Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)
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sexta-feira, 11 de agosto de 2023

Esquerda, direita e a política pós-consenso de Washington.

Sexta, 11 de agosto de 2023
Mais de trinta anos se passaram desde a enunciação do Consenso de Washington. E tudo piorou muito para as sociedades, as coloniais e as colonizadas.


Pedro Augusto Pinho*

INTRODUÇÃO
Estas reflexões decorrem de palavras. Tiveram, como todo produto cultural, um tempo e um lugar. Porém marcaram situações que foram aproveitadas pelos poderes de outros tempos e de outros lugares até adquirirem sentidos excludentes, segregadores. O poder que não surja do povo sempre necessitará apontar inimigos, criar cizânia.

Thomas Carlyle, na “História da Revolução Francesa” (1837), escreve: “toda a morte é apenas a morte-nascimento”. Este historiador e ensaísta escocês, que entendeu as mudanças pelas quais a sociedade humana está sempre percorrendo, não pôde deixar de assinalar que o “ceptro está partindo das mãos de Luís” mas sua posse continuará mudando de mãos.

Os termos “esquerda” e “direita” apareceram durante a Revolução Francesa de 1789, quando os membros da Assembleia Nacional se dividiam em, à direita do presidente, os partidários do rei e os simpatizantes da revolução, à sua esquerda. E, desde então, passou-se a entender que a esquerda desejava mudanças, maior participação e atendimento ao povo em geral, e a direita a manutenção do status quo, do mesmo sistema e poder.

Porém, a partir do retrocesso das sociedades euro-estadunidenses e suas colônias com a vitória das finanças apátridas, em 1989, direita e esquerda passaram a indicar a submissão ou a independência aos mandamentos do decálogo “Consenso de Washington”, elaborado por financistas sediados na capital dos Estados Unidos da América (EUA), que nada tinha de consensual, pois impedia até mesmo o desenvolvimento do capitalismo industrial.

Porém ficou o rótulo empregado, ora por ignorância ora por má fé, principalmente nas comunicações políticas das mídias hegemônicas. Há sentido?

I PARTE

O intelectual senegalês, Alioune Diop (1910-1980), chamado por Léopold Senghor de “Sócrates Negro”, festejando a publicação do beninês Albert Tévoédjrè (1929-2019), em 1958 (“L’Afrique Révolté”, Présence Africaine, Paris), exclamou: “eis que nova geração de africanos eleva sua voz”. Uma voz de esquerda? De direita?

Recordando Carlyle, a voz que então pedisse o capitalismo seria a voz da esquerda, para a região que lutava pelo seu reconhecimento, conforme as distintas formações étnicas. Pois toda a África, que participara da II Grande Guerra como colônia, exigia sua individualidade e sua independência. A região de Diop, Senghor, Tévoédjrè, por exemplo, compreendia a imensidão da África Ocidental Francesa.

A Carta do Atlântico (1941), firmada pelo primeiro-ministro britânico, Winston Churchill, e pelo presidente dos Estados Unidos da América (EUA), Franklin Delano Roosevelt, parecia tratar apenas da Europa, pois nem os EUA ainda haviam formalmente nela sido envolvidos. Os segundo e terceiro pontos, de seus oito, não deveriam despreocupar senão europeus — os ajustes territoriais devem concordar com os desejos das populações afetadas e o reconhecimento do direito à autodeterminação dos povos — inimagináveis que eram para africanos e asiáticos.

O caminho para independência na África passou pela “negritude”, movimento que juntou as maiores expressões da intelectualidade: Aimé Césaire, Léopold Senghor, Alioune Diop, Jomo Kenyatta, Kwame Nkrumah, Julius Nyerere, Félix Houphouët-Boigny, Ahmed Sékou Touré entre outros.

Porém encontrou nas mãos colonizadoras a mobilização forçada para a guerra que não era deles, e os que permaneceram em suas casas sofreram tanto quanto os alistados. Além da guerra, ao prestar serviço militar, na Birmânia ou na Índia, encontraram a mesma sede da independência e lá ganharam conhecimentos de estratégias e táticas de luta. E, ao fim, vitoriosos, não lhe aguardavam quaisquer prêmios, recompensas ou indenizações, fazendo-os notar, sem qualquer dúvida ou desculpa, que europeus e africanos seriam sempre tratados diferentemente.

Via-se, então, que as dimensões da esquerda-direita não se davam apenas no tempo, também ocorriam nos espaços, eram diferentes conforme os lugares.

PÓS-CONSENSO DE WASHINGTON

Mais de trinta anos se passaram desde a enunciação do Consenso de Washington. E tudo piorou muito para as sociedades, as coloniais e as colonizadas.

No entanto, a farsa da globalização permanece. Global nem o ar que respiramos, frio aqui, quente ali, limpo cá, poluído acolá. Tudo que ocorre tem o lugar e o tempo, inclusive a esquerda e a direita.

O mundo multipolar é o futuro, é a transformação, a esquerda, se nosso âmbito de análise são os continentes. Se focamos um determinado e único lugar, a esquerda pode ser o governo forte, que tenha o projeto de desenvolvimento integral, não somente econômico, para seu país, como veremos em Singapura, “cidade dos leões”.

Pela ilha de Temasek, de 641 km², ao sul da península Malásia, chegaram, na era cristã, chineses, que formam atualmente 76% da população. Até o século XVI, por lá andaram os mongóis, os reinos vizinhos de Sião, Java e Malaca, até aportarem os portugueses, que a abandonaram em 1613. Ficou por muito tempo entregue à sorte. Em 1819, o inglês Thomas Stamford Raffles constrói um porto, o posto comercial Singapura, da Companhia Britânica das Índias Orientais. Ora junto à península, ora isolada, o arquipélago de Singapura ficou sob gestão colonial do Reino Unido até o pós-II Grande Guerra.

Em maio de 1959, o Partido da Ação Popular ganhou por vitória esmagadora. Singapura tornou-se estado autônomo dentro da Commonwealth, tendo Lee Kuan Yew como o primeiro primeiro-ministro.

A República de Singapura foi conquistada em agosto de 1965, com Lee Kuan Yew como primeiro-ministro e Yusof bin Ishak como presidente. As revoltas raciais surgiram mais uma vez em 1969. Em 1967, o país co-fundou a Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN). Lee Kuan Yew tornou-se primeiro-ministro, e o país passou da economia do Terceiro Mundo para o abeiramento ao Primeiro Mundo em única geração.

O atual primeiro-ministro, Lee Hsien Loong, encontra-se em seu terceiro mandato, e ocupa o cargo desde 2004. Ele é o filho mais velho de Lee Kuan Yew, falecido em março de 2015.

Singapura é exemplo de esquerda ou direita?

quarta-feira, 26 de julho de 2023

FARSAS E FALÁCIAS DAS FINANÇAS APÁTRIDAS E AS SOLUÇÕES NA ERA VARGAS

Quarta, 26 de julho de 2023

Cabe a todos nós, brasileiros, verdadeiramente patriotas, lutar pela reconstrução do Estado Nacional, pela reestatização das ações do Estado entregues por valores ínfimos à sanha privatista do Consenso de Washington, colocar a educação, a saúde e o trabalho como elementos indispensáveis à soberania nacional, devendo ser função do Estado sua execução, manutenção e proteção.


Pedro Augusto Pinho*

Qual o povo mais enganado? Certamente aquele pior informado; que ao invés de conhecer a realidade, se nutre de fantasias, de pregações ideológicas. O brasileiro é um povo bem informado, que conhece a realidade do seu país, que tem conhecimento das origens de seus males, que são muitos? Lamentavelmente, não.


Entre notáveis brasileiros, um foi Alberto Tôrres (1865-1917). Fluminense de Itaboraí, governador (Presidente da Província) do Rio de Janeiro, de 1897 a 1900, fez de sua trajetória política mais um dedicado magistério sobre o Brasil e a política nacional e fluminense do que de cata de votos. Deixou-nos numerosos escritos, como este, no jornal “O Povo”, em 1899, onde enumera os que vivem à farta no Brasil: “a família Imperial, a corporação extravagante dos políticos, dos banqueiros, os validos palacianos e os caudilhos eleitorais” (Barbosa Lima Sobrinho, “Presença de Alberto Tôrres”, Civilização Brasileira, RJ, 1968).


Seria uma característica brasileira? Claro que não.


Na década de 1970, as finanças, para combater o petróleo como fonte primária de energia, criaram as “crises do petróleo”, imputando-as aos produtores árabes, da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP). E como a marcar a diferença entre as culturas do Oriente Médio e as europeias, estas finanças divulgaram o príncipe sueco ou norueguês pedalando sua bicicleta pela cidade, numa demonstração que o petróleo não era insubstituível. Mas não teve o mesmo empenho em demonstrar quanto do orçamento do país era destinado a manter a confortável vida, em férias permanentes, da nobreza da Nação.


Quase 70 anos antes, Alberto Tôrres mostrava, e os brasileiros concordariam, que era absolutamente despropositado despender qualquer percentagem do orçamento nacional para manter uma família e seus bajuladores, acólitos, serviçais. E também alertava sobre a classe dos banqueiros e daqueles que tinham na política a profissão, não a missão de defender o povo.


Getúlio Vargas assume, em 03 de novembro de 1930, a Presidência do Governo Provisório da Revolução Vitoriosa em 24 de outubro de 1930. Promulgada a Constituição, em 16 de julho de 1934, Getúlio é eleito, em 17 de julho, Presidente Constitucional do Brasil, vencendo seu opositor, Antônio Augusto Borges de Medeiros, por 175 a 59 votos.


A Constituição Brasileira de 1937, outorgada pelo presidente Getúlio Vargas, em 10 de novembro de 1937, mesmo dia em que implanta o período do Estado Novo, buscou defender o Brasil de ameaças ideológicas estrangeiras que varriam o mundo e, em especial, a Europa naquele momento. Lembrar que, em 1º de setembro de 1939, com a invasão da Polônia pelo exército alemão, tem início a II Grande Guerra, que cerceou a liberdade ampla em todos os países.


Vargas havia criado, para transmissão pelas rádios, o “Programa Nacional”, que foi ao ar, pela primeira vez, no dia 22 de julho de 1935, na voz do locutor carioca Luís Jatobá. Em 1938, passou a ter transmissão obrigatória, com horário fixo das 19 às 20h, mudando sua denominação para “A Hora do Brasil”. Em 1962, entrando em vigor o Código Brasileiro de Telecomunicações, o programa passa a ser denominado “A Voz do Brasil”.


OBJETIVOS ATUAIS DAS FINANÇAS APÁTRIDAS


Desde a Revolução de 1930, com melhores e outros não tão bons momentos, o Brasil cresceu, criou sua indústria nacional, desenvolveu tecnologias adequadas às condições brasileiras, gerou emprego e renda para grande parte dos cidadãos, e escolas para maior compreensão da nossa realidade e capacitação para o trabalho. Durou meio século este desenvolvimento.


Na década de 1980, as finanças apátridas obtêm duas grandes vitórias que reverteram a situação de progresso político, social e econômico que o mundo, em geral, conhecia: as desregulações financeiras, iniciadas nas duas maiores praças: Londres e Nova Iorque, e a edição do decálogo orientador dos governos de todos países, denominado “Consenso de Washington” (1989).


Os malefícios do poder das finanças no mundo estão exigindo a pena de um Alberto Tôrres para os enumerar. Sem esta pretensão, nos restringirmos a três males: as falácias das comunicações de massa, a invasão da corrupção em todos os níveis da sociedade humana e o desmonte dos Estados Nacionais.


AS MÍDIAS


Jornais, televisão, telefone, computador, celular e internet são os principais meios de comunicação da contemporaneidade. Até 1980, as propriedades das mídias eram diversificadas. Ainda que de ampla maioria conservadora, existia certo tipo de disputa, de concorrência que obrigava à diversidade de tratamento e mesmo do foco sobre determinados setores da vida nacional e daqueles sobre os estrangeiros.


Jornais, revistas e canais de rádio mais voltados para a política e para o funcionamento dos órgãos públicos, outros para os esportes e notícias de atividades criminosas, outros, ainda, para divulgação e análise de acontecimentos culturais. A televisão ainda tinha um conteúdo maior de entretenimento, que invadia até os noticiários.


Pode-se afirmar que, no geral, as mídias se apresentavam como intermediárias entre a geração dos fatos, nem sempre acessíveis aos seus interessados, e este público que recebia as informações. Esta ação vicária era e continua sendo usada para a doutrinação, atualmente para formação do “pensamento único”, da “globalização”, do “mercado” no lugar do Estado.


Foram as finanças que melhor entenderam a importância da teoria matemática da informação, da cibernética e a levaram para a comunicação de massa e seu domínio.


O caso Dreyfus, em dezembro de 1894, marcaria a imprensa escrita europeia (o jornalista Bernard Lazare, em novembro de 1896, publicou, na Bélgica, o inflamado “Um erro judiciário: a verdade sobre o Caso Dreyfus”). Em janeiro de 1898, o jornal parisiense “L’Aurore”, dirigido por Georges Clemenceau — futuro primeiro-ministro na época da I Grande Guerra — estampou na primeira página a carta-aberta ao presidente Félix Faure intitulada “J’ccuse”, do renomado escritor Émile Zola.  Divisão na reação popular e condenação ao processo judicial no “Affaire Dreyfus”.


O rádio se torna o mais importante veículo com o uso que dele faz o presidente estadunidense Franklin Delano Roosevelt, entre 1933 e 1944, ao iniciar suas famosas "conversas ao pé da lareira", explicando o mundo conturbado da II Grande Guerra, imprimindo, pela voz, intimidade, segurança, e até proximidade, no tom de conversa. Permitia, também, que a complexidade das “razões de Estado”, sofressem simplificação e superficialidade com que os temas políticos passariam a ser tratados nos Estados Unidos da América (EUA), exemplo para o mundo.


O cinema será a mídia do III Reich. Para o que Adolf Hitler contou com Helene Bertha Amalie "Leni" Riefenstahl (1902-2003), representante dos ideais da estética nazista, nascida e falecida na Alemanha. A própria passividade da população alemã diante das atrocidades da guerra, para não falar na colaboração, somada ao elevado índice de assistência dos filmes, por quase uma década (1935 a 1945), indicam que o cinema teve papel fundamental na visão popular sobre a política de então.


A televisão traz a ideia do espetáculo, ainda que confirme a constatação do canadense Marshall McLuhan (1911-1980) de que o novo meio incorpora funções do meio anterior: a diversão no cinema e na televisão seriam os exemplos.


Tudo, no entanto, se transforma quando as mídias passam para o controle das empresas gestores de ativos e, coerentemente ao modelo financeiro, em processo de permanente absorção das mais fracas pelas mais poderosas. Hoje, não mais do que algumas dezenas de “gestoras” controlam praticamente todas as mídias.


Buscando os controles acionários das televisões, das produtoras cinematográficas, das rádios, jornais, revistas e, principalmente, das mídias digitais, eletrônicas, o caro leitor encontrará sempre: BlackRock, Vanguard Group, Fidelity Investments, State Street Global, J.P. Morgan Chase, Allianz Group, Capital Group, Goldman Sachs, BNY Mellon, Amundi, UBS, Legal & General Group, Prudential Financial, T. Rowe Price Group, Invesco, Northern Trust, Franklin Templeton e/ou BNP Paribas.


Dominando as comunicações, as finanças influenciam quase a totalidade das informações que a população tem acesso, suas razões e seus entendimentos, o povo passa da categoria de cidadão para de crente, ele segue o pensamento e a conduta definidos como corretos pela mídia. Constituirá, certamente, um povo enganado.


A CORRUPÇÃO


Robert Skidelsky comparando o que economistas designam “Era de Ouro do capitalismo” europeu e estadunidense (1950 a 1970), com o período por ele denominado “Consenso de Washington” (1980 a 2009), aponta o crescimento médio global da economia de 4,8% para o primeiro período e 3,2% para o segundo.


E com as seguintes taxas de desemprego, nos mesmos períodos: para os EUA, 4,8% e 6,1%; para o Reino Unido, 1,6% e 7,4%; para França, 1,2% e 9,5%; e para Alemanha, 3,1% e 7,5% (R. Skidelsky, “Keynes: The Return of the Master”, Allen Lane, UK, 2009).


Neste livro, Skidelsky afirma ser o centro do pensamento e da práxis atuais a liberdade negativa — a ideia de que a sociedade e aqueles que a governam não devem fazer qualquer julgamento sobre o que é desejável para as pessoas, mas apenas deixar os indivíduos tão livres quanto possível para perseguir seus objetivos, sejam eles quais forem.


Com relação à economia, a visão “mainstream” vê o capitalismo como um fim em si mesmo, a expressão da vontade da população retransmitida “via mercado”. Isso contrasta com a visão de Keynes de que o capitalismo é um meio e não um fim, e deve permitir que as populações tenham lazer, busquem a "boa vida", principalmente vivendo de forma ética e apreciando os prazeres que se encontram nas relações humanas.


Robert Jacob Alexander (1939), não é comunista ou socialista, mas um oxfordiano e, desde 1992, membro do Partido Conservador inglês. Historiador econômico, autor de numerosos trabalhos, principalmente analisando o legado de Lord Keynes, tem conhecimento e responsabilidade para colocar o “Consenso de Washington” como corruptor da sociedade.


E começa por fazer do voto comprado, da ignorância dos fatos pelas mídias que são propriedades financeiras, e o eleitor nem sabe em quem nem para o que está votando, a “democracia”.


A Lei nº 14.185, de 14 de julho de 2021, é um exemplo da corrupção. Ela tem origem no Projeto de Lei (PL 3877, de 10/11/2020), do senador Rogério Carvalho - PT/SE. Tramita em regime de urgência. Na Câmara dos Deputados recebe parecer favorável da deputada Joice Hasselmann (PSL-SP). Votada em turno único.


Qual assunto é tão importante e de tamanha urgência que vai do projeto de lei à sanção presidencial em oito meses, passando pelas duas casas do Congresso?


Esta lei autoriza os bancos a transferirem, no fim de cada expediente, os saldos existentes em todas as contas, de todas agências, de todos os clientes, para aplicação no Banco Central. E receber os valores transferidos, com os juros da aplicação, na manhã do próximo dia de funcionamento dos bancos.


Traduzindo, esta lei transfere recursos públicos para o enriquecimento dos bancos, ou seja, do sistema financeiro, e ainda, como bônus especial, aumenta o valor da Dívida do Governo, que justificará a manutenção de taxas de juros em altos patamares.


“Art. 1º Fica o Banco Central do Brasil autorizado a acolher depósitos voluntários à vista ou a prazo das instituições financeiras.


Parágrafo único. A remuneração dos depósitos referidos no caput deste artigo será estabelecida pelo Banco Central do Brasil”.


Porém a corrupção, pelas mídias, parece ser aplicável somente a pessoas físicas, nunca em instituições, e cujas atividades políticas, empresariais ou midiáticas causam empecilho aos assaltos ao Tesouro Nacional, como o da lei mencionada.


O Brasil perde, promovendo legalidade à maior transferência indevida de recursos públicos, diante da qual, o maior desfalque de um político ou funcionário público, é verdadeiramente insignificante, confrontado com um “depósito voluntário”.


O FIM DO ESTADO NACIONAL


Tudo que até aqui escrevemos é, sem dúvida, muito sério e merece toda atenção dos brasileiros. Mas o que reservamos para o final é vital. Trata da nossa própria existência como cidadãos brasileiros. Na breve síntese do livro de Robert Skidelsky, nosso caro leitor pode observar a citação do “mercado”, como a referência para a vida das pessoas.


Mas quem é o “mercado”, senão o ápice da concentração de renda, o maior exemplo de tirania, que lhe obriga a comprar o que não lhe interessa e a desdenhar o que verdadeiramente lhe importa? E, mais grave, é quem promove a destruição do Estado, iniciando pela sua ação fiscalizadora, pelos órgãos que deveriam obrigar a sujeição de todos à lei, democraticamente.


O decálogo “Consenso de Washington” objetiva, explicitamente, diminuir a regulação e o controle da economia, adotar o livre mercado, reduzir o tamanho do Estado e aumentar a abertura econômico-financeira para o exterior.  Resumindo, entregar a vida das pessoas, em todo mundo, aos capitais sediados nos paraísos fiscais, que decuplicaram entre 1980 e 2000.


Três exigências do Consenso de Washington:


a) Política de Privatizações: reduzir ao máximo a participação do Estado na economia, no sentido de transferir, a todo custo, as empresas estatais para a iniciativa privada.


b) Redução fiscal do Estado: reduzir os gastos do Estado através do corte em massa de funcionários, terceirizando o maior número possível de serviços, e diminuição das leis trabalhistas e do valor real dos salários, a fim de cortar gastos por parte do governo e garantir arrecadação suficiente para o pagamento da dívida pública.


c) Reforma fiscal: promover profundas alterações no sistema tributário, no sentido de diminuir os tributos para as grandes empresas, fazendo com que elas aumentem seus lucros e grau de competitividade.


Em outras palavras, reverter inteiramente o projeto da Era Vargas, que é da valorização do trabalho, dar igualdade de tratamento ao salário e ao lucro, promovendo a justiça social e o amplo desenvolvimento da sociedade. E a função do Estado, neste particular, será a de garantir democraticamente a igualdade nas negociações. E, igualmente, de dar soberania ao povo e ao Estado, mediante a educação e o controle nacional das tecnologias e da economia.


Sem Estado, substituído pelo “mercado”, a população se encontra na situação de um exército que vai para guerra sem armas e sem munições.


CONCLUSÃO


Cabe a todos nós, brasileiros, verdadeiramente patriotas, lutar pela reconstrução do Estado Nacional, pela reestatização das ações do Estado entregues por valores ínfimos à sanha privatista do Consenso de Washington, colocar a educação, a saúde e o trabalho como elementos indispensáveis à soberania nacional, devendo ser função do Estado sua execução, manutenção e proteção.


Restringir às finanças a subsidiária das ações produtivas e comerciais, devendo ser avaliadas como custo, e assim controladas pelos órgãos fiscalizadores do Estado.


É óbvio, mas deve ser sempre repetido, que o nacional deve ter precedência sobre todo importado. Não existe concorrência sadia entre eles, pois os países estrangeiros, principalmente os mais ricos, chegaram a esta situação pelo esbulho das demais Nações.


*Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado, atual presidente da AEPET — Associação dos Engenheiros da Petrobrás.

terça-feira, 7 de junho de 2022

Guerra ao neoliberalismo

Terça, 7 de junho de 2022
                               Pobreza na-favela. Foto-ABr 

Atacar o estrago feito por essas políticas ao longo de quase 4 décadas

Guerra ao neoliberalismo


Por J. Carlos de Assis.

Atacar o estrago feito por essas políticas ao longo de quase 4 décadas

Através da Escola Superior de Paz, o cineasta Sílvio Tendler acaba de lançar um movimento nacional contra guerras, visando a alcançar fronteiras mundiais. Estou ao lado dele. Contudo, há guerras justas, quando se trata de guerras contra tiranias. Ele reconhece isso. Pelo meu lado, também reconheço que há guerras justas, porém no campo da ideologia. E a ideologia mais perniciosa para a humanidade, mais repugnante, mais cruel que surgiu nas últimas décadas foi a ideologia neoliberal.

Faço parte de um grupo de economistas e outros profissionais que decidiu, seguindo o caminho de Tendler, lançar uma “guerra” informatizada, esta contra o neoliberalismo. Vamos aproveitar esse período de descenso da pandemia para usar o que resta de eficácia das lives para atacar o estrago feito no Brasil por políticas neoliberais ao longo de quase quatro décadas, sob o tacape do FMI e do Consenso de Washington. Serão três meses de guerra através de lives, sistematicamente.

É preciso considerar que, na comunidade de economistas, como acontece em quase todas as comunidades profissionais, ser adversário não significa necessariamente ser inimigo. No caso neoliberal, contudo, houve um excesso deles. O sofrimento imposto ao povo brasileiro no período de sua hegemonia ainda preservada é imperdoável. Eles nos fizeram recuar décadas no campo social e, igualmente, no campo da infraestrutura econômica. Não sobrou quase nada construído no país antes deles.

Para as comunidades mais pobres, foram imensos os sacrifícios impostos desde os infames acordos de pagamento da dívida externa negociados com o FMI, a partir do início dos anos 80. Esses sacrifícios foram agravados, especialmente, depois que assumimos “voluntariamente” os princípios do Consenso de Washington. Houve uma degradação geral dos sistemas públicos de educação, saúde, transportes públicos, segurança, saneamento. Ou tudo que se refere a serviços públicos básicos e essenciais.

É que os tecnocratas neoliberais brasileiros transformaram em dogma de fé os princípios neoliberais de equilíbrio a qualquer custo do orçamento primário, de realização de superávits primários e, por último, de limitação anual do orçamento, por 20 anos, à inflação do ano anterior. Isso é simplesmente uma aberração em termos de políticas públicas: é como se a sociedade brasileira não vá evoluir por 20 anos, em suas necessidades básicas, as quais, pela Constituição, devem ser atendidas pelo Estado!

São as parcelas mais vulneráveis da sociedade os “alvos” principais das restrições orçamentárias e, em especial, do teto de gastos, incluídos na Constituição do país. Contudo, elas não têm quem fale por elas, a não ser um grupo minoritário de políticos no Congresso vinculados a partidos de oposição. A situação começa a mudar, porém, ainda não no plano da ideologia econômica. O fracasso do neoliberalismo tornou-se um dado da realidade, mas ainda não foi percebido como tal pelas elites.

Isso é o que justifica nossa “guerra” ao neoliberalismo: contra fatos não há argumentos, mas, no plano da ideologia, argumentos podem ser manipulados. As classes mais vulneráveis no plano real costumam ser também vulneráveis no plano da ideologia. Em economia, quando o noticiário da grande imprensa começa a fazer circular, como algo positivo, que o governo está cortando gastos, não surpreende se isso é saudado como positivo pela sociedade, pois assim divulga a grande mídia.

A principal indicação da vulnerabilidade das partes indefesas da sociedade, portanto, está na manipulação do orçamento público e na naturalização de suas distorções pela mídia, pela maioria do Congresso, pelas classes dominantes em geral e, em parte, pelas elites. Contra isso, as defesas dos pobres são muito frágeis. A burocracia pública que cuida do orçamento é implacável: não há como escapar das restrições que impõe do lado dos gastos, e dos cortes, pelo lado da despesa.

Vejam o que está acontecendo com as universidades federais: submetidas a um corte linear de 14,5% em suas verbas, não terão como pagar, neste e nos próximos anos, despesas básicas por serviços essenciais como até mesmo de limpeza, de água, de energia elétrica. Estudantes ficarão sem onde morar nas próprias universidades e sofrerão cortes brutais de bolsas para cursos de formação, aperfeiçoamento e pesquisa. É o futuro do país que está sendo jogado às moscas pelo governo Bolsonaro.

Contudo, se fôssemos reduzir nosso debate com os neoliberais a uma equação simples, diríamos resumidamente: liberem os gastos e os investimentos públicos, esqueçam os déficits. Eles serão compensados pelo aumento da produção. E o aumento da produção —em especial, de produtos alimentares— na medida em que temos capacidade produtiva e recursos naturais, reduzirá as pressões inflacionárias, resultando disso tudo o aumento do emprego, junto com a produção!

Sei que os neoliberais não aceitarão esse debate ao vivo. Por isso estamos colocando-o na forma de uma declaração de “guerra” unilateral. Se aceitassem, e não viessem com essa arrogância de que são “ortodoxos”, poderíamos produzir esclarecimentos de maior amplitude sobre a economia política brasileira.

A propósito, acabo de escrever A Economia Brasileira Como Ela É, um livro-libelo a ser editado pela Amazon para circular nas próximas semanas. Será a base dos vídeos.

Ortodoxia, pela etimologia, significa “conhecimento certo”. Portanto, quando os neoliberais se dizem ortodoxos, estão promovendo um “sequestro” de palavras. É por isso que é difícil trazê-los para um debate sério, corpo a corpo. Se eles se dizem neoliberais, nós nos devíamos chamar de “neo-ortodoxos” e debatermos com eles nessa qualidade, superando a ortodoxia deles pela nossa. De qualquer forma, preferimos nos qualificar como social desenvolvimentistas, que é a neo-ortodoxia.

Os conceitos dessa neo-ortodoxia, adiantados acima, se colocam num nível rigorosamente científico e eliminam todas as contradições da doutrina neoliberal. Explicam, principalmente, as razões do fracasso da aplicação do neoliberalismo doutrinário à economia real, especialmente nas últimas duas décadas e, com destaque, nos anos de radicalismo neoliberal de Temer e Bolsonaro. É um fracasso refletido, sobretudo, no custo de vida e na degradação do mercado de trabalho.

Nossa “guerra” contra o neoliberalismo, durante o trimestre de junho a agosto, começou na última sexta, dia 3, com uma live a ser replicada nas redes e pelo Instagram e outras plataformas. É pela vida, pela liberdade, pelo respeito à propriedade individual e pelo direito ao pleno emprego – fundamentos da democracia moderna, segundo os filósofos sociais que a anunciaram. Não será uma “guerra” de economistas. Nela, certamente, vai haver lugar para todos os combatentes de boa vontade.

Entre os economistas, um grupo de vanguarda terá papel decisivo nesse movimento: serão os propagadores, no Brasil, da Teoria Monetária Moderna e do Instituto de Finanças Funcionais para o Desenvolvimento. Esses acadêmicos estão em pé de igualdade com quaisquer teóricos que, no mundo, se dedicam à difusão de FF. A eles caberá quebrar os nós que ainda aprisionam boa parte de nossos economistas, infelizmente de várias gerações, nas poderosas cadeias dos preconceitos neoliberais.


J. Carlos de Assis é economista e jornalista.


segunda-feira, 25 de outubro de 2021

QUANDO OS RATOS ABANDONAM O NAVIO . . . . .

Segunda, 25 de outubro de 2021

Por

Pedro Augusto Pinho* 

Luiz Eduardo Soares. Extraordinário: os membros demissionários do ministério da economia aceitam conviver tranquilamente com a devastação da Amazônia, as ameaças à sobrevivência das sociedades originárias, o golpismo, o negacionismo, a abordagem criminosa da pandemia, o racismo, a fome, o desemprego, o desespero de milhões. Agora, romper teto  de gastos, isso não. Essa a moralidade de nossa elite. 

 (mensagem pelo whatsaap, em 22/10/2021)


Seria muito educativo, mas contrário à pedagogia colonial, se os donos das mídias comerciais, quase todos entreguistas, neoliberais, com enorme desprezo pelos brasileiros - um dos Marinhos, ao morrer, teve em seu necrológio, no jornal da família, como única referência “positiva”, o amor pela Inglaterra (!) - explicassem que o equilíbrio fiscal mata mais do que o covid. 


Mas seria desejar que o frio aquecesse, o sol iluminasse as noites, e os bilionários donos do Brasil, aprovassem “medidas estruturantes” para garantir emprego e renda digna para os brasileiros. 


Analisemos o significado das principais expressões que nossos caros leitores recebem, pelos olhos e pelos ouvidos, cotidianamente, desta mídia antinacional. 


Equilíbrio fiscal. É o primeiro mandamento do decálogo do Consenso de Washington: “disciplina fiscal, evitando grandes déficits fiscais em relação ao Produto Interno Bruto (PIB)”. No original: “fiscal policy discipline, with avoidance of large fiscal deficits relative to GDP”. 


Como sabem, o Consenso de Washington foi uma imposição das finanças internacionais, fortalecidas com as desregulações que o Reino Unido (UK) e os Estados Unidos da América (EUA) realizaram na década de 1980, para introduzir novas bases de dominação colonial.  


Transcrevo da Wikipédia: “O Consenso de Washington é uma conjugação de grandes medidas — que se compõe de dez regras básicas — formulada em novembro de 1989 por economistas de instituições financeiras situadas em Washington D.C., como o FMI, o Banco Mundial e o Departamento do Tesouro dos EUA”.  


Ou seja, empregados do Fundo Monetário Internacional (FMI), do Banco Mundial (WB) e do Tesouro estadunidense passaram a ditar as políticas governamentais aos países subalternos conforme o interesse dos grandes grupos financeiros.  


E o Brasil, com uma constituição recém-aprovada (1988), iniciou logo a alterá-la, emendá-la, desfigurá-la conforme os desígnios destes senhores. 


Tivemos 111 emendas, a partir de 1992, sendo a última de 28 de setembro de 2021. Estas emendas extinguiram direitos trabalhistas e previdenciários, eliminaram ações governamentais nas áreas de energia e mineração, extinguiram empresas públicas, e numa delas, a Emenda Constitucional (EC) 95, de 15/12/2016, assinada pelos então presidentes da Câmara, deputado Rodrigo Maia, e do Senado, senador Renan Calheiros, dispunha em seu primeiro artigo que: “fica instituído o Novo Regime Fiscal no âmbito dos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social da União, que vigorará por vinte exercícios financeiros, nos termos dos artigos 107 a 114 deste Ato das Disposições Constitucionais Transitórias” (Teto dos Gastos Públicos). 


O que é verdadeiramente o equilíbrio fiscal. Para todas as despesas que não sejam destinadas ao pagamento de juros, à renovação ou amortização de empréstimos ou custos financeiros, haverá um limite máximo de gastos. Este limite foi estabelecido, na Emenda Constitucional referida, por 20 anos. Trocando em miúdos: o Brasil fica congelado por 20 anos; não importa que regrida economicamente, social e educacionalmente, que falte atendimento a saúde, à proteção dos desvalidos e redução de emprego. Com a epidemia do covid tivemos inclusive a regressão populacional, mais pessoas morreram do que nasceram em estados brasileiros, no primeiro trimestre de 2021, conforme informação da Reuters/InfoMoney (05/04/2021).  


O equilíbrio fiscal só não tira, nem reduz, o dinheiro do governo que for destinado aos bancos, e vemos isto no crescimento do percentual das despesas financeiras nos orçamentos da Nação. Atualmente, elas já representam mais de 50% do que é arrecadado em impostos e pelas outras fontes de receita do Estado Brasileiro. 


Todos os jornalões, toda mídia comercial e antinacional, vêm estampando como escândalo, desde 21/10 até hoje, a saída de quatro pessoas em cargos de chefia e assessoramento do Ministério da Economia e as repercussões “nefastas” da “licença para gastar” no que fora congelado por 20 anos, ou seja, com os mais pobres. E sendo medida política, logo surge a eleição e os execráveis políticos como indesejáveis agentes ou motivação. 


Como seria melhor o mundo governado por banqueiros, que entre eles escolheriam o mandatário, e com proibição de aumento populacional e salários maiores do que os indispensáveis para fazer circular as mercadorias e proporcionar lucros aos varejistas! (sic). 


Porém nos EUA, o déficit fiscal é uma constante. Pelo Núcleo de Estudos de Controladoria e Contabilidade Tributária (NECCT) de São Paulo, somos informados que, em 2020, o déficit atingiu 12,4% do Produto Interno Bruto (PIB) estadunidense, embora inferior aos US$ 3,1 trilhões do ano anterior. 


Mas quem são estas pessoas que abandonaram o Governo, e de onde surgiram? Não vou personalizar, até por serem instrumentos de quem nem mesmo conhecem. Apenas chamo a atenção do leitor para o fato que, dos quatro demissionários, três deles cursaram universidades públicas, fizeram seu aprendizado em órgãos públicos e, agora, muito provavelmente, vão vender este conhecimento recebido dos nossos impostos para enriquecer às nossas custas os capitais apátridas residentes em paraísos fiscais.  


Mais relevante que o punhal em César foi a mão de Brutus. E O Estado de S. Paulo (25/10/2021) prossegue a saga da morte aos pobres, da redução populacional pela miséria, ameaçando o presidente que for eleito: “Drible no teto cria cilada para 2023” (página B1). 


Seria o caso de perguntar: que tanto mal a sociedade brasileira fez aos donos da mídia, televisiva, radiofônica, impressa e virtual, para que, com raríssimas exceções, eles se unissem contra o Brasil? 


Em live recente, no Jovens Cronistas, o doutorando, perspicaz e culto Felipe Maruf Quintas mostrava a diferença entre o Brasil e a quase totalidade dos países do mundo. Aqui, a natureza foi mãe carinhosa e rica, deu-nos tudo para constituirmos a civilização do futuro. No mundo não Europeu, de grande extensão territorial, ou foram mero transplantes socioculturais: EUA, Canadá, Austrália, ou abundante em áreas hostis, desérticas, frias, desprovidas de recursos para sobrevivência tranquila.  


E sabemos muito bem que não há sociedade globalizada. Cada povo, cada etnia, cada país é resultado das relações estabelecidas entre os habitantes e seu meio natural, as florestas, as águas, a abundância ou carência de caça e pesca, pelas dificuldades ou facilidades em obter os recursos para a sobrevivência e o desenvolvimento. 


E ainda fomos abençoados por constituir um povo mestiço, que prosseguimos criando, “na carne e no espírito”, capaz de desenvolver nova civilização, mas que por século, como escreveu o antropólogo Darcy Ribeiro, sem consciência de nós mesmos, afundados na “ninguendade”. 


E aquele gênio brasileiro concluiu que “o ruim aqui, e efetivo fator causal do atraso, é o modo de ordenação da sociedade, estruturada contra os interesses da população, desde sempre sangrada para servir a desígnios alheios e opostos aos seus” (Darcy Ribeiro, O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil, Companhia das Letras, SP, 1995).  


E que é o Teto de Gasto? quem determinou o decálogo do Consenso de Washington? nós brasileiros, por nossa vontade, ou os estrangeiros? Pior ainda, seus representantes aqui, corrompendo maus brasileiros, que se vendem barato, pois vendem o futuro de seus filhos e netos? do País rico que se empobrece e vive na miséria? 


Os que abandonaram o governo para trabalhar para os capitais apátridas, muitas vezes de origem ilícita, criminosa, e que tiveram sua formação, bolsas de estudo, oriundas dos impostos de todos nós, são verdadeiramente desprezíveis. Mas em nada diferente dos que, no executivo, no legislativo, no judiciário, prosseguem destruindo o Estado Nacional Brasileiro, se locupletando indevidamente com as migalhas que os gestores de ativos, os capitais especulativos deixam, com desprezo, em suas mãos perversas. 


Para que se construam “medidas estruturantes”, que tirem a população da miséria, que promovam a geração de emprego, distribuição de renda, que possibilitem a todos brasileiros a vida digna, é preciso estudar o Brasil, conhecer com profundidade nossa cultura, entender nossos valores, estabelecer nova estrutura de organização, sem cópia de qualquer modelo estrangeiro, pois sabemos que cada sociedade é única. 


E não será dos vendilhões da Pátria, desses neoliberais tremendamente evangélicos, que poderemos esperar estas “medidas estruturantes”. 


*Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado. 

sábado, 15 de fevereiro de 2014

O moribundo Consenso de Washington

Sábado, 14 de fevereiro de 2014
Do Blog do Professor Salin Siddartha

Criado na década de 80, o chamado Consenso de Washington traduziu-se como uma recomendação do governo estadunidense de condições para que os organismos financeiros sediados na capital dos EUA concedessem cooperação financeira externa, bilateral ou multilateral.
Dele resultaram dez cláusulas impostas às nações que solicitavam ajuda financeira ao Banco Mundial e ao Fundo Monetário Internacional, como um conjunto de princípios para manter as economias africanas, centro-asiáticas, latino-americanas e dos países do Leste Europeu sem correções de rumo que necessitassem da intervenção do FMI ou de pacotes de ajuda externos. Em suma, centravam-se doutrinariamente na desregulamentação dos mercados, na abertura comercial e financeira dos países e na redução do tamanho e papel do Estado. Assim, o Fundo Monetário Internacional, diversas agências dos EUA e organismos multilaterais incrementaram a monitoração desse pacote de medidas nos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Desigualdade social em queda? Mentira...

Quarta, 5 de setembro de 2012
Paulo Schueler
A divulgação do relatório “Estado das cidades da América Latina e do Caribe – 2012″ deixou claro: a redução da desigualdade é o principal desafio na América Latina.

No caso do Brasil, o problema é ainda pior: sexta economia do mundo, o Brasil é o quarto país mais desigual da América Latina, ela mesma a mais desigual do mundo. Afirma o Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (ONU-Habitat) que, na região, somos uma sociedade menos desigual apenas que Guatemala (78º economia do mundo), Honduras (98º) e Colômbia (27º).

utro dado assustador é que 124 milhões de pessoas vivem sob condições precárias nas cidades latino-americanas, sendo 28% delas (37 milhões) no Brasil. E “puxamos para baixo” o resultado da região, pois a média no Brasil é de 29% enquanto na latino-americana é de 25%.

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SUBAVALIAÇÃO

Pior do que contribuir para a vergonha de todos nossos vizinhos é saber que o relatório da ONU “subnotifica” a desigualdade brasileira. O jornalista Clóvis Rossi deu a senha, em coluna publicada na Folha de S. Paulo, na qual afirma:

“O único metro usado para medir a desigualdade chama-se índice de Gini… Acontece que o índice mede apenas a diferença entre salários. Não consegue captar a desigualdade mais obscena que é entre o rendimento do capital e o do trabalho”.
 
O que isso significa? Que nosso já vergonhoso quarto pior índice na América Latina não leva em conta os dados de renda relativos aos ganhos com geração e pagamento de lucros, juros e aluguéis. Respondam rápido: que país da região passa por uma espécie de bolha imobiliária?

E o que tem as taxas de juros mais elevada? Em qual deles está a principal bolsa de valores, com as maiores companhias? Brasil-il-il!

Sigamos adiante, pela estrutura tributária do Brasil: de quem o governo mais retira rendimento para se manter? É mais que sabido que possuímos uma estrutura regressiva, pela qual a maior parte da arrecadação é proveniente dos impostos sobre o consumo e a produção.

Proporcionalmente, os pobres pagam mais imposto que os ricos, quem apenas trabalha paga mais do que quem investe na bolsa ou compra títulos da dívida pública, o que traz elevação da desigualdade. Segundo o IPEA, um órgão do próprio governo, pessoas com renda de até dois salários mínimos são responsáveis por 54% da arrecadação do Estado.

Já as com renda superior a 30 salários mínimos contribuem com apenas 29%.

O quadro torna-se ainda pior quando lembramos que a estrutura de gastos do Estado privilegia as despesas financeiras, os juros e amortizações da dívida pública – justamente onde há ganho de capital.

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NÚMEROS REDONDOS

Voltando a Clóvis Rossi, para termos os números redondos: “No ano passado, o governo federal dedicou 5,72% do PIB ao pagamento de juros de sua dívida. Já o Bolsa Família, o programa de ajuda aos mais pobres, consumiu magro 0,4% do PIB. Resumo da história: para 13.330.714 famílias cadastradas no Bolsa Família, vai 0,4% do PIB. Para um número infinitamente menor, mas cujo tamanho exato se desconhece, a doação, digamos assim, é 13 vezes maior”.

Tantos números não deixam margem para dúvida: a política econômica levada a cabo pelo PT não resultou em redução da desigualdade; pelo contrário: faz, a cada dia, elevar-se o abismo entre pobres e ricos.

Se levarmos em conta as propostas que o governo tem na gaveta, à espera apenas das eleições de outubro, como a retirada de direitos trabalhistas e uma nova reforma da previdência, não precisamos nem esperar: os futuros relatórios da ONU trarão o Brasil em posição mais vergonhosa…

Fonte: Tribuna da Internet, com informações do site do PCB

TELECOMUNICAÇÕES: O TAMANHO DO BURACO.

Quarta, 5 de setembro de 2012

Por Mauro Santayana
Segundo O Estado de S. Paulo, as empresas de telefonia que operam no Brasil tiveram uma expansão de sua receita em 8,3% ao ano, desde 2005, e só reinvestiram 3% ao ano, no mesmo período. Mais grave ainda é a revelação de que, desde a privatização do sistema Telebrás, em 1998, as empresas investiram 390 bilhões, contra uma receita calculada em quase dois trilhões de reais. Esse número é obtido pela informação dos dois principais dirigentes da Oi e da Vivo, de que foram investidos mais ou menos 20% da receita total. Se os investimentos foram de 390 bilhões, basta multiplicar por cinco, para obter a receita total destes 14 anos. É bom lembrar que boa parte dos investimentos foram bancados pelo BNDES, a juros de mãe amorosa.

O Brasil é o paraíso dos investidores estrangeiros, nesse sistema de colonialismo dissimulado. Há poucos dias, outro jornal, O Globo, divulgava que as montadoras de automóveis lucram 3 vezes mais em nosso país do que nos Estados Unidos. A margem de lucro dessas empresas, no Brasil, é de 10%, enquanto nos Estados Unidos não passa de 3%. E não só nos Estados Unidos os carros são muito mais baratos. Há modelos que custam duas vezes mais no Brasil do que na França, e 30% mais barato ali mesmo, na Argentina.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Auditoria Cidadã da Dívida: O novo Consenso de Washington e os 8 anos do governo Lula

Domingo, 19 de dezembro de 2010

Publicado pela "Auditoria Cidadã da Dívida"
A Folha Online de hoje traz balanço dos 8 anos do governo Lula, cujos aspectos mais bem avaliados em pesquisa Datafolha são o “combate à fome e à miséria” e a “condução da economia”. Na sexta feira, a Folha Online divulgou informação do IBGE, de que as regiões metropolitanas do Rio de Janeiro, Porto Alegre e Belo Horizonte estariam vivendo uma situação de “Pleno Emprego”, pelo fato de apresentarem taxas de desemprego próximas ou inferiores a 5% em novembro. Em tal situação, segundo o IBGE, aqueles que ainda procuram emprego estariam fazendo isso para “testar o mercado” de trabalho, ou estariam “em transição entre um trabalho e outro”. Segundo o IBGE, as vagas temporárias de emprego ofertadas nesta época de fim de ano contribuíram para este resultado.

Tais informações poderiam dar a entender que a política econômica estaria correta, apesar de destinar a maior fatia do orçamento federal para o pagamento de juros e amortizações da dívida.

Porém, tal metodologia de medição do desemprego não considera a qualidade do emprego, ou seja, a sua precariedade, ou o caso de pessoas que deixaram de buscar emprego pois perderam as esperanças de encontrá-lo (o chamado “desemprego oculto pelo desalento”).

A Pesquisa de Emprego e Desemprego do DIEESE, que mede tais variáveis, mostra que em outubro a taxa de desemprego era de 8,2% em Porto Alegre e de 7,2% em Belo Horizonte, ou seja, taxas bem maiores que as medidas pelo IBGE. No Rio de Janeiro, onde não é feita a pesquisa do DIEESE, um dado é revelador: dentre os jovens de 15 a 17 anos, a taxa de desemprego foi de nada menos que 20,4%, segundo o próprio IBGE.

A taxa nacional de desemprego anunciada pelo IBGE em novembro, de 5,7%, representa apenas cerca da metade da taxa geral de desemprego apontada pelo DIEESE em outubro (10,8%), e ainda se encontra acima da taxa observada há 16 anos atrás. Outra variável importante a ser considerada é a renda média do trabalho, que em 2009 ainda se encontrava abaixo da renda observada em 1995.

Em suma: o país sequer retornou a uma situação de 16 anos atrás, quando obviamente a conjuntura era vista como precária por integrantes do atual governo, que criticavam a metodologia da pesquisa do IBGE, exatamente por desconsiderar o desemprego oculto pelo trabalho precário ou pelo desalento.

Esta tendência de queda na taxa de desemprego somente recupera parte das perdas ocorridas no mundo do trabalho após as crises financeiras dos anos 90, e decorre de conjuntura internacional mais favorável. Segundo Relatório da CEPAL (pág 46), esta tendência de queda da taxa de desemprego a partir da década de 2000 ocorre em toda a América Latina.

Ou seja: após as crises financeiras dos anos 90 terem mostrado a falência do neoliberalismo – devido às políticas anti-sociais (ex: aumento das taxas de juros para 40% ao ano) na tentativa de evitar as grandes fugas de capitais para o Norte, o que gerava grande desemprego - o capitalismo global tratou de rever a sua estratégia, passando a combater as crises com trilhões de dólares sendo liberados instantaneamente pelos Bancos Centrais, para socorrer o sistema financeiro e produtivo (às custas do povo) e assim gerar grande fluxo de dinheiro para os países em desenvolvimento. Políticas compensatórias focalizadas para os mais pobres também foram estimuladas (ex: Bolsa Família), no sentido de tentar legitimar o sistema neoliberal, dentro do que se convencionou chamar de “Novo Consenso de Washington”.

Nesta nova situação, os rentistas internacionais continuam ganhando, pois agora aplicam seus dólares em títulos da “dívida interna” nos países do Sul, que pagam juros bem maiores, e cujas moedas estão se valorizando frente ao dólar. Os Banco Centrais compram os dólares dos investidores internacionais e lhes pagam com títulos públicos. Com isso, os Bancos Centrais dos países do Sul acumulam centenas de bilhões de dólares em reservas internacionais, que garantem as fugas de capital, dispensando a subida dos juros (evitando altas no desemprego), mas às custas de uma enorme dívida interna, cujos juros são pagos pelo povo que, por isso, continua sem serviços públicos de qualidade, como saúde e educação.

Desta forma, o neoliberalismo continua reinante, com a ilusão de que estaria superado (o que afasta a hipótese de revoltas populares), porém, aprofundando cada vez mais o endividamento, que agora aparece sob uma nova face – a “dívida interna”.

Enquanto isso, no Norte, as enormes dívidas feitas para salvar o setor financeiro continuam justificando pesadas reformas que retiram direitos dos trabalhadores e aposentados, em um processo que pode significar uma nova rodada de aprofundamento do neoliberalismo em todo o mundo.
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