Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

LULA TERÁ QUE GANHAR O TERCEIRO TURNO?

Quarta, 22 de dezembro de 2021

Por
Fernando Tolentino*

Podemos não gostar da escolha que vier a ser feita para vice da chapa de Lula, mas precisamos entender que se dará em cima da realidade. 

Embora o vice ainda não esteja escolhido, a mídia corporativa não esconde que Geraldo Alckmin é o seu favorito e tanto ele como Lula fazem gestos de no mínimo clara aproximação. 

Mas, se o acompanhante de Lula for outro, não devemos ter a ilusão de que será de esquerda.
 
Claro que nos encantam caminhos de outros países da América Latina, como Chile, Bolívia ou Nicarágua, com candidatos e vices da esquerda. Mas vamos lembrar que, neles, manifestações ocuparam insistentemente as ruas. Continua assim na Venezuela, mesmo depois de tantos anos de Chávez e Maduro. 

Tem mais. Quantos senadores precisamos eleger para termos de volta muitas das conquistas perdidas desde o afastamento de Dilma? Acho que não queremos abrir mão delas. Ou que não queremos correr o risco de que um novo golpe afaste Lula sem tomar conhecimento da votação que tiver?

A renovação do Senado será somente de um terço. Ou seja, 54 senadores foram eleitos em 2018 e ficam por mais quatro anos, sendo 46 daquela nossa conhecida sopa de letrinhas: Cidadania, DEM, MDB, PL, PP, PROS, PSC, PSDB, PSD, PSL, Podemos e Republicanos. Talvez uns 5 desses ou pouco mais tenham alguma simpatia pela volta de Lula. O número se completa com modestos 8 senadores do PDT, PT e Rede. 

Vamos pensar juntos. Quantas das 27 vagas em disputa temos alguma certeza de serem ocupadas por candidatos que apoiarão um provável governo de Lula? 

Eles ocuparão os lugares de 24 senadoras e senadores de partidos de direita e centro-direita e 3 do PDT e do PT. 

Salvo se tiver havido um notável salto no nível de consciência dos brasileiros, dá pra imaginar a luta que teremos para reduzir a atual diferença na correlação de forças do Senado.

E como será a disputa para a Câmara dos Deputados? 

Dos 513 atuais deputados, 384 são daqueles partidos conservadores: PSL, PL, PP, PSD, MDB, PSDB, DEM, PSC, PTB, PROS, Solidariedade, Republicanos, Podemos, Novo, Avante, Cidadania e Patriota. 

Os sete partidos de esquerda ou próximos disso (PT, PSB, PDT, PSOL PCdoB, PV, Rede) somam 129 deputados, cerca de 25% do total.

Eu não desejaria Alckmin ou qualquer outro vice como ele.

Se você também não quer, qual a sua sugestão?
Vamos encher as ruas com imensas manifestações até o dia da eleição? E mantê-las permanentemente depois, de modo a acuar Câmara e Senado, impondo a nossa vontade?

Caso contrário, vimos que a direita e a centro-direita nem vão precisar da eleição para manter mais da metade do Senado. Vamos lutar para eleger senadores em quase todos os estados e no Distrito para tentar chegar perto do espaço que eles já ocupam?

E temos condição de dar uma virada histórica na eleição para deputados, pulando dos 25% atuais para pelo menos mais da metade?

Pois não esqueçam que algumas de nossas grandes derrotas desde o golpe de Temer foram por meio de emendas à Constituição. Para resgatar essas perdas são necessários 3/5 das duas Casas do Congresso.

Sabem o que significam essas duras palavras?
Se isso não for possível, vamos ter, sim, que negociar com grupos políticos à nossa direita para podermos governar.

Nunca esquecendo que, pela redemocratização, Prestes subiu no mesmo palanque que o ex-ditador Getúlio Vargas, sob cujo governo sua mulher Olga Benario, de origem judia, foi entregue aos nazistas, levando o filho no ventre.

Trata-se de decidir se fazemos isso antes ou depois das eleições. 

Se não gostamos da alternativa de Alckmin para vice, está em tempo de propor outra composição com forças políticas conservadoras.

Trata-se de decidir se fazemos isso antes ou depois das eleições. 

A julgar pelas pesquisas atuais, contamos com a vitória de Lula no primeiro ou, no máximo, no segundo turno. 

Se não fizermos uma composição antes da eleição, Lula terá que enfrentar um terceiro turno, negociar com as forças que estarão majoritárias no Congresso.

Você também acha que a composição será mais fácil agora, quando todos avaliam que ele será vitorioso?

Fernando Tolentino —Jornalista e Administrador