Domingo, 29 de setembro de 2013
Por Sergio Caldieri
Josué
Apolônio de Castro nasceu em 5 de setembro de 1908, em Recife, e morreu
em 24 de setembro de 1973, durante o seu exílio em Paris. Médico,
geógrafo, escritor, filósofo, sociólogo e político. Estudou Medicina em
Salvador e Filosofia na Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro, foi
uma das personalidades que mais se destacaram no cenário brasileiro e
internacional não só por seus trabalhos científicos sobre a fome no
mundo, mas também por sua atuação no plano político e em organismos
internacionais.
O
sociólogo da fome, como era conhecido mundialmente, foi professor de
Geografia Humana na Faculdade Nacional de Filosofia; pertenceu ao
Serviço Técnico de Alimentação Nacional; presidente do Conselho da
Organização de Alimentação e Agricultura das Nações Unidas (FAO); do
comitê governamental da Campanha de Luta contra a Fome, (ONU); do
conselho do Comitê Intergovernamental para as Migrações Européias; do
Centro Internacional para o Desenvolvimento, em Paris, e do Comitê
Mundial por uma Constituição dos Povos, em Denver (EUA); além de
vice-presidente da Associação Parlamentar Mundial em Londres, e
professor da Sorbonne em Paris.
Josué de Castro escreveu
29 livros, traduzidos em mais de 25 línguas. Preocupado com o
futuro, foi o pioneiro na defesa do meio ambiente, um semeador de
idéias que encantava o público com seus discursos. Darcy Ribeiro o
considerava “O homem mais inteligente e brilhante que eu conheci”.
GEOPOLÍTICA DA FOME
Era
famoso nos EUA e Europa também como “advogado do Terceiro Mundo”,
depois do sucesso do livro “Geopolítica da fome”. Em 1971, foi indicado
pela segunda vez ao Prêmio Nobel da Paz. Em 1958, foi eleito deputado
federal com 33.657 votos, o mais votado do PTB no Nordeste. Seu
companheiro de chapa para deputado estadual era Francisco Julião,
advogado e líder das Ligas Camponesas. E seria indicado para disputar o
governo do Estado com apoio do ministro do Trabalho João Goulart.
Josué
foi um dos fundadores da Academia Nacional de Cultura junto com os
amigos Mário de Andrade, Jorge Amado, Vinícius de Moraes, Anísio
Teixeira, Cecíia Meireles, Cândido Portinari, Darcy Ribeiro, Oscar
Niemeyer, Barbosa Lima Sobrinho, Celso Furtado, entre outros.
Quando
o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, liderou a Ação da Cidadania
Contra e Fome, a Miséria e pela Vida, em 1992, teve a patente do
pioneirismo de Josué de Castro. O ex-presidente da ABI Barbosa Lima
Sobrinho, disse: “O Brasil tem duas cartas de descobrimento. A primeira é
a de Pero Vaz de Caminha. A segunda é Geografia da Fome, de Josué de
Castro.
Em
1955, visitou a URSS em plena guerra fria, e conseguiu a façanha de ser
reconhecido, por seus estudos, tanto pelos soviéticos como pelos
norte-americanos. Os países inimigos consagraram o estudo de Josué como
fundamental para se pensar a existência da humanidade na mancha
subdesenvolvida – como produto do desenvolvimento e a miséria na África,
parte de Ásia e na América Latina. Na escola do MST, em Veranópolis
(SP), os ensinamentos do sociólogo servem de base teórica para a
organização do movimento dos sem-terra.
CASSADO NO AI-1
Logo
após o golpe militar de 1964, Josué teve os direitos políticos cassados
pelo Ato Institucional Nº 1 juntamente com Miguel Arraes, Leonel
Brizola, Celso Furtado, Darcy Ribeiro e outros, considerados perigosos
agentes do comunismo.
Seu
crime: ter denunciado ao mundo a vergonha da fome como obra dos homens.
Viveu exilado durante nove anos até a sua morte, aos 65 anos, em Paris.
Quando o SNI autorizou a sua volta, em 28/9/1973, Josué de Castro já
estava morto desde o dia 24. Somente vestido de caixão, para lembrar os
versos de João Cabral de Mello Neto sobre os camponeses pernambucanos,
os militares permitiram a sua volta. Mas era um homem grande demais para
caber em sete palmos de terra. Enquanto houver fome, latifúndio e
subdesenvolvimento, ele estará vivo entre todos nós.
A
morte do sociólogo da fome foi manchete nos jornais do Brasil, e nos
principais jornais da Europa e Estados Unidos. E Josué havia
confidenciado aos amigos no exílio parisiense, em 1973: “Não se morre só
de enfarte, ou de glomero-nefrite crônica… morre-se também de saudade”.
Fonte: Tribuna da Imprensa