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(Millôr Fernandes)

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Lula, Dilma e PT reagem ao bloco

Quarta, 17 de novembro de 2010 
Por Ivan de Carvalho
    O megabloco, também chamado de “blocão” – essa mania brega brasileira de “ão” vai se eternizando –, cuja formação na Câmara federal foi anunciada, envolvendo PMDB, PP, PR, PTB e PSC, num total de 202 deputados, está sendo vivamente combatido pelo presidente Lula e pela presidente eleita Dilma Rousseff com a atitude de quem não está sequer um pouco preocupado com o assunto.

    Despreocupação apenas aparente, porque os sinais de apreensão e até, eu diria, quase pânico, extensivos ao PT, logo se tornaram evidentes. A presidente eleita Dilma Rousseff teve uma reunião com o presidente do PMDB e da Câmara dos Deputados e vice-presidente eleito da República, Michel Temer.

    Na sequência, Dilma fez saber que não está preocupada com o blocão e Temer convocou os líderes do PMDB e do PT na Câmara para dizer-lhes (natural e inacreditavelmente declarando à imprensa que não conversou com Dilma sobre o assunto), também em nome da presidente eleita, que ponham um fim no “tiroteio” entre os dois partidos. Coincidentemente, o líder peemedebista Henrique Eduardo Alves e o líder petista Cândido Vaccarezza são, ambos, aspirantes à presidência da Câmara no primeiro biênio da Legislatura. Eles, de certo modo, comandavam o tiroteio.

    Importante, também, tendo em conta o grande interesse que o PMDB tem na formação do blocão, as declarações de Temer minimizando a relevância do bloco e até dizendo que não existe ainda, devendo formar-se apenas no início da próxima Legislatura, em fevereiro. Temer confundiu as coisas deliberadamente, ao “esclarecer” que o blocão não tem o objetivo de envolver-se em disputas por espaços políticos na Câmara e no Executivo e que estará sempre em sintonia perfeita com o PT e a presidente Dilma Rousseff. Tem muito a ver com isso. E com a incerteza sobre a relação Dilma-PT, onde o blocão, de “centro”, poderia evitar que as coisas se ponham a desembestar.

    Comovente o esforço de Temer em minimizar o que o seu PMDB quer grande. Mais complica o quadro é o presidente Lula afirmar, ontem mesmo, que vê com tranqüilidade a formação do bloco e que – olha aí a coisa – houve conversas sobre o assunto, mas elas não tiveram ainda resultado prático e não existe ainda certeza de que o bloco está sendo formado. “Não aconteceu. Parecia que ia acontecer, mas não aconteceu” e por aí foi Lula. Água gelada na fervura.

    Outro detalhe que denuncia a ação enérgica do trio Lula-Dilma-PT contra a consolidação ou ao menos pela minimização possível do megabloco é o que aconteceu com o PP. Ao anunciar a formação do bloco, o deputado Henrique Eduardo Alves, falando pelo PMDB, partido idealizador do blocão, disse que tinha o compromisso formal do PMDB, PR, PTB, PP e PSC, num total de 202 deputados numa Câmara composta por 313. E afirmou: “Este bloco não é para confrontar. É para organizar o trabalho nesta Casa e fora dela, na composição do governo”. Tudo que o governo e o PT não querem. Mas acrescentou: “"Ninguém foi mais importante do que o outro na eleição de Dilma. Apenas queremos que todos se respeitem. Daqui a pouco vão tirar o PMDB do governo". Dá para entender, não é mesmo?

    E porque o governo e o PT não querem o blocão, deram em cima do PP, para começar. Dos 202 deputados do anunciado bloco, o PP – quinto partido em tamanho na Câmara dos Deputados na próxima Legislatura – teria 41. E o PP, que conversaria novamente ainda ontem com o PMDB, passou de certeza a dúvida. Anunciado como participante compromissado (o que não se faz à toa), o PP executou um recuo depois de seu líder João Pizzolatti conversar com o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha. Se o PP não entrar no bloco, este baixará de 202 para 161 deputados. Valeria muito menos, na medida em que o PT formasse um bloco com o PSB, o PC do B, entre outros, inclusive até, quem sabe, o próprio PP.

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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quinta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.