Quarta, 31 de maio de 2017
Da Tribuna da Internet
Charge do Regi (Amazonas Atual)
Carlos Newton
Um dos aspectos mais curiosos da Lava Jato foi o relato do
marqueteiro João Santana sobre o presidente Michel Temer. O publicitário
revelou que em 2010 o PT fez pesquisas que revelaram queda nas
intenções de voto para Dilma Rousseff quando o então candidato a vice
participava das propagandas. O motivo seria uma suposta vinculação da
imagem de Temer ao satanismo. Dando risadas, Santana disse ter feito um
estudo sobre ocultismo e encontrou um personagem do século 17 que tinha o
mesmo nome do atual presidente e era adepto do satanismo.
É claro que uma coisa nada tem a ver com a outra, porque no caso de
Temer quem inventou essa estória foi o então senador Antonio Carlos
Magalhães, do antigo PFL, quando presidia o Senado. Em 1999, ACM comprou
uma briga com Temer, que presidia a Câmara, e o apelidou de “Mordomo de
Filme de Terror”. De lá para cá, a piada vem sendo repetida.
DRÁCULA DA DEMOCRACIA – Em dezembro de 2015, Renan
Calheiros era presidente do Senado e também se desentendeu com Temer.
Disse no plenário que iria sugerir ao vice-presidente que, se perdesse o
cargo no julgamento do Tribunal Superior Eleitoral, poderia pensar em
outros empregos, como “mordomo de filme de terror ou carteiro”,
referindo-se à carta que Temer acabara de mandar a Dilma Rousseff,
dizendo-se desprestigiado no governo do PT.
No final de março de 2016, em pleno processo do
impeachment, o deputado Davidson Magalhães (PCdoB-BA) fez um discurso na
tribuna da Câmara, para acusar Temer de conspirador, e seguiu na mesma
balada: “Se ACM o taxava de ‘Mordomo de Filme de Terror’, eu acrescento
que hoje ele é o Drácula da Democracia”.
PRESIDENTE-ZUMBI – Pouco mais de um ano depois, agora Michel Temer parece ter incorporado o personagem vislumbrado por ACM e ameaça se transformar num presidente-zumbi, para assombrar o Planalto na convivência com os fantasmas que declarou vislumbrar no Palácio Alvorada quando se mudou para lá, cujas aparições fizeram com que voltasse a residir no Jaburu.
Sua rejeição bate todos os recordes, sua imagem pública está
destroçada, mas Temer finge governar, convoca reuniões e dá ordens à
base aliada, que finge obedecer. Ele continua nessa encenação e no
domingo resolver nomear um novo ministro que aceita fazer sua defesa sem
cobrar nada, contentando-se apenas com aqueles 15 minutos de fama
celebrizados pela genialidade de Andy Warhol.
Mas não há como segurar Temer, porque o deputado que recebeu a mala
dos R$ 500 mil vai fazer delação, para destruir o que ainda resta do
presidente. Mesmo assim, ele não renuncia. Pelo contrário, conta com a
amizade e cumplicidade de ministros do TSE para retardar o julgamento e
manter mais algum tempo esse governo morto-vivo.
NÃO HÁ GOVERNO – A inexistência de governo traz
consequências, é claro. Ao invés de estarem preocupados em reduzir
direitos sociais, os três Poderes deveriam se dedicar a outras missões
mais necessárias, como desativar a boma-relógio da dívida pública ou
reduzir a criminalidade, adotando leis mais duras e tolerância zero. Mas
como fazê-lo, se o crime se instalou lá na Praça dos Três Poderes,
subvencionado com recursos públicos e protegido pelo foro privilegiado.
Se a Justiça funcionasse, a impunidade diminuiria, haveria um maior
respeito às leis. Mas os ministros do Supremo são os primeiros a dar o
exemplo, ao libertar perigosos meliantes devido a meras tecnicalidades
processuais, e ainda chamam isso de Justiça.
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PS – O fato concreto e auspicioso é que o Brasil
consegue resistir a todas essas irresponsabilidades. Certamente, chegará
um dia em que teremos governantes e autoridades decentes, capazes de
nos levar a um futuro melhor. Por enquanto, temos de aturar esse
presidente-zumbi e seus comparsas, que agem como se não tivessem medo da
lei nem do ridículo. (C.N.)