Sexta,
1º de janeiro de 2016
Do
Jornal de Brasília
Os parlamentares não
admitem, abertamente, abandonar a sigla, mas as chances de desfiliações ficaram
palpáveis pelos atritos constantes desencadeados pelas decisões da legenda na
esfera nacional
Francisco Dutra
Os senadores do
Distrito Federal Cristovam Buarque e José Antônio Reguffe estão
insatisfeitos no PDT. Os parlamentares não admitem, abertamente,
abandonar a sigla, mas as chances de desfiliações ficaram palpáveis pelos
atritos constantes desencadeados pelas decisões da legenda na esfera
nacional.
Assumidamente, Cristovam nutre o projeto de candidatar-se
novamente à Presidência da Republica em 2018. O senador viu o projeto ser
torpeado pelo próprio presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, ao anunciar o
nome do recém-filado Ciro Gomes para a corrida pelo Planalto. O senador
esperava, ao menos, participar de um processo de escolha interna dentro da
sigla.
Quando lhe perguntam se pensa em desfiliação, Cristovam
responde: “Eu não estou ponderando ficar no PDT mesmo sendo maltratado”.
Os desgastes entre ele e a sigla crescem desde 2006,
“quando Lupi sentindo cheiro de ministério pulou a cerca”, alfineta o senador.
“De lá para cá”, completa, “o PDT está afundando com o PT. O PDT é um dos
elementos que está afundando o País com o PT”, dispara.
Ressalvas de Brizola
O Planalto busca, no momento, exaltar a memória de Leonel
Brizola, protagonista histórico do PDT, mas Cristovam corrige: segundo ele, o falecido
líder reprovava a aliança com o PT. “Brizola se afastou de Lula em 2003 e não
queria sequer que Miro Teixeira fosse para o governo. Isso na época. E, de lá
para cá, o PT só vem piorando politica e moralmente”, detalhou.
Na avaliação de Cristovam, uma nova candidatura centrada na
Educação seria competiva. “Estava empolgado com a ideia”, frisou. Segundo o
senador, sua campanha de 2006 colocou o tema no mapa político dos
eleitores. O amadurecimento do eleitorado tornou o tema um diferencial na
corrida eleitoral.
“Em 2006 eu era conhecido como ex-governador do DF. Agora
sou um senador participativo e reconhecido nacionalmente. Tenho propostas
claras para a economia. Fui um dos poucos que, em 2011, dizia que economia não
ia para um bom caminho, quando quase todos falavam o contrário”, acrescentou.
Em resumo: mesmo sem falar em mudança para outros partidos, Cristovam não
esconde o desconforto com o PDT.
Votos contra alinhamento ao
Planalto
Discordando do apoio do PDT ao Planalto, Reguffe tem votado
sistematicamente contra a orientação da legenda no Senado. Segundo aliados
seus, o parlamentar colocará na balança os prós e contras da permanência no
partido depois do Carnaval. No caso de uma eventual desfiliação, o senador
poderá escolher não se filiar a um novo partido. Por hora não há fogo, mas
sobra fumaça.
Enquanto o PDT endossava no Congresso o projeto
para repatriação de recursos não declarados no exterior, que abre uma brecha
legalização dinheiro ilegal escondido fora o país, Reguffe votou
contra. Outro ponto de atrito é a CPMF. Alinhado com o Planalto, o partido se
articula para tentar a aprovação da matéria. Para Reguffe, o tributo não deve
ser ressucitado.
Gastos excessivos
O parlamentar também votou contra ao PLN 05, que
permitiu ao Governo Federal rever a meta fiscal do ano passado, enquanto o PDT
apoiou o projeto. Reguffe fez um duro discurso no plenário do Senado. A manobra
desobrigou Dilma Rousseff de apresentar superávit de R$ 55,3
bilhões e autorizou amargar um déficit de R$ 119,9 bilhões.
“Um governo não pode gastar mais do que arrecada. E o que
ocorre é que quem vai pagar a conta é o contribuinte no futuro”, afirmou na
época. Tentativas de contato com Reguffe até o fechamento desta edição não
foram atendidas.
Buriti será afetado
1 As eventuais desfiliações de Reguffe e Buarque afetarão o
Buriti. O governo Rollemberg criou uma Secretaria do Trabalho vitaminada
para acomodar o PDT. Sem o peso político da dupla, a estratégia tende a ser
revista.
2 O Buriti ainda não fechou uma chapa para 2018. Mas a saída
dos senadores abre mais espaço para uma possível candidatura de Rogério Rosso
(PSD) para o Senado.
3 Vale lembrar: a Rede de Marina Silva possui em seu
estatuto a possibilidade de candidatura de membros não filiados.
Fonte: Da redação do Jornal de Brasília