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(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 25 de março de 2013

Em parecer da PGDF, Secretaria de Saúde do DF desviou recursos e fez aquisições indevidas

Segunda, 25 de março de 2013
Documentos obtidos com exclusividade mostram que a Secretaria de Saúde não segue orientação do Governo Federal e adquiri equipamentos incorretamente e desperdiça dinheiro. Além de utilizar recursos do SUS de forma indevida Foto: Marcelo Ferreira/CB

Pareceres da Procuradoria Geral do Distrito Federal (PGDF) suspeitam que a Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES) tenha desviado recursos públicos e pago a mais por aparelhos importados. Os documentos, os quais o Guardião Notícias - mesmo grupo Guardian - teve acesso, detalham contratos feitos pela SES, em que há, também, possível direcionamento em licitação.

Em um dos pareceres, relacionados à Nota de Empenho 2012NE04595, a Secretaria adquiriu implantes e materiais especiais da empresa Medical Shop que não são contemplados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Entretanto, o órgão usou recursos do Sistema para comprar os aparelhos. No entendimento da PGDF, isso configura desvio da verba.

Pior: a SES desperdiçou dinheiro público, já que os aparelhos não são nacionais. “Ao analisar a nota fiscal emitida pela empresa Medical Shop, pode-se constatar que se trata de materiais importados, de forma que a Secretaria de Saúde deveria ter providenciado licitação com vistas a adquirir o produto por importação, utilizando a isenção de impostos a que faz jus”, sustenta o parecer.

“A aquisição de forma acelerada, evitando-se Licitação e excluindo a possibilidade de importação certamente trouxe prejuízos ao erário”, alerta a Procuradoria.

No documento da Procuradoria constam as alegações dadas pela Secretaria ao órgão. No caso desta compra, o procedimento teve o crivo de três servidores da pasta. A argumentação da SES é de que foram comprados materiais com o objetivo de serem utilizados para pacientes judicializados. Ou seja, que tinham determinação do judiciário para realizar algum tipo de tratamento.

Ainda nas justificativas, a Gerência de Órteses e Proteses da Secretaria fez uma espécie de mea culpa. “Considerando que alguns processos regulares de aquisição desses implantes ainda não foram finalizados pelo setor competente por dificuldades administrativas”, ressaltou.

Contradição - Porém, ao argumentar que era para pacientes judicializados, a SES não anexou a lista dos beneficiados e nem as determinações judiciais foram encaminhadas. Os servidores responsáveis ainda entram em contradição. Depois desta justificativa, a PGDF enviou novamente o questionamento e a resposta recebida foi diferente. O motivo da compra dessa vez era para realizar mutirões do Ministério da Saúde.

Todo o processo foi realizado por meio de Ata de Registro de Preços. Como funciona: o governo lança, no Diário Oficial e por email, a intenção de comprar materiais com suas respectivas especificações. As empresas contatadas mandam as propostas. Nesta compra, duas das fornecedoras que foram convidadas não vendem os materiais e em uma simples consulta em seus sites provam claramente isso, segundo parecer da PGDF.

No entendimento do judiciário, “a conduta do responsável (...) demostra desídia da administração, podendo ser entendida como má fé, vez que não foram consultados os fornecedores de órteses e próteses cadastrados na Secretaria de Saúde”.

O mais intrigante é que a única proposta válida pertenceu à empresa Centro-Oeste Implantes e segundo apurações do PGDF, ela pertence aos mesmos sócios da empresa Medical Shop, que foi a detentora da Ata.

Para a Procuradoria, os gestores da SES não observaram a Lei de Responsabilidade Fiscal ao não apresentar o relatório de impacto e de adequação orçamentário-financeiro da despesa, além de não informar a compatibilidade com o pano plurianual e a Lei de Diretrizes Orçamentária (LDO).

Na conclusão do relatório, o órgão elencou cinco irregularidades no contrato. Uma delas é que não foi comprovada a compatibilidade de preços, já que não foram consultadas empresas, fornecedoras dos mesmos equipamentos e que são cadastradas no SUS. Por isso, o documento classifica como desvio de recursos por parte da SES por que usou dinheiro do SUS para adquirir equipamentos não cadastrados neste Sistema do governo federal. A PGDF sugere ainda a representação junto ao Tribunal de Contas da União (TCU).

A segunda parte desta reportagem será publicada nesta terça-feira, 26.

Por Elton Santos

Da Redação do Guardian Notícias