Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 1 de julho de 2011

O novo baiano


Sexta, 1 de julho de 2011
 Por Ivan de Carvalho

O governador Jaques Wagner, nascido no Rio de Janeiro em 1951, recebeu ontem o título de Cidadão Baiano honorário, concedido pela Assembléia Legislativa por proposta da ex-deputada petista Moema Gramacho, atualmente prefeita de Lauro de Freitas. O projeto de resolução foi aprovado em dezembro de 2004, quando Paulo Souto, então no PFL, era governador da Bahia e tinha, como representante do carlismo no governo estadual, sólida maioria no Legislativo.

            Quando da aprovação do projeto de resolução que concedeu o título, Wagner integrava o governo Lula, mas não havia assumido ainda o cargo que mais lhe deu relevo na área federal, o de ministro das Relações Institucionais, no qual teve desempenho considerado excelente, de grande importância para um governo que enfrentava a difícil fase criada com o caso do Mensalão e marchava para uma eleição presidencial, em 2006, na qual Lula acabou conseguindo a reeleição.

            O título de Cidadão Baiano foi concedido no final de 2004, mas a entrega suspensa por motivos políticos – as relações do carlismo e mais especialmente de Antonio Carlos Magalhães com o governo Lula se deterioram. O ex-ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, era o responsável pela frágil, mas interessante para ambos, ligação entre ACM e o governo Lula. A crise do Mensalão mudou muitas coisas e, inclusive, Dirceu teve que deixar o governo.

Além disso, como ministro das Relações Institucionais, Wagner despontava como um possível – o mais provável, já que o prefeito João Henrique não demonstrava a ousadia suficiente para aceitar o desafio – candidato das oposições baianas a governador nas eleições de 2006, quando Paulo Souto tentaria a reeleição. Então fazia sentido, politicamente, como uma precaução do carlismo, engavetar o título.

Curioso é que Wagner atravessou todo um mandato de governador e só agora, já no segundo mandato neste cargo, lembraram-se ou decidiram-se a consumar, com a festa da entrega do diploma (talvez seja mais próprio dizer certidão), a situação de baiano honorário.

Qual o futuro político do “novo baiano”? Certamente que este é assunto que a Deus pertence, mas hipóteses podem ser imaginadas. A primeira é que, considerando, por motivos vários e óbvios, nulas as chances de José Dirceu, Wagner é o terceiro nome na fila do PT para a presidência da República. Há algum tempo (já depois de deixar o governo) o próprio Lula citou o possível plantel do PT para 2014: “Tem a Dilma, eu, o Jaques Wagner...” e parou aí. Lula e Dilma ou Dilma e Lula são os dois primeiros da fila. Para saber por quanto tempo essa “fila” permanecerá sem mudanças só consultando os adivinhos.

Além da hipótese muito remota de uma candidatura presidencial em 2014 (mas que pode não ser tão improvável mais adiante), o “novo baiano” tem alternativas mais concretas e objetivas a examinar. Ontem mesmo ele as enunciou. “Eu posso ser candidato a deputado federal”, disse, para desmontar a idéia de que será necessariamente candidato a senador. Isto porque só haverá uma cadeira para senador pela Bahia em 2014 e pode ser problemático (mas não pode ser descartado) o PT colocar na chapa majoritária dois petistas, um para governador, outro para senador, reservando apenas o cargo de vice-governador para ser disputado a tapas pelos vários partidos aliados.

Além das alternativas de ser candidato ao senado ou a deputado, Wagner sugere que “eu posso até não ser” candidato. Permanecer no governo até o último dia do mandato. Bem, certamente que esta não é a alternativa preferida. É só para se não tiver outro jeito. Pode ser que esteja falando isso (pela segunda vez publicamente) apenas para acalmar os companheiros.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta sexta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.