Segunda, 26 de março de 2019
Maior pesquisa já feita sobre a exposição a venenos agrícolas, durante a gravidez, conclui que ela aumenta risco de desenvolver transtorno. Dados parecem devastadores

OUTRA SAÚDE
por Raquel Torres
Durante a gravidez e
na primeira infância, a exposição a alguns dos agrotóxicos mais usados no mundo
está ligada a um maior risco de as crianças desenvolverem o Transtorno do
Espectro Autista. Essa é a conclusão de um dos maiores estudos já realizados sobre
esses efeitos, e o artigo foi publicado ontem [20/3] no British
Medical Journal.
Ligados à
Universidade da Califórnia e com recursos do Instituto Nacional de Ciências da
Saúde Ambiental dos EUA, os pesquisadores examinaram registros de mais de 38
mil pessoas nascidas entre 1998 e 2010 em uma região do estado marcada por
grande atividade agrícola; 2.961 delas haviam sido diagnosticadas com o
transtorno, sendo 445 também com diagnóstico de deficiência intelectual.
Os dados
desses pacientes foram cruzados com informações sobre a pulverização perto das
casas das mães. Foram escolhidos 11 dos agrotóxicos mais comuns, por já terem
sido relacionados em pesquisas anteriores a interferências no
neurodesenvolvimento. Entre eles, o famoso glifosato e
o malation,
inseticida que aqui no Brasil também é usado para controle do Aedes
Aegypti em áreas urbanas.
A partir
daí, os pesquisadores investigaram os efeitos da exposição a esses produtos na
fase pré-natal (no útero) e durante o primeiro ano de vida. Quando as gestantes
viviam a menos de dois quilômetros de uma área com alto índice de pulverização
desses produtos, seus filhos tiveram entre 10% e 16% mais chances de ser
diagnosticados com o transtorno. Para diagnósticos de autismo que vinham
acompanhados por deficiências intelectuais, o resultado foi ainda mais
impressionante: as taxas foram em média 30% mais altas entre as crianças que
foram expostas aos químicos no útero. Já crianças expostas a esses mesmos
agrotóxicos durante o primeiro ano de vida tiveram até 50% mais diagnósticos de
autismo (houve ajustes para não somar este risco ao da exposição durante a
gravidez).
O editorial do
BMJ explica por que essa pesquisa é tão importante, apesar de já haver outras
anteriores relacionando agrotóxicos e autismo. Primeiro porque o estudo também
examinou a deficiência intelectual, gerando informações sobre como os
pesticidas se relacionam com a gravidade do transtorno. Segundo, porque os
autores examinaram os efeitos de vários agrotóxicos em conjunto – o que é
justamente uma recomendação da OMS para conseguir proteger melhor a saúde
humana, já que no ambiente eles não estão isolados.
Uma limitação
é que a pesquisa não tratou de todos os tipos de transtorno, apenas os
diagnosticados pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais
versão IV-R.13. Ficaram de fora alguns, como a Síndrome de Asperger. Agora, é
preciso replicar as descobertas em outras regiões do mundo.
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