Sábado, 22 de janeiro de 2011
Por Ivan de Carvalho

Há
algumas dificuldades também na situação, mas, vistas de agora as coisas, são
pouco relevantes quando comparadas às dificuldades oposicionistas.
O governo da
presidente Dilma Rousseff enfrenta problemas na área financeira. Está delineada
faz já algum tempo uma crise cambial, que não é exclusiva do Brasil, mas nos
atinge severamente e tende a se agravar. O Banco Central está encontrando cada
vez maior dificuldade para conter a apreciação do real frente ao dólar e isto
prejudica as exportações e estimula as importações.
Não fosse o
excelente desempenho das comodities – principalmente alimentos – e a balança
comercial já estaria em crise total. Uma outra ajuda que o país tem recebido é
a oferta “generosa” de investimentos estrangeiros, especulativos, muitos,
direcionados à produção ou ao comércio e serviços, outros. Isso está ajudando a
manter sem traumas o balanço de pagamentos.
Mas o governo
Dilma enfrenta a ainda moderada, mas perigosíssima (por causa da tradição
brasileira) herança maldita da inflação deixada pelo último ano do mandato de
Lula, o ano eleitoral, da gastança eleitoreira sem censura. Inflação agravada
pelo progressivo inchaço da máquina de poder federal durante os oito anos de
mandato do ex-presidente.
Por conta dessa
inflação, o Copom acaba de inverter a tendência de queda de juros, elevando em
0,5 por cento a taxa básica de juros (Selic). O reajuste real do salário mínimo
será de 0,16 por cento ao dia. Cortes profundos estão sendo planejados para os
orçamentos setoriais, inclusive no setor da Saúde, no qual, em relação direta,
quando se cortam reais, cortam-se vidas. Uma maldade inominável.
E o governo
também enfrenta problemas políticos. Os principais, por enquanto, relacionam-se
com a insatisfação contida, mas não vencida, do PMDB com a posição subalterna
reservada ao grande e fundamental aliado pelo novo governo petista.
Mas pior
estão as coisas nas oposições. Vejamos apenas, ligeiramente, os dois maiores
partidos. O Democratas está empenhado numa luta fratricida entre duas facções
por causa de um prefeito, Gilberto Kassab, de São Paulo, que ninguém sabe
(talvez nem ele mesmo saiba ainda) se ficará no DEM ou passa para o PMDB. E o
DEM, ou boa parte dele, já vê com maus olhos seu papel tradicional de
coadjuvante do PSDB.
Enquanto
isso, no PSDB, o maior partido oposicionista, os dois principais políticos
militantes, José Serra e Aécio Neves, treinam para o embate que sabem
inevitável, já que nenhum deles se dispõe a deixar de concorrer a presidente
(Serra pela terceira vez) da República em 2014. Serra luta para manter-se à
tona, trabalhando para ser eleito presidente nacional da legenda. E, pasmem,
pede ao partido que faça oposição de verdade (ele que nem no governo paulista e
nem mesmo na campanha eleitoral para presidente fez isso). Aécio lutará com
armas que ainda não exibe. Sua postura de oposicionista ante o governo Dilma
espera por definição. E seu trabalho de atração do PMDB tem que esperar que
surjam a oportunidade e o momento certos.
- - - - - - -
- - - - - -
Este artigo
foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia deste sábado.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.