Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Já vai tarde!

Quarta, 23 de junho de 2010
Pagou, mas não tudo que deve. A cassação ontem (23/6) de Eurides Brito não purga todos os seus pecados. Aliás, não purga nenhum dos seus pecados ou de suas maldades.

Trazida em 1979 para Brasília pelas mãos do então ministro da Educação da ditadura, o coronel Jarbas Passarinho, aquele que eliminou centenas de estudantes e professores das universidades brasileiras com seu Decreto 477, “o AI-5 das Universidades”, dona Eurides demorou de começar a pagar o mal que tanto fez.

O Decreto-Lei 477, fruto da mente de Jarbas Passarinho, inibiu a liberdade e a capacidade intelectual nas universidades brasileiras, demitiu professores e servidores, cassou alunos, prejudicou o ensino superior, mas não apenas o superior, e levou terror à escola. O criador desse monstrengo perverso que, paraense, lembrou-se de sua conterrânea Eurides Brito quando os professores do Distrito Federal lutavam numa greve. Ela foi retirada da bolsa (ops!), do bolso, do coronel Passarinho e trazida para a Secretaria de Educação do DF.

A cassada ontem por quebra de decoro e da ética é a mesma senhora que demitiu e puniu mais de três mil professores públicos do Distrito Federal. É a “professora” que acusava de falta de ética os mestres que não se submetiam, que não aceitavam a submissão à sua nefasta administração, ou influência —quase que eterna— na Secretaria de Educação.

É a mesma dona Eurides que, secretária da Educação na época da ditadura, reinou  também por muito tempo nos quatro governos de Joaquim Roriz, de quem foi titular da área da Educação. Ainda mandou absoluta nessa área no curto, mas péssimo e escandaloso governo de Arruda, aquele dos panetones. Mandou e desmandou, mais desmandou que mandou, na Educação de Brasília por longos e longos anos.

Fez adversários no seio da categoria dos professores e servidores escolares, mas, como todo chefe esperto, também formou um razoável contingente de seguidores, especialmente integrados por dirigentes escolares. Tinha muitos adversários, mas muitos bajuladores e aproveitadores. Estes dois últimos grupos estão desembarcando do hoje navio à deriva.

O seu alforje era muito grande. Enquanto o vaqueiro nordestino na sua labuta diária sob o sol a pique enche o seu alforje com rapadura e farinha que lhe dão a energia para mais um dia de trabalho, a distrital enchia o seu alforje de um determinado e estranho tipo de rapadura.

Quando enche seu alforje de rapadura e com a santa farinha que mata ou engana a sua fome, o sertanejo nordestino é observado por Deus.

A distrital ao encher seu alforje com aquele tipo de “rapadura” foi também observada. Não por Deus, mas por Durval Barbosa. Deus guarda o que observa para o julgamento final. Durval, não. Entrega à Polícia Federal.

O vaqueiro nordestino leva uma vida dura, muito sofrida. Embaixo de sol e chuva, embrenhando-se na caatinga cheia de espinhos juntamente com seu cavalo e seu fiel cachorro leva uma vida dura para poder ter sua farinha e rapadura dentro do alforje e matar a fome de seus filhos.

Enquanto isso, outros enchem seus alforjes —pois que tais bolsas de tão grandes poderiam ser chamadas de alforjes— de um tipo indecente de rapadura. Rapadura de dinheiro. E Deus sabe muito bem de quem essa rapadura foi tirada.

Já vai tarde, Dona Eurides!

Olhe a seguir as “rapaduras” entrando no alforje da deputada.