Quinta, 26 de
setembro de 2013
Por Ivan de Carvalho

O mais importante na retirada
socialista do governo petista é que essa atitude do comando nacional do partido
– apressada por futricas do PT e PMDB que esse comando considerou hostis ao PSB
e sua imagem, já que tendiam a caracterizar este partido de “fisiológico”,
apegado a cargos e benesses do poder federal – deu a Eduardo Campos total
liberdade para articular sua candidatura a presidente da República na oposição
a Dilma Rousseff da maneira que mais lhe aprouver.
A Executiva nacional do PT, ainda meio
estonteada pela rapidez (indesejada pelos petistas) com que o PSB tomou a
decisão, emitiu nota cheia de dedos e panos quentes, aparentemente buscando
preservar uma reaproximação, no caso de Campos não conseguir viabilizar
política e economicamente sua candidatura. E, na pior das hipóteses, se Campos
for até o fim, obter um acordo para que o confronto entre PT e PSB no primeiro
turno seja prudente, preservando espaço para Dilma ter o apoio de Campos e do
PSB no segundo turno. Isso, claro, na hipótese de não ser Campos, mas outro
concorrente, o oponente da atual presidente da República no segundo turno.
Enquanto publicamente falam macio o
governo e o PT, por baixo dos panos tratam de tentar minar a candidatura de
Eduardo Campos, que já está praticamente lançada, faltando apenas um anúncio
oficial. Estão postos na corrida presidencial também Aécio Neves, do PSDB e
Marina Silva, não se sabe ainda por qual partido (a burocracia cartorial,
talvez espontaneamente, talvez cooptada, sentou em cima das assinaturas
coletadas para a formação do partido Rede Sustentabilidade).
Mas o governo tentou surrupiar do PSB
Fernando Bezerra, ministro da Integração Nacional, que havia sido indicado por
Eduardo Campos. Criaria um problema para Campos em Pernambuco. Mas este o
convenceu a sair do cargo com o aceno de que provavelmente será o candidato do
PSB a governador do estado no ano que vem. Nessa, o governo Dilma e o PT
perderam.
Mas estão conseguindo vantagem no
Ceará, o segundo mais importante núcleo socialista estadual. O governador Cid
Gomes opinou que o PSB não devia afastar-se do governo. Agora, Cid Gomes,
contrário à candidatura presidencial de Campos, prepara-se para tornar oficial
sua já decidida saída do PSB (noticia-se que o fará ainda hoje à noite).
Levaria junto com ele quatro deputados federais e dez estaduais (além de 38
prefeitos cearenses). Mas como esse pessoal foi eleito pelo PSB, há riscos
legais de perda de mandato e o governador do Ceará está tentando contornar
politicamente esse problema junto a Eduardo Campos.
Vale notar que junto com Cid sairá do
PSB seu irmão Ciro Gomes, que já foi e queria ser mais uma vez candidato a
presidente da República. Mas se dispõe a apoiar a candidatura petista, o que
não deixa de ser interessante, tendo em conta que Lula o enganou em relação às
eleições de 2010, convencendo-o a transferir seu título eleitoral para São
Paulo com o aceno de que poderia ser candidato a governador com o apoio do PT.
Transferido o título, o PT deixou Ciro de mãos abanando e eleitoralmente
situado fora de seu habitat natural, o Ceará. Foi uma rasteira das mais
rasteiras e o ex-ministro da Fazenda do governo Itamar Franco ficou indignado –
mas deve ter compreendido, quando não conseguiu ser o candidato do PSB a presidente,
ou mesmo antes, que o perdão é o melhor caminho em qualquer circunstância. E
que ressentimento e vingança são sentimentos muito feios. Cid, Ciro e companhia
devem ir para um novo partido, o Pros.
O PSB desencarnou do governo do PT, mas
este partido reluta em desencarnar dos governos estaduais do PSB. O comando
nacional petista, sempre orientado pelo ex-presidente Lula, estimula essa
relutância. Alguém poderia dizer que é “fisiologismo”, apego aos cargos. Mas
parece que a razão é outra ou, pelo menos, há outro componente nessa relutância
petista – não explodir todas as pontes entre os dois partidos, na esperança de
que o PSB recue da marcha iniciada rumo à tentativa de conquistar a Presidência
da República.
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Este artigo foi
publicado originariamente na Tribuna da Bahia desta quinta.
Ivan de Carvalho é
jornalista baiano.