Domingo, 26 de junho de 2016
Mariana Tokarnia – Agência Brasil
Apenas 4,5% das escolas públicas do país têm todos os itens de
infraestrutura previstos em lei, no Plano Nacional de Educação (PNE), de
acordo com levantamento feito pelo movimento Todos pela Educação. As
condições de infraestrutura são mais críticas no ensino fundamental,
etapa que vai do 1º ao 9º ano: 4,8% das escolas possuem todos os itens.
No ensino médio, a porcentagem sobe para 22,6%.
O levantamento
foi feito com base no Censo Escolar de 2015 e levou em consideração o
acesso a energia elétrica; abastecimento de água tratada; esgotamento
sanitário e manejo dos resíduos sólidos; espaços para a prática
esportiva e para acesso a bens culturais e artísticos; e, equipamentos e
laboratórios de ciências. Foi considerada ainda a acessibilidade às
pessoas com deficiência.
Entre os itens mais críticos estão o
laboratório de ciências – presente em apenas 8,6% das escolas públicas
de ensino fundamental e 43,9% de ensino médio – e a quadra esportiva –
presente em apenas 31% de todas as escolas públicas. Fatores básicos,
como acesso à água tratada e esgoto sanitário, ainda não são universais,
sendo verificados, respectivamente, em 91,5% e 37,9% das escolas
públicas.
"O percentual de escolas bem equipadas é super baixo.
Em muitos casos estão questões básicas como água potável e esgotamento.
Esse percentual não melhora notavelmente. O investimento nas escolas sem
dúvida vai estar prejudicado com crise econômica", diz a
superintendente do Todos Pela Educação, Alejandra Meraz Velasco.
Os
itens são determinados no PNE, Lei 13005/2014, que estabelece metas e
estratégias a serem cumpridas pelo país da educação infantil a
pós-graduação, até 2024. O PNE estabelece também uma estratégia
intermediária, de dois anos de vigência (prazo que terminou na última
sexta-feira), quando o país deveria ter definido parâmetros mínimos de
qualidade dos serviços da educação básica. Esses parâmetros seriam
utilizados como referência para infraestrutura das escolas, recursos
pedagógicos, entre outros insumos relevantes, bem como instrumento para
adoção de medidas para a melhoria da qualidade do ensino. No entanto,
isso não foi feito.
"Esses parâmetros servirão de referência para
a infraestrutura e demais insumos. A partir deles, poderíamos definir
outra questão do plano, que é o financiamento com o CAQi [Custo
Aluno-Qualidade inicial]", diz Alejandra. Os itens já expressos na lei
deverão estar presentes nas escolas até 2024. A definição clara de
parâmetros de qualidade, no entando, poderá orientar melhor a
infraestrutura e os gastos com educação.
Segundo Alejandra,
enquanto alguns aspectos do PNE – como o financiamento e a Base Nacional
Comum Curricular – têm mais destaque, o básico, que é definir uma cesta
de insumos necessários, não tem sido discutido. Na opinião dela,
trata-se de um assunto complexo e que varia conforme cada localidade do
país. "Vai depender de itens que são necessários em diferentes lugares,
de condições climáticas distintas. Isso que não vem sendo discutido,
como lidar com a desigualdade no pais. Têm redes mais estruturadas, têm
outras que precisam começar do zero, mesmo dentro das grandes
metrópoles".
Estrutura x Qualidade
Não há
uma comprovação unânime entre os estudiosos de que melhor
infraestrutura significa necessariamente maior qualidade da educação.
Para o professor da Universidade de Brasília Joaquim Soares Neto, no
entanto, esse fator faz diferença no contexto brasileiro.
"Na
realidade brasileira, infraestrutura está sim relacionada com qualidade
de ensino. Temos uma grande desigualdade de infraestrutura e
infelizmente as escolas menos equipadas atendem os alunos mais carentes.
Os alunos vêm com uma dificuldade devido a diversos fatores e ainda
chegam em escolas menos preparadas", diz. Soares, que é membro do
Conselho Nacional de Educação (CNE) e já foi presidente do Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
Em 2013, Soares divulgou um estudo
no qual cria uma escala para os itens de infraestrutura presentes na
escola. Segundo o levantamento, a maior parte das escolas brasileiras
(84,5%) apresenta uma estrutura elementar ou básica. Isso significa que
tem apenas itens como água, banheiro, energia, esgoto e cozinha.
Na
outra ponta, 0,6% das escolas apresenta uma infraestrutura considerada
avançada, com sala de professores, biblioteca, laboratório de
informática, quadra esportiva, parque infantil, além de laboratório de
ciências e dependências adequadas para atender a estudantes com
necessidades especiais.
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Metas do PNE para ensino médio não serão cumpridas se ritmo atual for mantido
Mariana Tokarnia - da Agência Brasil
As metas previstas no Plano Nacional de
Educação (PNE) para o ensino médio não serão cumpridas se o país
mantiver o atual ritmo de inclusão de estudantes e de adequação de idade
com a série cursada. De acordo com projeção feita pelo Instituto Aytron
Senna, até o final da vigência da lei, em 2024, mantido o cenário
atual, o Brasil ainda terá que incluir mais de 10% dos jovens na etapa.
Para cumprir as metas, o principal desafio é tornar a escola mais
atrativa.
Pelo
PNE, lei que estabelece metas e estratégias desde o ensino infantil à
pós-graduação para até o final deste ano, todos os estudantes de 15 a 17
anos deverão estar na escola e, até 2024, pelo menos 85% desses
estudantes deverão estar na idade correta, ou seja, no ensino médio.
Segundo levantamento do Instituto Ayrton Senna, se mantivermos o atual
ritmo, em 2024, sairemos dos atuais 84,3% para cerca de 88% dos jovens
nessa idade na escola. Desses, atualmente, 58,6% estão na etapa correta.
Em 8 anos, serão pouco mais de 70%, ou seja, ainda distante da meta
prevista no PNE (85%).
"O ensino médio é na minha visão o grande
desafio da educação brasileira", diz o diretor de articulação e inovação
do Instituto Ayrton Senna, Mozart Neves Ramos. Segundo ele, na etapa,
não basta os pais obrigarem os filhos a irem a escola, as aulas devem
ser atraentes para que esses jovens tenham interesse em manter os
estudos. "A escola hoje está distante dos anseios desse jovem.
Precisamos de uma escola que possa desenvolver os anseios dele, seja
para ingressar no ensino superior, seja oferecendo educação profissional
para preparar para o mundo do trabalho", complementa.
Prova do desinteresse é o desempenho dos jovens na etapa de ensino. Atualmente, 27,2% têm o aprendizado adequado em português e somente 9,3%, em matemática. De acordo com Ramos, o inchaço de disciplinas e a falta de professores formados nas áreas em que atuam contribuem para o desinteresse.
Estados e regiões
O
levantamento, feito com base nos dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) e indicadores educacionais do Ministério
da Educacação (MEC), mostra também que houve melhora no país,
consideradas as diferentes regiões. Norte e Nordeste foram as regiões
que mais avançaram na inclusão de jovens de 15 a 17 anos na escola, mas
foram as regiões também que partiram dos piores patamares.
No
Norte, em 2004, 78,6% desses jovens estavam na escola; em 2014, a
porcentagem subiu 5,47%, alcançando os atuais 82,9% - ainda abaixo da
média brasileira. No Nordeste, passou de 78,9% para 83,2%. No outro
extremo, Sudeste ultrapassa a média nacional, com 86,5% dos jovens na
escola, porém o crescimento, foi o mais baixo, de 1,23% desde 2004,
quando tinha 85,4% dos jovens na escola. O Sul passou, no mesmo período,
de 81,7% para 82,8%; e o Centro-Oeste, de 79,9% para 81,9%.
Na
análise de Ramos, é mais fácil aumentar indicadores que estão mais
baixos do que aqueles que já estão mais elevados e exigem um esforço
maior. Ele aponta também questões financeiras como o Fundo de Manutenção
e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais
da Educação (Fundeb) e incentivo ao ensino médio em tempo integral, que
são calculados de acordo com o número de matrículas como incentivos à
inclusão. "Houve um esforço grande de inclusão, principalmente no Norte e
Nordeste", diz.
Distrito Federal (89,6%), Rio de Janeiro
(87,4%), Minas Gerais (86,7%) e São Paulo (86,5%) têm os melhores
indicadores de inclusão. Pará (84,5%), Maranhão (85,1%), Pernambuco
(81,6%) e Piauí (85,5%) tiveram os maiores saltos em dez anos. Tiveram,
respectivamente, um aumento de 11,2%, 8,9%, 8% e 6,9% nas matrículas.
Reformulação
Na
avaliação do secretário de Educação da Paraíba, Aléssio Trindade de
Barros, que é vice-coordenador do grupo de trabalho de ensino médio do
Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), ao contrário da
educação infantil, etapa em que faltam vagas, as escolas de ensino médio
têm vagas para atender todos os estudantes. É necessária, no entanto,
uma reforma estrutural. "O ensino médio deve ter trajetória fexível,
deve ter possibilidade de formar tanto para o ensino superior quando
para cursos técnicos e profissionais. Essa nova agenda tem que ser
colocada em prática, o ensino médio é conteudista e as disciplinas são
descontextualizadas".
Segundo ele, o Consed aposta na aprovação
do Projeto de Lei 6.840/2013, que trata da reformulação do ensino médio.
O secretário defende ainda que é necessário o apoio do MEC para que os
estados possam melhorar a infraestrutura das escolas.
O projeto
de lei que tramita na Câmara do Deputados aguarda votação em plenário.
Segundo o deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), que foi presidente da
Comissão Especial destinada a promover estudos e proposições para a
reformulação do ensino médio, nesta semana, deverão ser convocadas
entidades que atuam no setor para dialogar sobre a apresentação de um
substitutivo. O Consed enviou à Casa uma proposta que deverá ser
unificada com os interesses de outros atores e ser apresentada em
plenário. A expectativa, de acordo com o deputado, é que a votação
ocorra até o final do ano.
MEC
O
MEC informou, em nota, que considera que as ações da gestão anterior
foram pulverizadas e não mostraram os resultados esperados para a etapa
de ensino. Apesar disso, diz que nenhum programa da pasta será
abandonado. "A nova equipe, conforme afirmou o ministro Mendonça Filho,
terá como prioridade a reforma do ensino médio".