Quarta, 30 de outubro de 2013
Helio Fernandes
Tribuna da Imprensa
Antes de mais nada, os royalties obrigatórios. Essa entrevista foi
concedida pelo ex-diretor de Produção da Petrobras à repórter Eleonora
de Lucena, diretora-executiva da Folha. Publicada em página inteira pelo
jornal anteontem.
Entendi que quanto mais fosse retumbada a palavra de um geólogo tão
respeitado, melhor para o país. E como Eleonora de Lucena fez
entrevista, e não biografia, não precisei pedir autorização.
Li e reli a entrevista antes da repórter transformá-la em biografia. E
selecionei dez pontos que facilitam o conhecimento. Observação minha,
nesta matéria, apenas o fato estranho: “Por que Dona Dilma fez tudo sem
ouvir, rápido que fosse, um estrategista como Guilherme Estrella?”
Tudo, a partir de agora (mesmo sem aspas), afirmações de Guilherme
Estrella. A entrevista deveria ser distribuída pelo Brasil inteiro,
começando na escola primária, até as universidades. E lida por todos.
DEZ ITENS
Selecionei dez itens dessa grande entrevista, para facilidade:
1 – No mundo atual, apenas proteger a tecnologia não é o objetivo das
grandes petrolíferas. O esforço maior: garantir a condução das
operações, para permitir a inovação contínua.
2 – As reservas de Libra são estratégicas. E o Estado deveria ter
contratado a Petrobras para operá-las cem por cento, foi a empresa que
descobriu as reservas.
3 – As grandes empresas petrolíferas mundiais representam e defendem
os interesses dos seus países. A Petrobras deveria ter o mesmo objetivo e
o mesmo direito.
4 – Estrella, como diretor de Produção da Petrobrás no governo Lula,
sempre defendeu a participação total e exclusiva da empresa, em todos os
setores. Mapeou a megarreserva do pré-sal que foi a leilão, mas fez
resistências à forma da partilha.
5 – Não esconde e até alerta. Existirão problemas no próprio
consórcio que vai extrair o petróleo. Libra deveria ser operada sozinha
pela Petrobras. Foi ela que descobriu as reservas, mapeou a estrutura de
Libra, perfurou os poços descobridores. Como empresa controlada pelo
Estado, a Petrobras deveria ter sido contratada diretamente.
6 – Energia é fator crítico da soberania e do desenvolvimento de
qualquer país. Há, portanto, um potencial conflito de interesses
geopolíticos. Absolutamente inerentes à presença de estrangeiros numa
gigantesca reserva petrolífera como é Libra. Se vai eclodir, não sei.
Mas que está lá, está.
7 – Minhas críticas se concentram no aspecto estratégico. Trata-se de
gigantesco volume de petróleo, agora compartilhado com sócios que
representam interesses estrangeiros, de potências estrangeiras. Nesse
alinhamento com o posicionamento geopolítico de potências, um país
emergente da importância do Brasil não tem a menor garantia.
8 – Não conheço a racionalidade econômico-financeira que levou aos
41,65% do petróleo, a ser entregue ao Brasil. Fantástico! Como geólogo,
não entendo como chegaram a essa precisão! Acusar de xenófobos aqueles
que defendem esta posição é injusto, equivocado e apequena a dimensão
estratégica do assunto,
9 – O caráter estratégico das reservas petrolíferas é inquestionável.
Não se invadem e ocupam militarmente países soberanos em qualquer lugar
do planeta. Mas as grandes reservas de óleo e gás natural são
diferentes. O pessoal do Iraque, da Argélia, da Nigéria, da Líbia, do
Egito, sabe disso na pele.
10 – As monarquias medievais, absolutistas e repressoras da Península
Arábica são mantidas pelos mesmos motivos. Assegurar reservas de
petróleo e gás natural às grandes potências hegemônicas ocidentais.
(Tudo isso dito por um homem que, além de diretor de Produção da
Petrobras, é “petrobrasista” desde sempre. Teve que se aposentar por ter
completado 70 anos em 2012. Estive com ele apenas uma vez, na sede da
Aepet. Ele diretor da empresa na Avenida Chile, a Aepet logo na esquina.
E eu, sem ser engenheiro, tinha “passaporte” para frequentar. E dava
entrevistas gravadas, que a Aepet distribuía para o Brasil todo, não
podia para o Rio e São Paulo. Nos tempos gloriosos da presidência de
Fernando Fortes, não confundir com Fernando Siqueira),
PS – A Aepet publicava essas matérias sobre a Petrobras em mais
de 300 repetidoras pequenas, no interior, não havia dinheiro para voos
mais altos.
PS2 – Por que eu, sem qualquer remuneração? Por ser sempre “petrobrasista” público e assumido.
PS3 – Ocupando esse espaço de satélite, UHF, da forma que fosse possível.