Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

De onde nada se espera é que nada vem

Terça, 23 de fevereiro de 2010
Seria esperar muito de quem não se deve esperar nada. Mas os deputados distritais poderiam, se desejam evitar a intervenção federal em Brasília, o que iria complicar, é verdade, a vida de muitos deles, cassar logo os mandatos de Arruda e Paulo Octávio, pressionarem o distrital Wilson Lima para que não assuma o governo, deixando que o presidente do Tribunal de Justiça do Distrito Federal assuma o cargo e cumpra a constituição, convocando novas eleições diretas para que o povo possa escolher o governador que ficaria até 31 de janeiro próximo.
Talvez assim possa se evitar uma intervenção no Distrito Federal, medida extrema, remédio para unidade da Federação que se encontra podre, como hoje se acha o DF. Não será com um faz de conta, cassando três distritais, aquele das meias e seu companheiro de oração da propina, e aquela da gulosa bolsa, que a CLDF vai evitar a intervenção.
Proposta casuística e indecente (todo casuísmo é indecente) surgiu das iluminadas cabeças de alguns distritais. Querem emendar a Lei Orgânica do DF (a constituição do Distrito Federal) para permitir que se vago ficar o cargo de governador (não assumindo o vice, ou sendo este cassado, e o presidente da CLDF não permanecendo no cargo de governador) suas excelências escolham indiretamente o novo governador tampão. Gracinha, golpe contra a Constituição Brasileira. O pior, o mais escandaloso, é que até deputado distrital da oposição já acha que esse tortuoso e imoral caminho poderia ser trilhado pelos distritais. Seria pelo bem da governabilidade. Governabilidade de quem e de quê?
Enquanto os distritais continuam num faz de conta que nada faz, a situação do Distrito Federal se agrava, e o que parecia distante, bate às portas. É a intervenção federal que parece cada vez mais inevitável. Imagine quando algumas novas provas da roubalheira no DF forem divulgadas. Aí as excelências já não terão mais nada a fazer, apenas olhar a banda passar, melhor, a intervenção chegar.
Enquanto nada é feito pelos parlamentares distritais para evitar o pior (ou seria o melhor?), a intervenção, o Procurador-Geral da República, Roberto Gurgel, aumenta a carga, esclarecendo ontem (22/1) ao STF que o pedido de intervenção no Distrito Federal atinge, além do Executivo, o Legislativo. E os distritais discutindo firulas para jogar as coisas para frente.
E na próxima quinta-feira o STF possivelmente decidirá pela continuidade da prisão do governador Arruda, acusado de tentativa de suborno de testemunha do inquérito da Operação Caixa de Pandora. Naquele dia Arruda completará, na hora do julgamento, mais de treze dias de cadeia. Serão 13 dias e aproximadamente 17 horas.
E Paulo Octávio, o governador em exercício? Talvez antes do dia do julgamento do pedido de habeas corpus de Arruda já tenha renunciado à renúncia de sua renúncia.
Que os distritais tenham juízo e coragem ao decidir pelo bem de Brasília. Coisa que geralmente a maioria deles não tem demonstrado.