Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Ouriço no PT da Bahia

Segunda, 26 de novembro de 2013
Por Ivan de Carvalho
No sábado, o senador Walter Pinheiro, líder do PT no Senado, promoveu em Salvador um evento politicamente muito expressivo, com o objetivo evidente de demonstrar que ele e os adeptos petistas de sua candidatura a governador estão ativos e envolvidos na batalha que se trava dentro do partido pela escolha do nome que o representará nas eleições de 2014 na tentativa da legenda de conseguir para um filiado seu o terceiro mandato consecutivo de governador da Bahia.
        No fim de semana anterior, outro aspirante petista ao governo, José Sérgio Gabrielli (ex-candidato a governador, ex-presidente da Petrobrás e atual secretário do Planejamento) teve seu próprio evento, com objetivo idêntico ao produzido no último sábado pelo senador Walter Pinheiro – afirmar a postulação, mostrar que está na batalha e dar a demonstração de força possível.
        Gabrielli até foi um pouco mais longe que Pinheiro, ao tomar uma iniciativa que não dá para caracterizar como meramente burocrática, mas sim como ostensivamente política. Formalizou a pré-candidatura com uma carta entregue ao comando estadual do PT, comunicando que postula representar a legenda nas eleições para governador e pedindo que seu nome seja levado à avaliação do diretório estadual.
        O outro aspirante petista confirmado ao governo é o secretário-chefe da Casa Civil do governo do Estado, deputado Rui Costa, mas ele – sob a sombra do governador, que neste caso tem parecido mais densa que a de Lula, estimulador político da candidatura de Gabrielli – vem preferindo atuar nos bastidores, aliás, com muito afinco.
        O quarto aspirante era o duas vezes ex-prefeito de Camaçari, ex-coordenador geral da campanha eleitoral de Wagner para o governo e ex-presidente da UPB, Luiz Caetano, que fez todo o esforço possível para consolidar sua pretensão de disputar o governo baiano no ano que vem, mas profere, no momento, um discurso que dá todas as indicações de que foi convencido (imagino, não juro) pelo governador a mirar outro alvo.
        Caetano está falando sem parar em consenso, em fórmula que leve à unidade e marcou, coincidentemente, para o dia 29 um evento em que anunciaria sua posição oficial e final. Está oficialmente previsto para o dia 30, pela direção do PT, o anúncio do nome que representará o partido (e o governo) nas eleições para a sucessão de Wagner. O que se diz e repete sem desmentidos até aqui é que, no dia 29, Caetano anuncia sua desistência (trocando a candidatura a governador pela candidatura a uma cadeira na Câmara federal) e seu apoio a Rui Costa. Isto, na véspera do evento do dia 30, supõe-se que para causar impacto. Uma suposição um pouco fajuta, não porque Caetano não seja uma liderança petista expressiva, que é, mas porque anunciar o que todo mundo já sabe não impacta coisa alguma.
        Bem, voltando aos eventos e demais iniciativas de José Sérgio Gabrielli e Walter Pinheiro – das quais participaram petistas, mas também com direito à presença de lideranças governistas de outros partidos governistas – a firme impressão que fica é a de que, ainda que o partido reconheça no governador Jaques Wagner a condição de “condutor do processo” – que ele proclama abertamente e, na real, não se lhe pode negar, os petistas estão querendo mostrar que condutor é uma coisa e dono é outra. Usando esta ou outra palavra equivalente, Wagner já disse isso mesmo, que é condutor, mas não é dono. Parece que este é o entendimento que alguns postulantes e tendências petistas querem transpor do mundo das ideias ao mundo real.
        EM TEMPO 1 – Note-se a luta entre o PDT e o PP (outra forma de dizer é entre o presidente da Assembléia Legislativa, Marcelo Nilo e o presidente estadual do PP, Mário Negromonte) pela candidatura a vice-governador na chapa governista. Há cerca de mês e meio, o PDT e Marcelo Nilo (este é, oficialmente, candidato a governador, mas seu partido aceita outro lugar na chapa às eleições majoritárias) promoveram um importante evento numa churrascaria. Ontem, no Hotel Matiz, foi a vez do PP e Mário Negromonte fazerem a mesma coisa.
        EM TEMPO II – A ministra baiana Eliana Calmon pediu sua aposentadoria no Superior Tribunal de Justiça a partir de 18 de dezembro. Compulsoriamente, só teria de sair no fim do ano que vem. A decisão consolida sua candidatura ao Senado pelo PSB da Bahia e, automaticamente, aumenta a distância entre este partido e o PT no Estado.
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Este artigo foi publicado originariamente na Tribuna da Bahia desta terça.

Ivan de Carvalho é jornalista baiano.