Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Questões Transversais e a Banca

Sexta, 28 de setembro de 2018
Por
Pedro Augusto Pinho

“Segundo o Ministério da Educação (MEC), são temas que estão voltados para a compreensão e para a construção da realidade social e dos direitos e responsabilidades relacionados com a vida pessoal e coletiva e com a afirmação do princípio da participação política. Isso significa que devem ser trabalhados, de forma transversal, nas áreas e/ou disciplinas já existentes. Os temas transversais, nesse sentido, correspondem a questões importantes, urgentes e presentes sob várias formas na vida cotidiana.

Com base nessa ideia, o MEC definiu alguns temas que abordam valores referentes à cidadania: Ética, Saúde, Meio Ambiente, Orientação Sexual, Trabalho e Consumo e Pluralidade Cultural. No entanto, os sistemas de ensino, por serem autônomos, podem incluir outros temas que julgarem de relevância social para sua comunidade” (Ebenezer Takuno de Menezes, educabrasil, janeiro de 2001).

Poderíamos simplificar este conceito didático para um conceito social restrito, ou seja, as questões transversais dizem respeito a igualdade de gênero, opções sexuais, aceitação de raças não predominantes e a proteção da natureza e defesa ambiental.

As questões econômicas, exceto pela generalidade da luta contra miséria, não ocupam as questões transversais, assim como as questões político-ideológicas. Busca-se colocá-las como questões civilizacionais. Ironizando, de “boas maneiras”, bom senso e bom gosto, uma Questão Coimbrã, surgida quase um século depois, sem os talentos literários de António Feliciano de Castilho e Antero de Quental.

Com estas questões, a luta de classe, a opressão de um sistema econômico concentrador de renda, a ditadura midiática deixam o primeiro plano da questão social para discutirmos uma sociedade civilizada, respeitosa das diversidades e protetora do meio ambiente.

A transformação destes temas em debate político foi uma das inteligentes estratégias do sistema financeiro internacional (banca) para derrotar o sistema industrial, capitalista ou socialista.

No século XIX, o desenvolvimento do conhecimento científico, além do progresso técnico e industrial, também aumentou a cultura sobre o ambiente natural. Nosso propósito é uma reflexão política, assim não enumeraremos as múltiplas manifestações naquele século. Resumimos no cientista Charles Darwin, no filósofo Henry David Thoreau e no escritor e artista John Ruskin, as expressões em prol da natureza.

O evento importante da virada de mesa promovida pela banca ocorreu em 1966 com a criação do Clube de Roma. A banca formava uma instituição, com participação de várias personalidades, de diversos países, para dar suporte a sua luta contra a industrialização. São membros honorários: Cândido Mendes de Almeida, Fernando Henrique Cardoso e Helio Jaguaribe, ao lado de Mikhail Gorbachov, Enrique Eglesias, Cesar Gaviria, Rigoberta Menchú etc.

Publica, em 1972, os “Limites do Crescimento”, elaborado por equipe do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). Podemos ver que a academia e a banca já faziam parceria. Esta irá se expandir e também o domínio dos veículos de comunicação de massa ficarão dependentes da banca.

Armam-se, então, pensamento e divulgação, para que passemos a ter nossos interesses, por absurdo que sejam, pautados pela banca.

A questão do feminismo, da opção sexual, da discriminação, seja qual for, passa a ser mais relevante do que o emprego e o pão nosso de cada dia.

A banca, mostrando que seu reino não é deste mundo, atrai os espectros políticos da esquerda à direita, desde que contraiam dívidas e coloquem o pagamento dos juros acima de todas as coisas.

A democracia parlamentar burguesa, para a banca, é melhor do que ditaduras militares, pois resolve suas questões com sua grande especialidade: o uso do dinheiro. Corromper é um custo a mais para taxa de juros, para o prazo, ou para os encargos da dívida.

Formam, a latere das instituições públicas, as verdadeiras estruturas de poder. E, também, dos controles institucionais privados, pois a quase totalidade das grandes empresas internacionais são propriedades de fundos de investimento, com trilhões de dólares em seus ativos.

Entramos nos últimos dias da campanha para eleições em 2018. Serão escolhidos os membros do legislativo e executivo nacional e dos estados brasileiros.

Discute-se a apropriação e destinação das riquezas nacionais, dentre elas a maior reserva de petróleo descoberta no mundo nestes últimos 50 anos, em costas brasileiras? Discute-se o uso conhecimento nacional da tecnologia aeroespacial para o desenvolvimento industrial brasileiro? Discutem-se os critérios para exploração mineral, em especial do nióbio e terras raras, abundantes em nosso território? Discute-se o controle do capital financeiro sobre as decisões econômicas e da ausência da indispensável auditoria da dívida pública e privada do País?

Não, nada disso é relevante. Nem mesmo o emprego, que falta para mais de 20 milhões de brasileiros? Nem os atendimentos preventivos e curativos da saúde para dezenas de milhões de pessoas, de todas as idades. Nem o ensino, nem a garantia financeira para o envelhecimento, nem as seguranças dos direitos, da vida e do patrimônio.

Concentra-se a discussão na homofobia, no machismo e na agressão de um candidato às mais numerosas parcelas da população, como se fosse a luta da civilização (que é a garantia dos direitos, da existência digna, como dever do Estado) contra a barbárie, de alguém incapaz de articular um pensamento completo, com argumentos minimamente esclarecedores.

Sem demérito para as questões transversais, mas colocando-as na relatividade frente à profunda crise política, das instituições e da afirmação nacional, na qual vivemos, afirmamos: a banca já venceu esta eleição. Aguardamos seu próximo passo que poderá ser a destruição do Estado Nacional Brasileiro.

Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado