, como exemplificado nas decrescentes reservas do pré-sal.


PARA FINANÇAS, O FUTURO É O PASSADO

O poder da Inglaterra no século XIX era o poder financeiro. Desde as Magnas Cartas o rentismo, inicialmente fundiário, depois financeiro dominou a Inglaterra, a Grã-Bretanha e boa parte do mundo, ao impor a transferência da riqueza das Américas para os cofres britânicos. Apenas os Países Baixos, por algum tempo, fizeram oposição, mas foram incorporados num único sistema, o financeiro, conduzido por judeus, e beneficiando as aristocracias.

Os EUA fizeram, com as lições de Alexander Hamilton e Henry Carey, da industrialização sua força econômica e, assim, passada a I Grande Guerra, surgiram como a maior força do ocidente. Com a Revolução Bolchevista de 1918, os EUA passaram a ser os defensores do capitalismo, divulgado como a ideologia da liberdade e da democracia, a única frente efetiva contra o comunismo.

Ao fim da II Grande Guerra, já não havia dúvida do domínio dos EUA sobre o Ocidente, com o controle das finanças pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pelo Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), controle das forças armadas, pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e pela Organização do Tratado do Sudeste Asiático (OTSA) e pela direção da política pelo Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).

As finanças perdiam para industrialização mas se preparavam para enfrentá-la. Porém, para os EUA, o inimigo era o comunismo e tinham início o desgaste e a despesa para combater a URSS e seus aliados.

As finanças não abrem o jogo, ao contrário, incentivam os EUA na luta contra o comunismo enquanto solapam a mais importante fonte de energia da industrialização: o petróleo. E encontram um grande aliado nos movimentos ambientalistas que a industrialização, com o carvão mineral, exponenciara na Inglaterra. Lembrar que a poluição fez o rio Tâmisa receber, em 1858, a alcunha de Grande Fedor.

De um lado, portanto, a questão ambiental, logo por falácia neoliberal transplantada e universalizada para questão climática, de outro com ajuda das legítimas reivindicações dos países árabes, foi fácil criar as “crises do petróleo”.

As “crises” seriam resolvidas sem o petróleo, voltando ao período dos rios sem poluição — lembrar que em 1610 a água do rio Tâmisa já não era mais considerada potável — do ar puro dos campos, quando as cidades sem esgotos eram fontes de infecções e mortes, de um mundo idílico inexistente.

A proposta não podia ser da hidroeletricidade, por falta de rios na Europa, nem da biomassa, pelo conflito com a agricultura de exportação, logo só restavam a energia eólica e a solar, como no alvorecer da expansão humana pelo mundo.

A década de 1980 revela a vitória das finanças sobre a industrialização, tanto a estadunidense e europeia, quanto a socialista da URSS. E fica claramente demonstrada esta vitória pelo número de paraísos fiscais.

O conceito de paraíso fiscal é elástico, mas com as desregulações financeiras realizadas a partir de 1980, estes locais, onde há sigilo sobre a propriedade financeira e não há tributos incidindo sobre os negócios, cresceram de oito para 84, logo após a crise de 2008/2010.

Estão majoritariamente em territórios da Commonwealth Britânica, que vão do bairro City, em Londres, enclaves continentais como Gibraltar, na Espanha, a remota ilha Norfolk, na Oceania, totalizando 32 locais. Em territórios estadunidenses, como no Estado onde surgiu politicamente o presidente Joe Biden, Delaware, e mais outros três, e ilhas espalhadas pelo mundo somando 10 “paraísos”. Em nove países do Oriente Médio, e em outros tantos na Ásia e Oceania, em sete países europeus, excluindo os Países Baixos, que na Europa e em colônias caribenhas são quatro e a França, que nas costas canadenses e no Pacífico sul têm dois. Também em países da América Central e do Sul que somam seis e da África, cinco. Provavelmente este número será ainda maior após estes 13 anos de governanças neoliberais.

Todo este conjunto, a seu modo, luta para o retorno pré-industrial, no mínimo para eliminar o petróleo das fontes primárias de energia.


ENERGIA PARA O PROGRESSO HUMANO

Como a história do homem na Terra deixa bastante claro, as fontes mais poderosas de energia aceleram o progresso da sociedade. O que não significa descartar outras fontes que podem ter ampliada sua atuação como as hidrelétricas. Além de gerar energia, elas podem ser usadas como alternativa de transporte, o que é comum na Europa e na Ásia, com formação de lagos, canais artificiais, proteção das margens e eclusas. Também uma hidrelétrica pode colaborar em projetos de irrigação e de saneamento básico.

A energia da biomassa, como se manifestou em 2007, José Walter Bautista Vidal, principal responsável pela implantação do Pró-Alcool, não impacta negativamente a luta contra a fome. “Na realidade, o mundo produz 30% a mais de alimentos do que a população necessita”. “Não há falta de alimentos, o que falta são meios para os adquirir devido o modelo econômico opressor e desigual” (J.W. Bautista Vidal, “La Empresa de Agroenergias y la seguridade alimentaria”, em “Biocombustible con Soberanía Alimentaria: una propuesta revolucionaria”, TV Cidade Livre e Patria Latina, DF, 2009).

O diplomata e economista Adriano Benayon, em “Brasil de Fato”, janeiro de 2008, escreveu sob o título “Energia versus Alimentos”: “Promove-se muito injustamente a condenação do uso do etanol e de óleos vegetais para substituir combustíveis fósseis. Os detratores se enganam, porque os males apontados não vêm do etanol, mas por ser produzido no esquema comercial e financeiro concentrador, por agronegócios controlados por “tradings” estadunidenses, europeias, chinesas e japonesas”.

Temos, por conseguinte, duas fontes de energia que podem ser agregadas à produção, trazendo benefícios à sociedade.

Por muitos anos, ainda, será difícil substituir o petróleo, ou seja, o óleo e o gás natural, pelas qualidades, facilidades e preço de obtenção. Além do uso como produtor de energia, o petróleo é insumo industrial de inúmeras aplicações nas mais diversas necessidades humanas: fertilizante, construção civil, higiene, fármacos, equipamentos domésticos etc.

Porém o grande salto na produção de energia está no uso do átomo. Muito já se evoluiu na fissão nuclear, não só na área energética como em aplicações médicas, de transporte, industriais e militares.

E já se consegue produzir energia da fusão nuclear. Empresas estadunidenses e europeias, a República Popular da China, a Federação Russa investem nas pesquisas para produção de energia da fusão nuclear. São estes os caminhos da transição, do contínuo progresso dos povos.

Finalmente é preciso ter também clareza política. Não há esquerda nem direita na produção de energia, mas no uso que se dará a esta energia. Também será apenas com sistema de efetiva participação, por instituições que congreguem os especialistas e os usuários, cujas decisões obriguem a ações dos governos nacionais, que não colocará em conflito, por exemplo, a produção de alimentos e a produção de energia.

Fiquemos com as palavras do economista e filósofo estadunidense Lyndon LaRouche (1922-2019), fundador do Instituto Schiller, no vídeo “The Power of Reason”, divulgado na Executive Inteligence Review (Washington, november 17,1989):

“Em junho de 1968, sabíamos que a Nova Esquerda não era um fenômeno sociológico, mas um projeto internacional, criado de cima para baixo, por agências com a participação da Liga para a Democracia Industrial, nos EUA, e do aparato da Internacional Socialista. Distribuído em um pacote de contracultura de rock-drogas-sexo pelas agências organizadoras. Um movimento fascista estava em construção” (tradução livre).

Este movimento no Brasil levou à redemocratização, à globalização, ao fim da questão nacional, à corrupção, às privatizações, ao fim do controle nacional das energias e a intensa exclusão social e à concentração de renda que se observa hoje, em 2024.


A PETROBRÁS

A ideia do controle nacional do petróleo surge no Clube Militar, na presidência do general Horta Barbosa (1936/1937). Passaram-se 16 anos para que a Lei nº 2004 fosse sancionada, em 3 de outubro de 1953.

A vida da Petrobrás foi difícil, sempre atacada por forças estrangeiras e seus lacaios nacionais, interessados em tirar das mãos nacionais o controle deste precioso motor do desenvolvimento.

Por muito tempo a alegação era de que o Brasil não tinha petróleo; o que é parcial verdade nas bacias terrestres. Porém o petróleo aparece com a evolução tecnológica. Talvez o paleozóico do Amazonas esteja apenas aguardando a ferramenta adequada para se nos revelar.

A Petrobrás, com os governos militares, após 1967, foi para o mar. E se tornou autossuficiente. Em 2006 descobre o pré-sal, que envergonha os jornalistas da Rede Globo de televisão. Primeiro era invenção do Partido dos Trabalhadores (PT), depois que a Petrobrás não tinha tecnologia para explorá-lo, por último era antieconômico.

Em setembro de 2023, a produção de óleo e gás no pré-sal foi 3,594 milhões de barris de óleo equivalente por dia, significando 77% da brasileira.

O Brasil é autossuficiente na produção de petróleo? Em 1969, quando o General Ernesto Geisel assume a presidência da Petrobrás, ele diz que era a geologia quem podia tornar o Brasil autossuficiente em petróleo, mas era decisão da Petrobrás e do País se tornar autossuficiente na produção dos derivados. E iniciou um programa de construção e reforma das refinarias deixando-nos, ainda no século XX, dependentes apenas da importação de óleo cru e, eventualmente, algum derivado.

Porém a ideologia neoliberal entra no Brasil, sorrateira, com o movimento da “redemocratização”, do “mercado” como órgão decisório das políticas nacionais e, ainda pior, com a ausência do Estado na fixação das prioridades para o Brasil, com as privatizações.

Longe de fortalecer a triunfante Petrobrás, os governos, após 1990, foram retirando seus recursos, eliminando atividades e, hoje, a Petrobrás é pálida imagem do que já foi. Uma empresa fatiada.

E o atual governo, na alegada e falaciosa transição energética, troca a plataforma de petróleo pelo cata-vento.


*Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado.

sábado, 16 de dezembro de 2023

A ignorância administra a energia brasileira. Energia faz Brasil retroceder a colônia na era financeira neoliberal

Sábado, 16 de dezembro de 2023

A ignorância administra a energia brasileira

Divulgação Sintec/RS

Energia faz Brasil retroceder a colônia na era financeira neoliberal


Pedro Augusto Pinho*

Ao fim do Governo Geisel, o Brasil despontava como exemplo de governança energética. Tínhamos a energia nuclear, a da tecnologia de ponta, hoje encaminhando para a fusão nuclear, a energia hidrelétrica, a mais limpa e com amplas possibilidades no Brasil em razão da nossa malha fluvial, a energia da biomassa, cujas possibilidades apenas se anteviam com o pró-álcool e poderia ser de grande valia para distribuição de riqueza e mais equilíbrio regional, e a energia do petróleo que já deixava antever a autossuficiência, graças ao esforço no desenvolvimento das tecnologias envolvidas do poço ao posto, realizado pelo Centro de Pesquisa e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello (CENPES), órgão da PETROBRÁS. O ano era 1980.

Porém a campanha das finanças pelo domínio dos governos mundiais estava na reta final. A década de 1980 foi das desregulações financeiras que conclui com a divulgação, em novembro de 1989, do denominado “Consenso de Washington”, a nova constituição a ser adotada por todos países do mundo. A década seguinte tratou de implementar, com a extinção da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), a ideologia neoliberal que anunciava o “fim da história” e das guerras.

O Brasil submergiu a este encantamento e começa a regredir, as estatísticas passam a mostrar fatias da realidade e ocultar o que ocorria com a maioria do povo brasileiro. A fraude, a farsa, a corrupção e as ilusões circenses são próprias das governanças das finanças.

Mas fiquemos no Brasil.

Toda década de 1990 foi de governos financeiros neoliberais, uns mais outros menos afoitos, mas o troféu de demolidor do Estado Nacional Brasileiro cabe a Fernando Henrique Cardoso, que extinguiu o monopólio da Petrobrás e criou organismo estatal, com nomeações de pessoas ignorantes ou ideologicamente comprometidas com o “mercado” para ocupar as funções relevantes: Agência Nacional de Petróleo (ANP), que foi alterando o nome para incorporar outras áreas da energia.

Aos poucos o Brasil foi perdendo o controle da energia nacional, com as privatizações, o encerramento de atividades, que vão da organização das atividades a suas execuções, e deixando avançar capitais estrangeiros no planejamento, na execução e até no controle das energias brasileiras. E como ficamos?

Apesar de tantas fontes e da capacidade de produção de energia em 1980, o Brasil se apresenta, de acordo com a série estatística do órgão estadunidense Energy Information Administration (EIA), como dos países de menor energia per capita do mundo, apenas superior a outras colônias como a Colômbia e o Equador. Para ficarmos na América do Sul, Argentina, Equador e Venezuela são países que têm maior energia per capita do que nossos 17.300 kWh.

Em termos mundiais, somos verdadeiramente ridículos quando comparados com países pobres como a Tailândia, a África do Sul, Portugal, México, Grécia, Belarus e Azerbaijão. Países importadores de energia como Trinidad y Tobago e Cingapura apresentam energia per capita de 107.269 e 147.085 kWh, respectivamente.

Em 2006, com a competência técnica já demonstrada quando da descoberta da enorme reserva do Campo de Majnoon, no Iraque, e com a firmeza e coragem de quem não se intimida, quando se trata do interesse nacional, o geólogo brasileiro Guilherme Estrella, dirigindo a equipe de exploracionistas da Petrobrás, descobre o pré-sal.

A camada do pré-sal tem características distintas das outras descobertas marítimas brasileiras. Em competente e didático artigo, o geólogo e mestre em Estratigrafia (UFRGS) Marco Antônio Pinheiro Machado expõe em “Pré-sal: maldição ou redenção” (in Patrícia Laier, Francisco Gonçalves, Orildo Lima e Silva, organizadores, “A Petrobrás Fatiada”, FEBRAGEO, 2022): “O rifte atlântico rasga o supercontinente de Gondwana … aos poucos a evolução do rifte fica mais lenta e forma-se um grande lago. … É nessa ocasião que se forma a rocha-reservatório do pré-sal. … As entradas esporádicas do mar salinizam o grande lago e a combinação com um clima extremamente árido possibilita a precipitação de vários tipos de sal. … Estima-se que a deposição ou precipitação de sal na Bacia de Santos ocorreu durante 500 mil anos – muito rápido, se comparado com a idade da Terra”.

Esta condição geológica da formação do pré-sal se estende de Santa Catarina até Alagoas.

Na lista de reservas de petróleo, o Brasil ocupa o 14º lugar, em 2022, mas há diversas inconsistências e crassos erros nesta divulgação do Wikipédia. O mais grave é somar areias e folhelhos betuminosos como se fossem reservatórios de petróleo. O próprio modo de obtenção é diferente.

Nos reservatórios, sejam do pré-sal ou do pós-sal, terrestres ou marítimos, é pela pressão nas rochas reservatórios que se extraia o petróleo. O mais comum e inicial processo, para aumentar a energia natural do reservatório, é injetar gás, que ficará na parte superior, e água, que ficará abaixo do óleo, pressionando a saída do óleo das rochas. Nas areias e folhelhos é pela lavagem de água misturada com solventes em grande volume e pressão que se obtém o betume, fase intermediária que sofre processo semelhante à destilação para se obter o óleo e o gás.

Portanto incluir areias e folhelhos betuminosos no petróleo de reservatórios é misturar banana com coelhos, não sei como se denominará a resultante, mas não serão frutas nem animais.

Excluídos os países de reservas de areias e xistos betuminosos, as maiores reservas, conforme o Wikipédia, para 2020, estão (em bilhões de barris) na Venezuela (303,8), na Arábia Saudita (297,5), no Irã (157,8), no Iraque (145,0), na Rússia (107,8), no Kuwait (101,5), nos Emirados Árabes Unidos (97,8), na Líbia (48,1), na Nigéria (38,5) e no Cazaquistão (30,0). Líbia e Cazaquistão com dados de 2012. Argélia e Brasil seriam os próximos desta lista.

Pode-se afirmar que existem hoje, no mundo, quatro polos de reservas de petróleo. O maior está no Oriente Médio, o segundo possivelmente estará na América do Sul ou na Rússia com os países da Confederação de Estados Independentes (CEI), e o quarto na África, que passa por outro processo de libertação, agora do domínio econômico e cultural dos anteriores dominadores. Ou seja, o domínio euro estadunidense, do unilateralismo, se enfraquece e mostra que o mundo multipolar, fortalecido pela República Popular da China ganha protagonismo universal.


BRASIL NA OPEP: IGNORÂNCIA OU CORRUPÇÃO

O Brasil segue na rota colonial, mesmo fazendo parte dos BRICS, não aproveita para se firmar com polo importante do mundo multipolar.

Vimos que o Estado, ao abrir mão do planejamento, execução e controle, de autossuficiente na produção de energia é, atualmente, um importador de derivados, sendo a Rússia o principal fornecedor de diesel para o Brasil.

Neste aspecto retrocedemos ao período da República Velha, ou da I República, quando exportávamos café, açúcar, charque pelo Rio Grande do Sul, e importávamos todos os derivados de petróleo.

Ao ingressar na Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), o Brasil confirma sua trajetória regressiva ao período colonial, de exportador de matérias primas, de produtos in natura, e importador de produtos industrializados, que dispensa a evolução tecnológica, o conhecimento e vai se afundando no país das desigualdades, das novas escravizações, dos ubers e dos MEIs.

O Brasil já produz 4.666 mil barris de petróleo por dia (b/d) (Agência Brasil, para o mês 09/2023). O pré-sal representa 77% da produção brasileira.

Em 2021 o petróleo já se colocava como o terceiro produto mais exportado, superado somente pelo minério de ferro, primeiro, e pela soja, caracterizando a economia do tipo colonial do Brasil (FazComex, 10/11/2013).

Na OPEP+, o Brasil estará nas disputas ao lado dos exportadores, e não dos consumidores. Isso significa que está abrindo mão de agregar milhares de kWh na energia per capita, tirando o País do mesmo plano do Qatar, dos Emirados Árabes Unidos, que detêm melhores desempenhos nesta avaliação.

Se verificarmos a posição do presidente da Petrobrás, investindo em cata-ventos marítimos para produzir energia eólica, ou de outras autoridades na área de energia do Governo Federal, incentivando a energia solar, ou proibindo a pesquisa de petróleo no território nacional, podemos concluir que é um governo de ignorantes, no domínio da energia.

Ou, alternativamente, por estar subordinado ao capital financeiro apátrida, que incentiva a substituição do petróleo por energias menos eficientes e mais caras, o Brasil na OPEP+ será a voz que aquele organismo está perdendo, pelas mudanças que ocorrem em antigas fidelidades estadunidense, pelo interesse árabe no mundo multipolar e nas novas alianças com a China e a Rússia.

Ou seja, o Brasil assume a vassalagem da qual já se liberara o Irã e a Síria, e nestes anos de 2020, a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos, o Qatar, aderindo ao mundo de maior liberdade, de respeito a suas culturas, o mundo multipolar.

*Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado.

domingo, 26 de novembro de 2023

Nau sem rumo — A Petrobrás no Governo Lula

Domingo, 26 de novembro de 2023

Pedro Augusto Pinho*

NAU SEM RUMO — A PETROBRÁS NO GOVERNO LULA

 

A saída de Lula da prisão e sua eleição para Presidente do Brasil são eventos muito recentes para que possamos colocá-los, criticamente, na nossa História.

Porém, como analista do cotidiano, peço a complacência dos leitores, como se fosse licença poética, para apresentar um entendimento dos acontecimentos da sociedade, especialmente a brasileira, que sempre constituiu nossa maior preocupação.

O poder no mundo ocidental, assim entendido o euro estadunidense e suas colônias, onde está o Brasil, desde 1980 é o dos capitais financeiros. Estes capitais puderam com as desregulações agregar os capitais marginais (das drogas e toda sorte de ilícitos e crimes, onde estão o tráfico de pessoas, chantagens, corrupções e assassinatos).

Esta soma de capitais assumiu a designação, no século XXI, de “gestores de ativos”, ou seja, há o grupo de poderosíssimos senhores que mandam, e estes são seus privilegiados agentes. Algo parecido com o senhor e os feitores, na escravidão; ou o coronel e o os capangas, nas sociedades mais contemporâneas.

Que arranjo se deu na governança nacional com a eleição do indiscutível líder Luís Inácio Lula da Silva?

Que todos estão submissos à ordem financeira apátrida, dir-se-ia que é preliminar necessária e insofismável. Porém, também indiscutível, são os interesses não convergentes, ou melhor, não necessariamente convergentes, destes capitais financeiros.

Busquemos na história, mestra da vida, as comprovações. O poder fundiário surge com as Magnas Cartas na Inglaterra (de 1215 ao século XV) e se espalham pelas aristocracias europeias, é um poder que tem origem na propriedade da terra e dos rendimentos nela produzidos, que se alterou na separação do fundiário quando do surgimento do monetário, pelas criações dos bancos centrais, a partir do século XVII. Mas ganham outra expressão com os capitais fora do sistema financeiro, os capitais dos empreendimentos produtivos, consequência das grandes revoluções do século XVIII: a industrial e a francesa.

Atente o prezado leitor para as datas: Revolução Industrial – 1760; Constituição dos Estados Unidos da América (EUA) – 1787; Revolução Francesa – 1789; início das independências nas América Central e do Sul (Haiti, Paraguai, Argentina, Chile, Venezuela, Colômbia, México, Equador) até a do Brasil (1822) – 1809.

Foram pouco mais de meio século de profundas modificações civilizatórias que prosseguirão até 1980, quando as finanças recuperam o poder que tiveram até o século XX, editando o decálogo – Consenso de Washington (1989) – para rever, na prática eleitoral, em congressos e plebiscitos, quando não por golpes, todas as constituições. As 140 mudanças na Constituição de 1988 não foram todas para colocá-la adequada aos interesses financeiros, pois algumas decorrem de acordos internacionais de outras naturezas e de políticas internas e regionais, mas sem dúvida consistem na imensa maioria.


COMPOSIÇÃO DO PODER NESTE 3º GOVERNO LULA

A tripartição harmônica dos poderes é destas farsas para enganar as pessoas sobre quem governa o País. Até por ser uma característica do próprio poder, a governança do País, da empresa, dos negócios, da família é ele (o efetivo poder) quem decide como exercerá.

De tal modo o neoliberalismo conseguiu desestruturar o Poder do Estado Nacional, que cada um dos “poderes” constitucionais busca, no Brasil de hoje, seu protagonismo.

O judiciário alia sua capacidade de decisão à inclusão da elaboração de novos referenciais, fora dos instrumentos constitucionalmente estabelecidos, para decidir. E avança estas decisões para a execução de processos de rotinas governamentais.

O legislativo briga em duas dimensões. Procurando cercear a invasão judiciária na elaboração das leis – o principal elemento da decisão – e na criação de um sistema parlamentarista, mesmo que não submetido à revisão constitucional, mas, na prática, nomeando os membros do executivo e fazendo de leis e derrubada de vetos, a governança brasileira.

O executivo só faz discursos, primeiro procurando ganhar maioria do próprio Partido dos Trabalhadores (PT) e, secundariamente, para obter a pressão popular que possa ser conseguida pela liderança do Presidente Lula.

Qualquer tentativa de reforma do Estado Nacional, indispensável para corrigir os males provocados pelo neoliberalismo, encontrará a comunicação hegemônica da imprensa impressa, da televisiva e, também, da radiofônica e quase integral dos controladores das redes sociais virtuais, em feroz e permanente oposição.

Ainda repercute no imaginário brasileiro a ditadura militar com a visão dos vencidos e daqueles eliminados. Não se reconhece a imensa diferença de um Chile e Argentina já subordinados aos interesses coloniais estadunidenses, sendo, aquele país voltado para o Pacífico, o primeiro laboratório das medidas neoliberais. Também o Uruguai e o Paraguai que não saíam da sujeição de interesses alienígenas.

Por outro lado, a breve e rica revolução peruana do general Juan Velasco Alvarado (1968) era vista como mais um golpe militar, como se denominou “Junta Militar de 1963”, o governo de 1963-1966, que nacionalizou empresas e promoveu, em curto período, extraordinário desenvolvimento social e econômico no Equador.

A “democracia” que surge após duas décadas de governos militares nem era democracia e derrubava o nacionalismo, que alguns destes governos adotaram para seus projetos de poder.


PETROBRÁS NO JOGO DAS PRESSÕES

O conhecimento da Petrobrás é muito pequeno na sociedade brasileira. Isso não começou agora, no período neoliberal. Os capitais estrangeiros jamais deixaram que os brasileiros se informassem dessa empresa que respondeu pelo maior avanço social, econômico e tecnológico do Brasil.

“No domingo, 1º de agosto de 1954, praticamente nenhum dos grandes jornais do país dá a notícia, mas a Petrobrás, a empresa criada no ano anterior pela lei que instituíra o monopólio estatal do petróleo, assume o controle efetivo de todas as reservas de petróleo em território brasileiro, de todos os campos em pesquisa e exploração, de todos os navios transportadores, de todas as unidades de processamento e armazenamento de óleo bruto e derivados e de todas as outras instalações industriais de propriedade do governo federal ligadas à atividade petrolífera” (José Augusto Ribeiro, “A História da Petrobrás”, AEPET, 2023).

“Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. Não querem que o trabalhador seja livre. Não querem que o povo seja independente” (Getúlio Vargas, “Carta Testamento”, 24 de agosto de 1954).

Nestes 70 anos, a Petrobrás conheceu grandes presidentes, como o General Ernesto Geisel, e verdadeiros assassinos da reputação internacional da empresa, multipremiada pelo seu trabalho, como o senhor Pedro Parente, criador do Preço de Paridade de Importação (PPI) e responsável, como Ministro, pelos apagões de FHC.

Na Petrobrás de hoje há o conflito de três poderes que podem ser identificados pelos pronunciamentos e propostas de seus agentes para os setores industriais e da energia.

O poder das empresas que atuam na falácia da transição energética que propõem o retrocesso para o Sol e o vento, pré-industriais (1760). As empresas e países que estão trabalhando na verdadeira transição energética pesquisam a fusão nuclear. O representante deste grupo é o próprio presidente da Petrobrás, o advogado carioca Jean Paul Terra Prates.

Outro poder está nas empresas que exportam o petróleo brasileiro. Com a descoberta dos reservatórios do pré-sal, a Petrobrás não só conquistou a autossuficiência desta valiosa fonte primária de energia e insumo industrial, como em condições de produção de baixíssimo custo, pela produtividade dos reservatórios.

Fazer do Brasil um grande exportador interessa muito às empresas de petróleo estadunidenses e do Reino Unido e Holanda, que já não podem contar a garantia das reservas dos países árabes do Oriente Médio e norte da África. E, ainda mais, com o custo de produção do pré-sal. Quem, aparentemente, defende este interesse é o Ministro de Minas e Energia, o advogado mineiro Alexandre Silveira.

E existe também um terceiro grupo identificável, de empresários paulistas, verbalizando seus interesses industriais ou dos parceiros estrangeiros neste petróleo, mais como insumo industrial, por exemplo, produção de fertilizantes, do que como produtor de energia. A nosso ver, o próprio Vice-presidente e Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, o médico paulista Geraldo José Rodrigues Alckmin Filho faz a defesa deste setor.

E o presidente Lula?

Fica se equilibrando entre estas disputas e não faz o que seria necessário para o Brasil: abrir a auditoria das alienações do patrimônio brasileiro, feita nos governos anteriores, e promover o cancelamento destas lesivas transferências para o controle estrangeiro.

A Petrobrás e o País sob o poder neoliberal são naus sem rumo!

 

*Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado.


Este artigo foi publicado originalmente em 26/11/2023 no Portal Pátria Latina

segunda-feira, 9 de outubro de 2023

A Petrobras é filha da Revolução de 30

Segunda, 9 de outubro de 2023
Foto: Agência Brasil

“Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma.” (Getúlio Vargas/Carta Testamento)

Texto publicado originalmente em 3/10/2023 no Portal Pátria Latina.

Por Beto Almeida*
No próximo dia 3 de outubro a consciência brasileira tem, uma vez mais, um encontro consigo mesma. Comemoramos a chegada do Palácio do Catete, da Revolução de 1930, liderada por Getúlio Vargas, dando início a continuada série de medidas transformadoras que fez o Brasil deixar de ser uma fazenda atrasada, desindustrializada, ignorante e inculta, para projetar-se como uma Nação que se agigantou no cenário mundial, instalando direitos aos mais humildes e alavancando sua economia no rumo da industrialização acelerada.

E um ponto elevado nesta série de transformações, que também se comemora neste dia 3 de outubro, é o nascimento da Petrobras, agora a completar 70 anos, somando avanços e conquistas, obrigada a enfrentar traições sórdidas e sabotagens.

Desde o seu nascimento, a Petrobrás foi envolta em uma rede de gestos audazes e corajosos, para fazer frente aos inúmeros golpes traiçoeiros que queriam impedir sua existência. Afinal, as aves de rapina do imenso e rico país, sempre operaram para manter o regime colonial, a exploração cruel que manteve nosso povo na escuridão do subdesenvolvimento, até que Getúlio Vargas chegasse ao Palácio do Catete, desembarcando do Trem da Revolução, que, durante o seu percurso, desde Porto Alegre, foi obrigado a parar, por iniciativa das massas de diversas cidades à beira da ferrovia, para que se pudesse ouvir a voz do líder daquele movimento revolucionário.

Revolução de 30: unidade cívico militar

A Revolução de 1930 não foi um Golpe de Estado, como uma certa literatura curtida nos palacetes e nas Casas Grandes, carimbadas pelas academias senzalas, lhe buscou rotular, visando seu descrédito e confundir os historiadores e a assim chamada inteligência, devota e vassala de uma sociologia cafeeira e canavieira, avessa aos direitos dos humildes e a industrialização.

A história impõe suas necessidades de mudanças, inventa arranjos políticos e participativos, como no caso em tela, quando uma unidade cívico-militar, abriu o caminho de passagem para que o Brasil deixasse o atraso ainda envolto em uma escravidão, abolida, mas apenas retoricamente, pois a comunidade negra, as mulheres e a grande maioria do povo, sobrevivia nas condições mais desumanas, em violenta contradição com as imensas riquezas brasileiras rapinadas.

Desde que chega ao Catete, Getúlio Vargas empreende esforços para nacionalizar as fontes de riqueza nacional. Assim, já em 1932, cancela a concessão, feita por governos anteriores, de seis províncias minerais amazônicas, entregues à Esso e à Standard Oil. Em Decreto presidencial, determina que, de agora em diante, qualquer ato de concessão de territórios ou riquezas minerais, só poderia ser emitido pelo Governo Federal. Acabou com a farra entreguista de governantes anteriores.

Vargas nacionaliza também uma série de empresas, minas, ferrovias, fábricas, jornais e rádios que estavam sob o controle do Testa de Ferro Percival Farhcqua, detentor de verdadeiro enclave mineral entre Minas e Espírito Santo, com pretensões expansionistas frustradas, energicamente, pelo presidente Vargas.

Vargas nacionaliza o petróleo em 1938

Na mesma linha de coerência nacionalizante, o governo Vargas, ao receber a notícia de que o presidente do México, Lázaro Cárdenas, nacionalizara todas as petroleiras americanas que operavam em seu território, sem encontrar reação militar por parte do Exército dos EUA, conforme esperavam os expropriados magnatas do petróleo, aproveita o embalo mexicano e também nacionaliza o subsolo brasileiro, criando, ao mesmo tempo, o Conselho Nacional do Petróleo, já em sintonia fina com o futuro, que, por sinal, lhe comprovaria o que ainda era uma previsão.

Apesar de tantos atos decididos no sentido de nacionalizar as fontes de economia, ainda assim, há intérpretes de que insinuam que a Petrobras foi criada apesar de Getúlio Vargas, como se possível fosse a criação de uma alavanca gigantesca de desenvolvimento sem o protagonismo direto do Estado Brasileiro, ignorando todo um conjunto coerente de atitudes que culminaram com a Empresa Estatal e o Monopólio do Setor Petroleiro.

A guerra ideológica contra a criação da Petrobras foi tal, que ainda hoje sentimos os ecos de sua continuidade para sabotar e fatiar a mais importante conquista do Povo Brasileiro.

O lacerdismo e seu golpismo

Uma agressiva campanha midiática foi lançada pelos meios de comunicação, em 1949, buscando impedir que Getúlio Vargas fosse eleito. Carlos Lacerda, o mais escandaloso opositor de Vargas e de suas teses nacionalistas, chegou a vociferar, com over dose de ódio: “Getúlio não pode ser eleito; se eleitor for, não pode tomar posse; se tomar posse não poderá governar, porque teremos que derrubá-lo”. Ou seja, às favas com a democracia e o voto democrático, secreto, e que, a esta altura, já contava com o voto feminino, legalizado desde 1932. – muito antes da França que se auto rotula campeã de democracia, mas que só no pós guerra deu a cidadania plena para as mulheres.

Getúlio, que nos governos anteriores já havia criado a Siderúrgica Nacional, a Vale do Rio Doce (a maior mineradora do mundo), a Hidrelétrica de Paulo Afonso, partia agora para sua obra fundamental: a Petrobras.

A Não Noticia?

Entre a aprovação da Lei 2004 e o efetivo início das operações da Petrobras, houve verdadeira campanha de ódio contra o Presidente, acusado, sem qualquer prova ou justificativa, de ser corrupto, de governar sobre “um mar de lama”, frase sensacionalista, repetida infinidade de vezes por Lacerda e pelo falso moralismo udenista, empenhados na manutenção do setor petroleiro em mão estrangeiras, essa a principal razão.

O golpismo midiático anti Petrobrás chegou a tal ponto que, no dia em que começa efetivamente a funcionar aquela que é hoje a maior empresa brasileira e uma das maiores petroleiras do mundo, dia 1 de agosto de 1954, o fato Não Foi Notícia!! Ou seja, a mais importante alavanca desenvolvimentista do Brasil, vanguarda em tecnologia de prospecção de petróleo em águas profundas, foi ignorada no dia em que começou a funcionar.

Ao invés de notícia, o início do funcionamento da Petrobras torna-se uma senha para que o golpismo se avolumasse, para que os conspiradores se superassem. Apenas 5 dias depois, adveio o Atentado da Rua Tonelero, com a morte do Major Vaz, da Aeronáutica, conseguindo fazer o que parecia ter sido bem programado, como se evidenciou na descrição do episódio. Lacerda disse que “era um tiroteio infernal, muitos tiros”. Mas o major fora atingido por dois tiros, um no peito outro nas costas. Em depoimento ao jornalista Armando Falcão, que o levara ao hospital, Lacerda, transtornado, repetia: “creio ter sido eu que alvejei o Vaz”. O depoimento consta de livro do jornalista Armando Falcão, um dos lamentáveis ministros da justiça do período ditatorial, com a recomendação de que somente fosse publicado após a sua morte.

Enquanto o raio X do pé de Lacerda, que teria sido alvejado por um revólver 38, desaparecia misteriosamente do Hospital, até hoje, Getúlio sentia que os tiros que atingiram o Major Vaz o acertaram em cheio: a conspiração havia conseguido jogar a Aeronáutica contra o Presidente da República. De qualquer forma que fosse, era necessário impedir que o governo Getúlio seguisse montando a industrialização brasileira, nossa independência energética e tecnológica, combinadamente com a expansão de direitos laborais e previdenciários!!

Chantagem infame contra o Brasil

Era tal a virulência da campanha midiática contra Vargas, que o General Mozart Dornelles, membro do Gabinete Militar da Presidência, baseado em suas relações pessoais anteriores, procura, por iniciativa própria, o magnata da mídia na época, Assis Chateaubriand. O diálogo entre os dois vale mais que mil teses de doutorado em sociologia política. Mozart questiona Chatô sobre a razão daquela violência toda de sua mídia contra o Presidente, que ele sabe não ser corrupto. Chatô responde: “Mozart, você sabe que eu agora o Presidente Getúlio. Ele pode indicar quem ele quiser, eu coloco meus veículos sob o seu comando, e eu paraliso toda esta campanha do Lacerda contra ele. Basta que ele desista da Petrobras!”

A condição era que Getúlio Vargas desistisse da independência energética, econômica e tecnológica do Brasil, que, como grafado na Carta Testamento, desistisse de potencializar as riquezas nacionais em favor do nosso povo.

Ao retornar ao Catete, o general Dornelles procura o Ministro da Justiça, seu primo Tancredo Neves, e relata o episódio, indagando se deveria contar o ocorrido ao Presidente Vargas. A resposta de Tancredo Neves, futuro presidente da república, que não chegou a tomar posse, é profética:” Sim, Dornelles, você deve contar ao Presidente. Mas, pode ter certeza de que o Dr Getúlio morre, mas não desiste da Petrobrás!”

Assim foi. Com um tiro no coração do Brasil, Getúlio Vargas derrotou aquela conspiração infame e preservou todas as conquistas de seus governos. Em sua Ira Santa, revoltadas e num pranto nacional como se fora um Coro Orfeônico de Dor e Indignação, as massas empastelaram todos os jornais que realizavam aquela sórdida e falsa campanha do Mar de Lama contra Getúlio, inclusive o jornal Tribuna Popular, dos comunistas, que no dia 24 de agosto de 1954, estampara em manchete, Prestes pedindo a Renúncia de Vargas devido aquele falso lamaçal que não existia. Apavorada, a direção comunista orientara, envergonhada, que seus militantes fossem de bancas em bancas para recolher todos os jornais com aquela lamentável manchete, gesto que denuncia o monumental erro do PCB, fazendo eco com a campanha moralista da UDN contra o governo popular e nacionalista de Vargas.!

A sanha impatriótica de Chatô

Na atualidade, depois que o Presidente Lula teve a grandeza, a coragem e a sinceridade de revisar suas avaliações negativas sobre Vargas, passando a chamá-lo de o grande estadista, as sabotagens midiáticas contra a Petrobras continuam, e agora visam atingir o próprio Presidente de origem operária. Assim foi, por exemplo, com a urdida campanha do “Petrolão”, venenosa manipulação contra os êxitos da petroleira. O mesmo espírito anti Brasil contido naquela repugnante proposta de Assis Chateaubriand, hoje pode ser constatado em alguns comentaristas da Rede Globo, seja quando vaticinam que a “Petrobras está quebrada”, ou quando pretendem fazer crer que o petróleo pré-sal é um patrimônio inútil”. A sanha impatriótica e vassala de Chatô continua presente, realizando uma desastrosa pedagogia colonial, na eterna esperança de que o todo o petróleo seja entregue ao capital estrangeiro, e que a alavanca de desenvolvimento pela qual Vargas deu a sua vida para entrar na história, seja, afinal, liquidada na bacia das almas do mercado, como apenas uma mercadoria a mais. Não mais como aquele patrimônio que faz com que a consciência brasileira se coloque diante de si mesma, com a capacidade de fazer vibrar os mais elevados sonhos de uma pátria justa, independente e soberana, que o legado de Vargas, vigorosamente vivo, indica que, sim, haveremos de conquistar!!! O Legado da Revolução de 30 é a nossa trilha para alcançar uma verdadeira independência!!

*Beto almeida, jornalista

quinta-feira, 28 de setembro de 2023

China e Petrobras: Duas datas, mesmo evento e um universo os separando

Quinta, 28 de setembro de 2023
Foto montagem: Paula Morena

China e Petrobras: Duas datas, mesmo evento e um universo os separando

28 de setembro de 2023


Pedro Augusto Pinho*
O início de outubro nos remete a dois eventos separados pelo tempo e pelas consequências. O mais antigo foi o 1º de outubro de 1949, quando Mao Tse Tung mobilizou o povo chinês e venceram séculos de dominação estrangeira e de humilhação. O mais recente foi a 03 de outubro de 1953, com a criação da Petrobrás, empresa brasileira de petróleo, que seria nas décadas seguintes a promotora do desenvolvimento tecnológico, econômico, social e colocaria o Brasil em novo patamar civilizacional. Se Mao Tse Tung foi reconhecido e aclamado como libertador da China, Getúlio Vargas foi levado à auto-imolação pelo atrevimento de enfrentar os capitais estrangeiros e a elite colonizada, que dirigia e, até hoje, governa o Brasil.

CHINA

A República Popular da China (China) tem a área de 9.596.961 km² e população, em 2022, de 1 bilhão e 411 milhões de habitantes.

É das mais antigas civilizações do mundo ocupando o mesmo e altamente diversificado espaço geográfico (planícies, montanhas, planaltos, desertos, rios), com o mesmo idioma, e sua influência chegou ao Ocidente, que deve muito ao que recebeu da China, a começar pela impressão e o papel, a pólvora, a seda e possibilidade de atravessar o Oceano Atlântico.

Na China convivem 56 grupos étnicos, sendo o han constituintes de 91,5% da população.

Politicamente, a China está dividida em 22 províncias, cinco regiões autônomas, quatro cidades dirigidas pelo poder central (Xunquim ou Chongqing, Pequim, Tianjin e Xangai) e duas regiões administrativas especiais (Hong Kong e Macau).

A China é país quase integralmente ateu. Não devido ao comunismo, mas à formação cultural anterior à Era Cristã. Em três pensadores não teístas — Lao Tse ou Lao Zi, Confúcio e Mêncio — está a base do pensamento chinês. Pesquisa realizada em 2010 indicou que 52,2% dos chineses declararam não ter qualquer religião, 21,9% cultuarem seus ancestrais e 18,2% serem seguidores de Sidarta Gautama, o Buda, totalizando 92,3%.

Nos 74 anos da China revolucionária tudo mudou, e para melhor, muito melhor, que a tornou das duas maiores potências da Terra. Mas as raízes desta evolução estão nas lutas que o povo pacífico sempre precisou empreender, construindo muralhas, suportando agressões, para viver sua vida produtiva e reflexiva.

A independência veio com a dupla luta contra os invasores estrangeiros e os que representaram os interesses colonizadores dentro da China. O povo viu no Partido Comunista Chinês (PCCh) o ideal nacionalista, que já lutara contra os japoneses entre 1937 e 1945. Porém os primeiros anos foram difíceis, principalmente pela guerra na vizinha Coreia, o bloqueio estadunidense (por que os Estados Unidos da América (EUA) sempre usam esta forma de ataque aos que não se curvam a seus desejos?) e uma classe que tirava seus privilégios da escravidão de seus irmãos.

Em 1957 lançou-se o Movimento das Cem Flores procurando conciliar o desenvolvimento industrial com a tradição agrária. Em 1958 e 1960, o Grande Salto Para Frente mobilizou ideológica e politicamente o povo para economia e o desenvolvimento industrial. As dificuldades levaram ao programa entre 1962 e 1964 das Quatro Modernizações — indústria, agricultura, defesa nacional e ciência e tecnologia. Em 1966, a China entra na Revolução Cultural.

É necessário entender que, nestas duas décadas de dificuldades, o povo passara a participar das decisões sobre as soluções de seus problemas. Crescia a consciência e o conhecimento sobre os entraves e obstáculos às soluções. Erros se somavam a acertos e a China, diferentemente do que acontecia na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), o grande país comunista de então, não se burocratizava. Não criava a classe que pelos séculos III a.C. ao I d.C. dirigiu a China, denominada shi, dos intelectuais, ou da lógica e concepção instrumental dos discursos.

No mundo exterior o capitalismo financeiro inicia a década de 1970 com ataques a mais consumida fonte primária de energia: o petróleo, no que ganhou o rótulo de “crises do petróleo”. Nos anos 1970 e 1980, as finanças derrubam a industrialização do poder e ao fim desta última década impõem seu decálogo: o Consenso de Washington (1989), a Bíblia neoliberal globalizante para o mundo.

Como é natural, a China recebeu toda esta agressão apátrida da banca. Houve momentos de dúvidas, hesitações, mas prevaleceu o desejo de prosseguir no caminho do desenvolvimento e da democracia popular.

Lembremos que Mao, logo no início da Revolução, procurou estabelecer o sistema socialista sem exclusão do capitalismo. Mas os capitais só aceitam participar tendo posição hegemônica no poder. Eles, sim, são os radicais intransigentes!

Desde a invasão neoliberal, a China teve os seguintes líderes na condução do País: Deng Xiao Ping (1978-1992), Zhao Zi Yang (1980-1989), Jiang Zi Min (1989-2003), Hu Jin Tao (2002-2013) e o atual Presidente Xi Jin Ping, desde 2013.

Foram realizados dez Congressos do Partido Comunista Chinês de 1970 (10º Congresso, entre 24 e 28 de agosto de 1973) a 2022, o 20º, último, entre 16 e 20 de outubro de 2022. No 10º Congresso do PCCh, 1.249 delegados representavam 28 milhões de membros do Partido; no 20º eram 2.300 delegados representando mais de 96 milhões de filiados.

As posições ocupadas não foram as mesmas, até porque a China também administrava as consequências da Revolução Cultural e Mao Tse Tung tinha indiscutível liderança e veio a falecer em setembro de 1976. Embora vivendo outros tempos e realidades, a resiliência dos chineses já era encontrada nos textos de Gong Sun Long (325 a.C.), verdadeira percepção sistêmica avant la lettre.

O ocidente capitalista, neoliberal, também tinha interesse em desconstruir o esforço de industrialização e desenvolvimento tecnológico chinês, como se lê em Antoine Brunet e Jean-Paul Guichard (“La visée hégémonique de la Chinie. L’imperialisme économique”, 2012, nomeado para o Prêmio Turgot), imputando ao interesse meramente mercantilista exportador o esforço de desenvolvimento chinês.

Em publicação mais recente, de Isabella M. Weber (2021), “Como a China Escapou da Terapia de Choque” (tradução de Diogo Fagundes para Boitempo, SP, 2023), lê-se: “O XIII Congresso do Partido, em outubro de 1987, marcou a consolidação da agenda de reforma de mercado da China. Ele desencadeou uma tensão crescente entre reformadores como Zhao Zi Yang e Deng Xiao Ping, que estavam dispostos a fazer o que fosse necessário para reformar o sistema econômico chinês, e líderes como Chen Yun, que achavam que a reforma não deveria anular a primazia do planejamento socialista”, e conclui: “O XIII Congresso resolveu esse debate em favor da reforma econômica a todo custo”. Seria mesmo?

Reflitamos sobre as palavras de Xi Jin Ping, no 18º Congresso do PCCh, em 17 de novembro de 2012:

(O Partido) “delineia um grandioso plano (para) construir uma sociedade moderadamente próspera e acelerar a modernização socialista”, (objetivando) “alcançar o socialismo com características chinesas”. E detalha, “o socialismo é a conquista fundamental obtida pelo Partido e pelo povo, através de luta árdua”. E discorre sobre os elementos e as práticas a serem adotadas, pois “só o socialismo pode salvar a China”.

No mesmo pronunciamento afirma: “O sistema do socialismo com características chinesas integra organicamente o sistema político fundamental”. “Ele integra também organicamente o sistema democrático” e a “posição do povo como dono do nosso País, fornecendo garantia sistêmica fundamental para o nosso desenvolvimento e progresso”.

Vê-se que o socialismo, o planejamento e a democracia participativa formam a governança chinesa.

Após anos de aumentos extraordinários do Produto Interno Bruto (PIB), a governança da China se dedica à maior distribuição da renda e ao desenvolvimento tecnológico. Em esclarecedor artigo, “Nanômetros sobre o PIB: os líderes tecnocratas podem melhorar a política industrial da China?”, os pesquisadores associados da MacroPolo, Rui Han Huang e A. J. Cortese demonstram toda modificação da governança para que, até 2050, a China seja não apenas uma nação próspera, mas domine toda a tecnologia mais avançada aeroespacial, cibernética e termonuclear.

PETROBRÁS

A Petrobrás nasce com a organização do Estado Nacional Brasileiro, graças à conquista do poder pelo movimento civil e militar denominado Revolução de 1930.

Foi um árduo percurso cheio de ameaças, golpes que se intitularam “Revolução”, perseguições e restrições à liberdade para que as finanças inglesas e o industrialismo estadunidense não se apossassem do Brasil e suas riquezas.

A Petrobrás não decepcionou; em três décadas transformou o país que importava todos os derivados de petróleo, e por empresa estrangeira, no país quase autossuficiente na produção de petróleo cru, autossuficiente nos derivados que necessitava, e expandia, por seus profissionais, a tecnologia que dispunha, a mais avançada, para exploração, produção e planejamento energético aos países mais necessitados da África, América do Sul e Oriente Médio.

Nos primeiros 35 anos de existência a Petrobrás cresceu e desenvolveu o Brasil. Ao ser criada, em 1953, a população de analfabetos, com mais de 15 anos, era majoritária no Brasil, 51%, chegando em alguns estados a 65%. Em 1988, cerca de 25%, pelo levantamento da época, não sabiam ler e escrever. A Petrobrás necessitava de técnicos e profissionais e, desde o início de sua atividade, se preocupou com a formação de seus empregados e da educação nas regiões onde atuava. Muitos foram estudar no exterior, outros tiveram professores contratados nos EUA e em países que produziam petróleo há mais tempo.

A Petrobrás logo se deu conta que nas bacias terrestres não encontraria petróleo em abundância que abastecesse o desenvolvimento brasileiro. Assim, na década de 1960, iniciou sua ida para a plataforma continental brasileira, tornando-se pioneira e colecionadora de prêmios por inovações e recordes de profundidade em perfurações oceânicas.

Todos governantes desde 1953, mesmo ideologicamente contrários ao monopólio estatal, mantiveram a Petrobrás como única empresa brasileira de petróleo, até que o entreguismo de Fernando Henrique Cardoso (FHC — 1995-2002), com assessoramento estrangeiro, não apenas extinguiu o monopólio estatal como reorganizou a Petrobrás para ser “empresa de negócios”, não de petróleo. E, assim, permanece até hoje.

Foi FHC quem criou a Agência Nacional de Petróleo (ANP), e designou um de seus parentes, David Zylbersztajn, para presidi-la. Este, em seu discurso de posse, afirmou: “O Petróleo não é mais Nosso, ele agora é Vosso”, dirigindo-se aos representantes das petroleiras estrangeiras ali presentes.

Desde então, com maior ou menor açodamento, a Petrobrás vem sendo fatiada e se descaracterizando como empresa integrada de petróleo, como é o modelo universalmente adotado para este tipo de negócio, o do petróleo.

As atividades de qualquer empresa de petróleo são (1) a exploração e produção, que busca e produz petróleo (óleo e gás natural) no subsolo, (2) a industrialização, que extrai do petróleo uma infinidade de produtos, sejam para a produção de energia, movimentação de transportes, lubrificação, fertilizantes, e tudo que a petroquímica produz, de remédios a armas, (3) o comércio de petróleo e derivados, (4) o transporte dos combustíveis em suas diferentes fases, por dutos, navios e trens, e (5) o armazenamento. Esta é a empresa de petróleo que enfrenta todo tipo de crise, de preço, de falta de matéria prima ou de produtos derivados, pela abrangência da sua ação.

Hoje a Petrobrás está fora do comércio, tendo alienado sua Distribuidora, tem reduzida sua participação na industrialização a algumas refinarias e tentando reerguer uma fábrica de fertilizante, sem os dutos, já privatizados, alguns terminais, e, na área de exploração e produção marítima, onde tem domínio tecnológico, está aceitando parcerias para retirarem parte do lucro, pois as parceiras não têm capacidade de agirem sozinhas.

Mesmo com a descoberta do pré-sal e todo ganho tecnológico que tem adquirido com o trabalho em águas profundas, a Petrobrás chega aos 70 anos, menor na expressão nacional do que a empresa que Ernesto Geisel deixou a seu sucessor, na presidência do Brasil.

Não se vislumbram, fora dos discursos, nenhuma iniciativa de colocar a Petrobrás no século XXI. Muito ao contrário.

Infestado o Estado Nacional pelas Organizações não Governamentais (ONGs), com falácias climáticas e preconceitos ambientais, pela sujeição ao decálogo do Consenso de Washington, em todos escalões do governo, pelos neopentecostais, a Petrobrás volta-se para o passado, para a energia dos ventos, solar, ao invés de agir como suas concorrentes, investindo na fusão nuclear: ENI (italiana), EDF (francesa) e Chevron (estadunidense).

A verdadeira transição energética não nos leva para o passado mas para o futuro. Este não é, no entanto, nem mesmo o discurso do presidente da Petrobrás, nem o do Brasil.

Voltando ao século XIX, estamos também restaurando a escravidão, agora na modalidade do uber, na farsa do microempreendedor individual, do trabalho sem salário, sem horário, sem repouso remunerado, férias ou qualquer direito trabalhista. E vendo se aproximar o fim das aposentadorias e pensões, o fim da previdência social.

*Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado, foi membro do Corpo Permanente da Escola Superior de Guerra (ESG), é atual presidente da AEPET – Associação dos Engenheiros da Petrobrás.