Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

O barulho no PV

Quarta, 17 de fevereiro de 2010 
Por Ivan de Carvalho
O PV, que tem a senadora e ex-ministra Marina Silva, ex-PT, como candidata a presidente da República, ainda é no Brasil um partido nanico. Mas os “quatro caranguejos” verdes que a legenda tem na Bahia estão conseguindo fazer bastante barulho dentro da lata. Aliás, dividiram-se e estão ocupando duas latas.
Na primeira lata estão os que querem uma candidatura própria a governador, em conformidade com a estratégia traçada pela direção nacional, que com isto espera crescer na campanha e como partido. Nessa lata estão – defendendo uma candidatura verde a governador – o deputado federal Edson Duarte, candidato a senador, o presidente estadual do PV, Ivanilson Gomes, o deputado federal e presidente da Frente Parlamentar pela Vida e Contra e o Aborto, Luiz Bassuma e sua mulher Rose Bassuma, candidata a deputada federal.
    Na outra lata, estão os que começam a ser chamados de fisiológicos, especialmente o ministro da Cultura, Juca Ferreira e o secretário estadual de Meio Ambiente, Juliano Matos, que é candidato a deputado federal. Concorrer a esse mandato como governista lhe facilita a eleição. Os “fisiológicos” defendem que, em primeiro lugar, o PV dê seu apoio à reeleição do governador Jaques Wagner. Não sendo isto possível, vetam o deputado Luiz Bassuma para candidato ao governo, embora não hajam apresentado até o momento qualquer outro nome. Matos é candidato a deputado federal e Juca Ferreira não se ofereceu para ser o candidato a governador.
    O vice-presidente nacional do PV, vereador carioca Alfredo Sirkis, está em cima do muro. Ele diz que “é preciso que haja discussão sobre a melhor maneira da Marina (Silva) ter palanque na Bahia” e que “a segunda coisa é discutir se Luiz Bassuma é o melhor nome”.
    Marina Silva é simpática à candidatura de Luiz Bassuma a governador. Isto lhe daria o melhor palanque, dentro das limitações do PV na Bahia. O foco da campanha de Marina é a preservação do meio ambiente. No entanto, evangélica, ela é contra a liberação do aborto e a maior concessão que faz nesse ponto é admitir um plebiscito para saber se a maioria dos eleitores brasileiros concorda com a matança do direito à vida dos seres humanos ainda não nascidos. Bassuma preside a Frente Parlamentar Pela Vida e Contra o Aborto.
    Evidente que Marina, “mantenedora de sonhos”, como se qualifica, não espera ser eleita presidente da República. Ela só teria a ganhar com a estratégia de buscar votos em nichos definidos do eleitorado (ambientalistas, setores contra o aborto, entre outros). A candidatura de Bassuma a governador, por ser ele presidente da Frente já citada, a ajudaria muito neste aspecto de levantar a questão do aborto e encostar na parede partidos como o PT (que programaticamente é a favor da legalização do massacre dos inocentes indefesos) e candidatos a presidente da República deste e de outros partidos importantes, que tendem a fugir de uma definição a respeito como o diabo da cruz. A enrolação a respeito de tema tão vital perderia espaço.
    Ganhariam os eleitores, que saberiam mais claramente a posição daqueles em que estarão votando.

Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quarta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.