Quinta, 6 de
dezembro de 2012
Por Ivan de
Carvalho

O neto de Tancredo Neves fez
uma breve observação que dava a impressão de que ia pensar para decidir, quando
na verdade faz tempo que não pensa decididamente em outra coisa senão a
candidatura a presidente da República. Mas é estratégico não dar formalmente a
candidatura por consumada, seja para não ferir susceptibilidades no próprio
partido e quem sabe no conjunto das oposições, seja para não se tornar
imediatamente alvo da artilharia dos adversários.
Mas a estratégia do senador e
ex-presidente da Câmara dos Deputados já está bastante definida. Ele deverá
eleger-se presidente nacional do PSDB, embora alguma resistência a isso exista
no grupo tucano paulista, onde se imagina que o cargo poderia ser dado a José
Serra como forma de mantê-lo numa posição ativa na política.
Aécio, no entanto, quer e
precisa da visibilidade que o cargo de presidente do PSDB lhe acrescentará,
pois por enquanto não é um nome amplamente conhecido pelo eleitorado nacional,
restringindo-se sua popularidade quase que somente a Minas Gerais. A liderança
popular que tem no país ainda não corresponde à liderança política de que
desfruta no Congresso, em Minas, no seu partido e no conjunto das oposições.
Sem contar os sonhos
remanescentes de José Serra, Aécio sabe que existem dois ou três políticos em
seu caminho – a presidente Dilma Rousseff, que pode concorrer à reeleição;
Lula, também do PT, que eventualmente pode impor-se como candidato (apesar de
atropelado pelo julgamento do Mensalão e pelo novíssimo e explosivo escândalo Rosemary
Noronha, dois acontecimentos que têm tudo para tornar sua caminhada de volta à
Presidência uma via crucis); e,
finalmente, o presidente do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que
poderia lançar-se à batalha, a depender das circunstâncias.
Sob a perspectiva de hoje,
algumas circunstâncias em que se realizarão as eleições gerais de 2014,
especificamente as presidenciais, são verdadeiras incógnitas. Principalmente as
que dizem respeito às condições econômicas e financeiras do país e,
consequentemente, a avaliação positiva ou negativa do governo federal (e,
secundariamente, dos estaduais).
Note-se que o Produto Interno
Bruto brochou (desculpem a palavra, mas, em relação ao que diziam as
autoridades econômicas para animar a patuleia, ela é a mais apropriada). O
mesmo se pode dizer do superávit primário e da balança comercial. Já a inflação
e a dívida pública (apesar da redução dos juros) estão numa animação de
velhinho que tomou Viagra. E para que o consumo não desabe e a indústria ganhe
alguma competitividade em um mercado internacional severamente retraído, o
governo está aplicando adrenalina na forma de desoneração “pontual” de tributos
e redução de tarifas, a exemplo das cobradas pela energia elétrica. Enquanto
isso, a fonte de “receitas” dos Estados para investimento passou a ser
empréstimos do BNDES.
Juntando essas coisas e a
possibilidade, que não é pequena, de uma piora importante na crise econômica
européia, com seu efeito de arrasto nos Estados Unidos e, assim, no mundo todo,
não está descartada a hipótese de que o governo, apesar do excelente comando de
marketing que tem e da exploração de coisas como o Bolsa Família (que José
Dirceu achou bom porque, segundo as contas dele, são 40 milhões de votos),
chegue ao período eleitoral de 2014 aos cacos.
Nesse caso, as coisas não
seriam para Aécio tão difíceis quanto parecem agora.
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Este artigo foi publicado originariamente na
Tribuna da Bahia desta quinta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.